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Poesias-->O carrinho diferente -- 28/08/2002 - 21:22 (Airam Ribeiro) |
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Carrinho diferente
Ganhei um carrinho de presente
Com ele ganhei o poder de pensar,
Pois vivia no ambiente do automatismo
Das coisas comuns de cada lugar,
Coloquei sobre a mesa de trabalho
Nele, meus pensamentos iam viajar.
Ele é um carrinho diferente
Conseguiu mexer na minha memória,
A caneta, o grampeador e a cadeira
Não me fez retornar a minha história,
Eles estão ligados ao ambiente material
Ajudando-me a viver em minha rotina ilusória.
Mas este carrinho é diferente
Foi só um olhar, senti a emoção,
Fez cócegas na minha memória
Deu alegria a minha imaginação,
Pois nele volto ao mundo da infância
E faz pulsar mais forte meu coração.
Apenas uma lata de sardinha
A tampa foi dobrada inteligentemente,
E assim se produziu a capota
Formando o corpo do carro de repente,
Mas faltava as rodas para completar
E tudo estava a vista naquele ambiente.
A sandália havaiana quebrada
As rodas, veio o pensamento astuto,
Desbastou com uma faca improvisada
Fazendo o eixo com galho de arbusto.
Ei-lo, pronto! Um carrinho
Talvez feito por um menino culto.
Um menino que usou objetos imprestáveis
Construído e planejado na sua imaginação,
Quando olho o carrinho na minha mesa
Descubro dentro de mim a emoção,
E vejo o menino que mora em mim
Um menino que não existia até então.
Se fosse um carrinho comprado em loja
Estaria no automatismo do ambiente,
Seria um carrinho como outro qualquer
Que algum industrial comprou a patente,
Seria como o lápis, o grampeador e a caneta
Que fizera morador rotineiro na minha mente.
Não precisa perguntar muito para saber
Para saber que é pobre o autor do carrinho,
Pois se fosse rico o pai compraria um importado
Para dar asas ao pedido de seu filhinho,
A riqueza não faz bem ao pensamento
E com dinheiro se compra qualquer brinquedinho.
A pobreza faz o indivíduo se virar
Põe a matutar o pensamento no sonho de inventar,
O carro do pobre tem que ser parido
Pois este não tem dinheiro pra comprar,
Carro feito das coisas usadas do chão
Matéria prima muito fácil de achar.
Penso que este menino andava lá pela favela
Procurando algo sem saber mesmo o que queria,
Quando deparou com a lata de sardinha no lixo
Naquele momento uma idéia iluminaria,
A lata de sardinha virou uma outra coisa
Nos pensamentos uma coisa imaginaria.
O menino virou poeta e entrou em outro mundo
Fazendo uma coisa que não é, ser realidade,
Isto é aquilo no mundo das metáforas
Esta lata de sardinha é meu carro... gritou pra cidade,
Correndo de alegria viu a invenção realizada
Um sonho vivo para um menino de pouca idade.
A lata de sardinha ganhou outro nome
O menino sem saber executou uma transformação,
Ele dobrou a tampa se assentou ao volante
Tornou mágico seu ato de criação,
Cortou as rodas da sandália havaiana
E o eixo foi o arbusto que estava no chão.
O menino sabia ser forte, sabia pensar,
Pensava muito bem e bem concentrado,
Quando o sonho é forte o pensamento vem
O amor é o pai da inteligência, diz o ditado
E sem amor todo conhecimento fica adormecido
Sem amor nada cria e tudo fica estagnado.
E o menino sonhava como Deus
Que do nada criou tudo que aí está,
Este menino tomou o nada em suas mãos
Do nada fez o seu carrinho, bastou sonhar.
A poesia é de Airam Ribeiro 10/12/99
Extraído de um texto de Paulo Coelho.
Para os alunos da Faculdade Uneb - BaT
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