Usina de Letras
Usina de Letras
147 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62214 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50608)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1063)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->E S T R A N G E I R A -- 07/08/2002 - 13:46 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A E S T R A N G E I R A

A moça roçava a perna na minha, durante a última sessão no cinema. Em princípio, fingi que não era comigo, mas com a seqüência, comecei a me excitar, porque estava com o olho grudado lá na tela, na Kim Basinger, tentando se enfiar no ator principal. Dei uma olhadela de lado, rapidamente, para não perder o principal... a mulher estava sizuda, como se nada houvesse acontecido. Descaramento total. Mesmo porque, o efeito da vodka que bebi com pouco limão, já me tirara fora do sério.
A cidadã continuava roçando, roçando e sequer olhava para mim. Aquele ar de quem faz mas não faz, com um aspecto de quem pratica o roça-roça, o “voyeurismo” de sala de projeção, no final da noite. Permaneço imóvel, mantendo a perna no mesmo lugar original. Meio aberta, minha perna esquerda estava colada na perna direita dela, como dois automóveis que se fuçam numa maratona. Excitado eu já estava desde que, ao chegar, observei aquele mulheraço, cabelo comprido espalhado às costas, mas mergulhada numa fragrância cítrica “fashion”, que se vem usando a rodo.
O cinema, lotado como sempre ocorre na última sessão, dava-me a impressão nítida de que as pessoas todas estavam com a libido à flor da pele e gostariam muito de entrar na tela e ficar no lugar da Kim, que, como habitualmente, estava bonita pra burro. A essa altura, já deviam ser umas 11 horas da noite e eu havia deixado o carro estacionado num lugar deserto e de muito má fama. Paciência. Os assaltantes teriam que me esperar... primeiro a obrigação, depois, a devoção.
O ator principal começa a tirar a calcinha da Kim, no momento em que nossa roçante levanta-se abruptamente, emitindo um som tal qual “escuse me”... se é que entendi direito. Tive que me levantar da cadeira com a cabeça de um lado para o outro, num giro sedento, insaciável, tanto quanto o silêncio libidinoso dos espectadores, em sua maioria, homens.
Para meu gáudio, a luz acendera porque a fita enrolou-se com o projetista, lá por cima, na cabine. Aproveitei para olhar ao redor e ver se reencontrava o monumento de saia curta e blusa vermelha que saira faz poucos minutos.
Dei uma boa espiadela aos quatro cantos da sala, lotada e plena de uma mistura de gás carbônico, sudorese, perfume barato e, quem sabe, odor de hipoclorito de sódio, que é, o cheiro característico do esperma. Poderia estar exagerando, mas, como possuo um olfato muito apurado...
A fita fora regularizada, a luz apagou e nada da tal estrangeira, falando “escuse me”, em vez de “com licença” àquelas horas da noite num único cinema de centro de cidade grande. Volto à vaca fria e continuo a acompanhar o périplo da Kim, agarrando no pênis do artista principal, de quem eu gostaria de possuir, pelo menos, a primazia de contracenar com a louraça.
Mas qual nada! A sessão estava encerrando, os créditos finais rolando na tela, alguns mais eufóricos aplaudindo a Kim e eu, excitado e cheio de frustração...
Saio desconsolado vagarosamente no arrastar-se da platéia e... quem vejo mais adiante: um casal, cuja fêmea era a tal que me roçava a perna, faz alguns minutos atrás. O cara que estava com ela, chupava-lhe a boca como se estivesse imitando os beijos lancinantes do ator na contracena com a Kim. Olhei a estrangeira que, entre beijos e abraços com o moço na sala de espera, soltava uns ôs e ahns, coadjuvados por frases que eu aprendera no curso básico de inglês: my love, my love, my love.
Estrangeira gostosa aquela... hummmm....




WALTER DA SILVA
Vila Velha, outubro, 1995
Extraído de “22 CONTOS DE RÉS”®





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui