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Contos-->UM OLHAR PARA DENTRO -- 06/08/2002 - 16:54 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UM OLHAR PARA DENTRO



“Por mais que na batalha, o vencedor
ganhe de todos os inimigos, a maior
vitória, é a vitória sobre si mesmo”
BUDA.


Todo o santo dia, à mesma hora, no mesmo tom de voz. Ele senta-se e inicia o mesmo ritual. O escritório o sobrecarrega 12 horas de trabalho diárias; mas a frugal alimentação, o transforma quase que num monge budista. Seu ritual zen, o diferencia dos demais companheiros a quem, excepcionalmente, apenas interessam o hedonismo, a ostentação e o desperdício. Ele, não. A si, importam as coisas transcendentes do mundo; esse mundo do qual faz parte, e com o qual há que conviver com belezas, fealdades, vícios e virtudes. Olham-no como um peixe fora d’água, um messiânico, um marginal, na acepção escorreita da palavra. Escolhera as doutrinas orientais e, nelas, a doutrina zen-budista, em particular. Às seis e trinta da noite, quer chova ou não, ele se entrega à sua cerimônia privada, sob a luz de velas no aconchego de seu dormitório. A lembrança de um passado recente, o peso de seu desfecho, deixam-no voltado para o transcendente, além da existência física, acima da realidade.
As sombras do passado, passeiam estáticas pela casa, onde habitara junto à família: mulher e dois filhos menores. Guarda consigo mentalmente, no fundo d’alma, as imagens de uma desgraça inevitável, uma paixão que carregará até o derradeiro suspiro. As marcas indeléveis do acidente daquela noite, espalham-se ao longo das costas em cicatrizes que o tempo não transformará.
Foram dias difíceis, cruéis, densos demais. O coma no hospital, a incerteza do presente e o susto inescapável, ao saber que todos morreram, exceto ele, a quem mais tarde, se consideraria morto, “neste invólucro inútil”. Uma perda não se substitui com o desespero, mas com a força vital que todos trazem consigo, não se sabe como e porque. Difícil fora a reabilitação, gradativa e dolorosa.
A busca do eu interior teria sido a única maneira de superar as vicissitudes, a falta dos que amara tanto. Para sepultar definitivamente o fantasma do sentimento de culpa, começara a ler e praticar a meditação zen. Um amigo do escritório, de presença constante, lhe ensinara como superar a ausência dos que amamos incondicionalmente.
A meditação terá sido a forma mais eficaz, o meio mais humano, demasiadamente humano, para enfrentar a condenação a que todos os seres estão passíveis: estar vivos e merecer o beneplácito da existência. Por isso está ali, à mesma hora, a desempenhar o papel crucial da existência, com resignação, com sabedoria e coragem e praticar mais uma vez, em todos esses anos, um olhar para dentro de si mesmo.


WALTER DA SILVA
Aldeia, Camaragibe, agosto 2001.
Extraído de “22 CONTOS DE RÉS” ®


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