A morte de uma mata
Água Preta era o nome de Itanhém antigamente.
Oh! Água Preta potável
Porque acabastes assim,
Destruíram tuas matas
Teus riachos, tudo em fim.
Tantas flores esmagadas
Para dar lugar ao capim.
Indo para o Melamargo
Subindo a ladeira do bucho,
Via muitos pássaros cantando
Cantigas que eram um luxo,
Sem saber que na verdade
Todos cairiam no cartucho.
E chegando naquela lagoa
Que chamamos de jacaré,
Onde nas margens eu sentava
E refrescava os meus pés,
E em suas águas cristalinas
Observava os berés.
Água Preta de águas cristalinas
Com tuas matas frondosas e belas,
Mostra-me tua sucupira e pequizeiro
Teu pau d’arco de copas amarelas,
Onde as abelhas sugavam o pólen
Nas flores bonitas singelas.
Tuas madeiras derrubadas
Que gastou tempo prá vingar,
Onde anda o teu cedro?
Cadê o teu jacarandá?
Os invasores destruíram
O que não era prá matar.
Em teus ypês teu pau terra
Onde João de Barro fazia morada,
E em suas copas frondosas
Os sabiás faziam toadas,
E nos angilins de tuas matas
As arapongas faziam pousadas.
Lembro-me ainda tristonho
Debaixo do pé do ingazeiro,
E nada podia fazer Água Preta
Das quedas dos pequizeiros,
Olhavas triste e calada
O gemer de um foieiro.
Já dizia um violeiro
“o que corta em segundos gasta tempo prá
vingar,”
É triste ver sem fazer nada
A queda de um jatobá,
Inda mais levando consigo
Um ninho de sabiá.
Sai-me uma lágrima dos olhos
Só de pensar em lembrar,
Que daqui se foi um dia
Prá não mais poder voltar,
Daquelas baraúnas e perobas
De oruvaieira, dum jiquitibá.
De uma sucupira, dum pau ferro
De um margoso e de um oití,
De uma jaboticabeira nativa
Que tinha aqui e alí,
De um pau d”alho, dum cupan
De uma pitomba e de um bacupari.
E em uma tarde chuvosa
Em dias de trovoadas,
Vi um pau brasil tombado
Numa mata já acabada,
E da seiva que dele saia
Parece até que chorava.
Nos anais de sua história
Relembrando o que ocorreu,
Vi um bando de periquitos
Procurando os ninhos seus,
Nas galhas da mirueira
Que com o tapicuru morreu.
Nas queimadas de tuas matas
Passou pôr alí a maldade,
Foi-se embora o pau sangue
Bastião vermelho que saudade!
Que nasceu numa mata atlântica
O pulmão de uma cidade.
Com toda essa derrubada
Com tanta devastação,
Onde encontrará os poetas
Matérias pra rimação,
Se todos os pássaros desta mata
Estão fazendo arribação.
Em capim não se vê sombra
Nem os pássaros fazem ninhos,
Onde pousará a coruja
Que será dos passarinhos,
Se os predadores rasteiros
Comerão os seus filhinhos.
Não voltará a ser como antes
Mas ameniza um pouco mais,
Vamos plantar muitas árvores
E respeitar os animais,
E dizer pra nossos filhos
Não derrube uma árvore, jamais.
De: Airam Ribeiro - Itanhém-Ba-
23/04/97.
Este poema foi vencedor do Concurso sobre o meio ambiente,
Promovido pela Associação de Meio Ambiente de Itanhém, em
1999.
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