Eu,
como todos os poetas
escrevo estrofes
versos poemas,
que são um pouco
Eu
de existir
de sentir a doença
alastrar pelo corpo.
Na gaveta
folhas amontoadas
de grafas com frases esquecidas
entre a penumbra
do escuro mogno.
E é nesta escuridão
que as palavras
são diferentes,
respiram o bafo mofento,
viciado, não as deixa crescer
e as palavras jazem atrofiadas.
Eu,
como todos os poetas suspendo a alma.
Canto em tom de canseira
na imensidão da madrugada,
canto já em voz desfalecida
sem nunca pestanejar.
canto ao deus-dará
já ruco
de tão comprida
ilusão,
- este louco barafustar!
" Conselho"
Sê paciente, espera
que a palavra amadureça
e se desprenda, como um
fruto
ao passar o vento que a mereça"
Eugénio de Andrade, escritor e poeta Português
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