A festa das goteiras
Dia de Domingo à tardinha
Com a chuva mansa do dia,
As goteiras faziam barulho
Quando nas vasilhas batiam.
Tinha uma no canto da sala
Que caia em um vaso no chão,
Era a nota lá que ressoava
O sentimento do meu sertão.
Com a chuva caindo no telhado
Uma goteira que tinha no quarto,
O ré chegava todo contente
Molhando e tocando no meu sapato.
Bem no caldeirão da cozinha
O mi descia cantarolando,
Juntava-se com as outras notas
E logo ia dançando.
O fá quando batia firme
Numa vasilha de isopor,
De todos era o mais barulhento
Mas sabia se compor.
Já o sol vinha satisfeito
E caia na panela de pressão,
Também o lá caia dançando
Em cima do nosso fogão.
O si trazia a música suave
Quando caia na bacia de alumínio,
Eu lembrava de uma música muito linda
Do meu tempo quando eu era menino.
O dó chegava já sambarolando
Já vinha ritmado com a goteira,
Completava as notas com todos
Respondendo o som numa frigideira.
E assim teve festa a noite toda
Dos pingos afinados, confessos nunca vi,
Trazendo canções de ninar para o meu lar
As notas dó, ré, mi, fá, sol, lá, si.
Casa de gente humilde é bem assim
Quando chove faz o caboclo alegrar,
E quando o sono vai chegando de mansinho
Ao som da música das goteiras a ritmar.
De: Airam Ribeiro - Itanhém-Ba-
Dezembro de 97.
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