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Cronicas-->Negro Céu -- 28/05/2000 - 00:24 (Daniel Igor Dutra Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NEGRO CÉU

Como acontecia em quase todas as manhãs, acordei, me vesti, fiz minha toalete e me dirigi a cozinha para tomar o café. O que de anormal havia era o fato de ainda não estar o dia amanhecido, apesar de já serem mais de seis horas da manhã. Minha mãe e irmã também perceberam a escuridão, mas os compromissos não podem esperar; claro ou escuro, eram mais de seis horas, e tínhamos de sair para enfrentar o dia.

Do mesmo modo como eu estranhava a escuridão, todas as pessoas por quem eu passava no caminho da escola pareciam ter em mente pensamentos sobre o que deveria ser aquela escuridão. Eu pessoalmente até gostava daquilo, a noite faz bem ao meu paladar. É fria, é escura e esconde o medo que se prepara para atacar, surgido de uma sombra negra. Mas, ainda assim, até para mim aquela escuridão já passava dos limites da minha imaginação.

Noite (ou dia) adentro, e chego na escola e, claro, todos comentam sobre a escuridão. E é quando eu percebo que no céu não há estrelas. Imagem assustadora, negro céu de profunda escuridão, nem sequer a lua aparecia para quebrar o silêncio da luz. E é quando os outros começam a perceber também o que faltava no céu.

Rapidamente, começa a se formar um grupo de pessoas no pátio. Olho para o rosto de todos, vejo o medo, vejo a curiosidade, vejo o desespero, vejo lágrimas. E, em mim, percebo indiferença e uma inexplicável resignação. Resignação por o que? Nem sei o que está acontecendo, sequer tenho idéia do que possa ser.

Me dirijo para perto de alguns amigos, os quais também não têm idéia do que possa estar acontecendo. Aproximo-me de outros, dou conforto à uma amiga dominada pelo medo, até que uma consciência silenciosa e misteriosa cai sobre mim. Consciência que me faz ter intento de ir à algum lugar, mas que não me diz qual o é.

E mesmo assim vou, desviando das perguntas de meus amigos sobre o que estou fazendo.

Após aproximadamente dez minutos de caminhada sem destino, percebo que não tenho mais a vontade de andar. A consciência cessou. Me encontro num pequeno jardim, iluminado por quadro postes, que criam uma atmosfera misteriosa. Sento em um dos bancos de madeira e logo depois me deito. Fico olhando para o céu tentando decifrá-lo, saber o que aconteceu às suas estrelas. O silêncio em volta é profundo e perturbador, mas pareço não sentir medo, e a única coisa que me incomoda é o fato de o banco onde estou ser de madeira e esta estar úmida, molhando minhas costas e me causando calafrios.

O que fiquei pensando escapa de minha memória, mas passei muito tempo ali, naquele jardim, mirando o céu e sentindo calafrios. Não me levantava pois o ar iria bater nas minhas costas e o frio seria mais evidente.

Então ouvi passos. Eram lentos, de alguém sem pressa, e não me inspiravam medo algum. Voltei a ficar sentado no banco, procurando a direção de onde vinha a pessoa, tudo em volta estava calmo e pouco iluminado.

Alguém toca o meu ombro, veio por trás de mim e não vi. Viro para ver quem
é, e ele já não está mais lá. Volto minha cabeça para frente e a pessoa está sentada ao meu lado, coluna reta, pernas cruzadas. Veste uma calça de linho e uma blusa de lã, usa barba e parece ter uns cinquenta anos.

Passados alguns minutos, ele finalmente fala algo. Sua voz é grave, não fala alto nem baixo, e enquanto fala, olha para o longe.

- Em breve fará muito frio. Muito... e em pouco tempo todos morrerão.

Sem saber por que, perguntei:

- Para onde foram as estrelas, o sol e a lua?

Ele parou, respirou profundamente, e disse:

- Para longe. Ninguém pode traze-los de volta, e é melhor que todos se acostumem com a escuridão -. Então ele se levantou. Deu alguns passos até que alcançou a penumbra formada por uma árvore. - Vá para junto de seus amigos, eles estão preocupados -. E sumiu.

Então me levantei, dei alguns passos e comecei a sentir medo. Estava tudo escuro. O frio aumentava e o vento tirava todo o calor do meu corpo.
Andei rápido, corria do medo mas ele sempre me alcançava, e prontamente encontrei meus amigos. Fui coberto de indagações, das quais me esquivei, e logo conversávamos sobre coisas bobas.

O tempo escorria com fluidez, pareciam ser altas horas da madrugada, mas era meio dia. E uma sonolência caiu sobre nós. Como estávamos com mochilas, deitamos todos juntos, no chão mesmo, e logo dormíamos.

Não sonhei. Acho que ninguém o fez.

Acordei com um raio de sol que passava pelas cortinas da janela do quarto, e que batiam no meu rosto. Estava muito bem descansado. Talvez fosse porque estava sobre a minha cama, coberto, e lá fora já era dia. Era manhã de Sábado, já deviam ser oito horas. Lembrei de ter sonhando, algo sobre um dia de negro céu. Fiquei feliz por ter sido só um sonho.

Sorria um sorriso bobo, até que fui interrompido por um calafrio.

D.I.D.S. - 26-05-2000
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