Quisera eu saber do medo
Que inquieta o homem, que o espanta
Apontar para o céu e ver o próprio dedo
E ouvir o grito mudo que morre na garganta...
Será isso o amor?
Os inconfessáveis sonhos, as vontades
Trânsidas de algo que escapa
Obscuro lusco-fusco das verdades
Um tiro, um furo, um murro, um tapa...
Será isso o amor?
Terei eu descoberto enfim e triste
Do Graal, a cura iluminada
Que o amor sequer no mundo existe
E o que vejo é ganância tresloucada
Absurdos em nome de si próprio
Egoísmo travestido de bondade
E Narcisos perdidos no seu ópio
De amar-se nos outros como Sade
Minha lágrima sequer ousa cair
Nesta terra cruel e desumana
Onde o amor cobra o preço de existir
Preso ao peito escuro de quem ama
E pergunto, sobre o coro que lamentas
De mulheres perdidas, homens sós
De traídos, de putas, de sedentas
Quando o “eu” ri e vence o pobre “nós”...
Será isso o amor?
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