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Contos-->A GRANDE MÁGICA -- 19/06/2000 - 10:10 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hoje se casam Letícia e Bento. Até que enfim, depois de 9 anos e meio de namoro, mais um de noivado. A casa está pronta, tiveram que fazer um quarto só para o enxoval dela, que ocupava quase 6 metros cúbicos. O Pestana, sobrinho dele, moleque encardido, resolveu pregar uma peça e colocou uma barata no smoking do Bento, sorte que a dona Anastácia, mãe do noivo, viu e deu um pito no moleque antes que o pior acontecesse. As famílias de ambos nem podiam imaginar alguma coisa saindo errado, pois eles planejaram muito esse momento.
Há um ano e meio, quando finalmente o Bento pediu a mão da Letícia em casamento, foi um alvoroço naquele jantar misterioso, quer dizer, todo mundo já desconfiava que isso ia acontecer, mas ninguém podia imaginar o show do mágico Shapiro, o Espetacular, vindo de Marília, grande idéia do Bento, que sempre foi um palhaço. Só fez o pedido no final do show, quando ele desapareceu naquele baú e reapareceu vinte segundos depois saindo de dentro da geladeira da cozinha, vestido de gorila, pulando com uma rosa numa mão e a esperada caixinha preta na outra. Quando ele tirou a máscara e disse, ajoelhado e com os olhos cheios de lágrimas, Tícia, casa comigo, ela pulou do sofá, chorando, toda a família gritou em coro, sim!, mas a Letícia saiu correndo e se trancou no banheiro, de medo. Não do gorila, e sim do casamento. Depois de dez minutos, as suas primas batendo na porta, quê isso, Letícia, sai daí prima, ela se recompôs e saiu, andou diretamente até o Bento e disse, eu aceito, se abraçaram e se beijaram. Todo mundo gritou e bateu palmas, até o Shapiro. Magda, sua assistente, chorou de emoção. Bento erguia a pequena Letícia, brincando de King Kong, até que se empolgou demais, subiu na estante da sala, bateu a cabeça no ventilador, caiu e quebrou o braço.
Foram escolher o terreno, um do lado oposto aos fios da rede elétrica, para plantarem um ipê amarelo. A Letícia só casaria com a casa pronta e decorada, contrataram então o engenheiro, fizeram mil rascunhos, até que definiram o projeto e duas semanas depois a casa começava a subir. E assim foram indo, escolhendo telha, piso, azulejo, tinta, móveis, eletrodomésticos, tapetes, vasos, toalhinhas de mesa, conjunto de banho, até que Letícia não pôde mais enrolar e marcaram a data do casamento, dia 14 de julho daquele ano, um sábado. Foram atrás dos convites, do Buffet, escolheram os pratos com muito cuidado para agradar a todos, mesmo sabendo que muita gente ia falar e aquele molho, muito salgado, e aquilo no meio da carne, era abacaxi ou cenoura? O Bento não se agüentava de alegria, mesmo com os amigos já casados dizendo que era fogo de palha, você vai ver depois, que casamento é apenas um meio caríssimo de ter as roupas lavadas, você vai é pra forca, Bento. E ele nem aí, só ria, e pensava na Letícia, no seu cheiro de flor e hidratante.
Chegou então o grande dia, o dia 14 de julho. Bento estava ansiosíssimo - e essa flor, tenho que usar mesmo? é um cravo, filho, tá bonito. Ih, já tô suando, mãe, vou ficar com aquela bola embaixo do braço, olha só! E a mãe, que nada, filho tá frio, calma. A Letícia, por sua vez, parecia bem tranqüila, com um vestido branco, é claro, estava linda, e dava os últimos retoques para dali a pouco partir na BMW do seu tio rico do Mato Grosso em direção da Igreja Santa Rita, que estava decorada de forma simples, mas com muito bom gosto e delicadeza. Os convidados foram chegando e enchendo a igreja, esperando pelo último suspiro da vida de solteiro do Bento e da Letícia.
Dez minutos antes de sair de casa para se encontrar com aquele que seria seu marido para o resto da vida, Letícia, sentindo-se como uma gazela acuada pela leoa faminta, esperava pela sua salvação, um telefonema de alguém dizendo que estava cancelado, o Frei estava doente, ou uma catástrofe, o fim do mundo! Não haveria mais casamento, o mundo acabou e só restam as baratas! Pensou em fugir pela janela do quarto, mas ela não tinha uma serra para cortar as grades. Desesperada, pensou no mágico Shapiro, e em como gostaria que ele a fizesse sumir!
Na Igreja, os convidados já estavam acomodados, entre eles Shapiro, o mágico, que o Bento fez questão de convidar. O noivo estava nervoso mas muito feliz lá na frente, esperando ansiosamente pela chegada da sua nova vida. Com apenas 35 minutos de atraso, surge, entre as trombetas que anunciam a famosa marcha, a noiva, branca e linda, a luz do sol por trás dela, fazendo-a brilhar como os olhos do Bento. Letícia obedeceu como um andróide, repetiu tudo o que o Frei mandou, até chegar ao sim. Bento percebeu que ela estava muito assustada, mas no final do casamento beijou-a e a abraçou com ternura, olhando dentro dos olhinhos perdidos e cheios de lágrimas sem dizer nada.
Todos nós pensávamos que aquele casamento nunca iria sair. Que a Letícia tinha medo, que por ela ficaria a vida inteira sob a saia da mãe, segura em casa. Ela mesma pensava isso, pois realmente tinha um medo danado do desconhecido. Não que não amasse o Bento, pois o amava muito. Mesmo assim o começo da vida de casado não foi fácil, pois as pequenas diferenças, como largar os sapatos na sala, ou beber leite direto da caixinha, tornam-se motivos para grandes e complicadas guerras.
Entretanto, um ano e meio depois, quando a enfermeira trouxe aquela coisinha embrulhada no cobertorzinho, Letícia e Bento se olharam, ele pegou a criança no colo, aproximou-se dela, sentou-se do seu lado, e naquele momento entenderam o motivo pelo qual eles vieram ao mundo e se casaram. Perceberam que na verdade eles não tinham um filho, mas sim aquele filho tinha seus pais, e eles a partir de agora pertenciam a ele. E que esta sim é a maior mágica da Terra, que nem Shapiro, o Espetacular, pode superar.
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