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Contos-->LÚCIO BOTAS, DETETIVE PARTICULAR -- 19/06/2000 - 10:10 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Meu nome é Lúcio. Lúcio Botas, Detetive Particular. Sou o que chamamos hoje, no início dessa década ultramoderna dos 70, de “Macho Man”. Mas com a sofisticação de um “Lord” Britânico. E uma certa dose de sarcasmo francês. Se bem que possuo também o charme irresistível dos italianos. Mas nasci em Lutécia mesmo, e ultimamente tenho o bolso vazio de um brasileiro. Lúcio Botas. Macho, sarcástico, sofisticado, charmoso e duro. Tenho um casaco de couro cor caramelo, que ganhei do meu cunhado. Meus cabelos seguem a tendência da moda, do tipo “microfone”. Tenho um escritório na cidade, perto da linha do trem. Bem perto, aliás, pois é sob a linha, no túnel de pedestres. Escolhi o túnel por ser um local discreto, inusitado e incrivelmente barato. Fora isso, o banheiro é muito amplo, pois fica em qualquer lugar num raio de 5 metros ao redor da minha escrivaninha. Moro num quarto alugado, que fica sobre a Padaria Coroa, do Seu Constantino desde o dia em que resolvi o incrível caso do sumiço da flâmula da Portuguesa que ficava sobre o caixa da padaria. Fui acionado pela D. Mirácoles, a espanhola, esposa do Seu Constantino, que estava desesperada por seu marido encontrar-se acamado devido à inestimável perda. A flâmula tinha o autógrafo do beque central do time lusitano, o Pistão. Seu Constantino, apertando sofregamente a minha mão, balbuciara:
- Encontre-a para mim, pois! Eu te recompensarei!
Comecei minhas investigações na própria padaria, comendo uma coxinha. Como era por conta da casa, comi mais uma e depois um enrolado de salsicha e dois pastéis, um de carne e um de palmito. Quando pedi o quibe e estava tomando a caçulinha, observei vários fósforos apagados, de papel, desses de hotéis. Deduzi que o fumante ficou ali no mínimo 40 minutos, pois havia 4 fósforos. Como aqui na cidade nenhum dos dois hotéis faz esse tipo de propaganda, deduzi que ele, ou ela, era de fora. Vasculhei os arredores da padaria e bingo, achei a carteirinha de fósforos, sem nenhum palito. Na frente, a propaganda de um posto de gasolina de Assis. Voltei para a padaria e pedi um adiantamento à dona Mirácoles, pois teria que tomar o trem para a cidade vizinha. Comi mais uma coxinha para enfrentar a tarde sem comida e conseguir correr atrás do trem. Viajei sobre o vagão, para apreciar a vista. E longe da vista do cobrador. Cheguei em Assis e fui direto ao posto. Peguei um cigarro e perguntei ao frentista se ele tinha fogo. Ele me deu uma caixinha igual àquela da padaria e me mandou fumar longe dali. Com a minha sutileza, perguntei se ele se lembrava para quem tinha dado daquelas caixinhas ultimamente. Ele disse alguns nomes que eu não conhecia, mas anotei mentalmente. Perguntei se alguém tinha enchido o tanque hoje ou calibrado os pneus, ele disse:
- Sim, o dono da Padaria Pão Fervente, ali na frente.
- Hummm – murmurei. E pensei:
- Hummmmmmmmmmmmmmmm...
- Qual o nome dele?
- Seu Guido Palermo.
Atravessei a rua e entrei na padaria. Bela padaria, grande variedade de pães, enrolados de presunto, calabresa, croissants, salgados, roscas doces e salgadas, bombas, merengues, rosquinhas de pinga, pães de batata. Assis é uma cidade feia, mas as padarias de lá são as melhores da região. Meu estômago roncou, sentei-me num banco frente ao balcão e lancei um olhar insinuante à balconista, uma morena com lábios carnudos e um decote que me dizia “coma um merengue, coma um merengue!”. Ela me perguntou se eu estava me sentindo bem, então pedi um quibe e uma caçulinha.
- Qual o seu nome, boneca?
- Dalva.
Que voz! Firme, decidida, um pouco rouca e cheia de vida. Perguntei-lhe a que horas ela saía, ela me disse:
- Não é da sua conta – e foi para dentro da padaria.
Terminei meu quibe e fui até o caixa, onde um gordo fumava um Hollywood sem filtro. Paguei a conta e perguntei se o proprietário estava.
- Quem quer saber?
- Lúcio Botas.
- O que você quer?
- Quero conversar com ele.
Desconfiado, pegou o telefone e apertou uma tecla, resmungou alguma coisa e dez segundos depois surgiu atrás do balcão uma figura impressionante. Um gordo descomunal, de uns dois metros de altura, barbudo como um urso, de camisa aberta aparecendo um medalhão no peito, surgiu, andando como um pingüim gigante. Não me intimidei e disse, com voz firme:
- O jogo acabou, Palermo. Devolva a flâmula.
- Do que você está falando, seu lunático?
- Não me faça perder o meu tempo, Palermo! Eu descobri tudo! O seu plano de comprar a Padaria Coroa por preço de banana depois de matar o Seu Constantino de desgosto. Você ficou quarenta minutos sentado lá, fumando e esperando o momento certo de agir. Não negue! – foi aí que minha agilidade e astúcia prevaleceram sobre a força bruta. Guido, enfurecido, saltou o balcão, rugindo como um animal, e me deu um tapa tão forte que eu rodopiei tão rápido que minha perna bateu numa cadeira, que por sua vez foi lançada com violência contra a canela do próprio Guido, que gritou, tropeçou e se esborrachou no chão, permanecendo inconsciente. Aproveitei-me desse momento e vasculhei o bolso interno de seu terno, onde achei finalmente a valiosa flâmula vermelha e verde, com a assinatura do Pistão. O gordo do caixa não teve tempo de fazer nada, e quando Palermo acordou eu já estava correndo atrás do trem que voltava para Paraguaçu. Ao chegar, fui direto à Padaria Coroa. O Seu Constantino, ao me ver com o pano vermelho na mão, chorou de emoção, me abraçando.
Foi assim meu primeiro caso. Depois disso, que foi em agosto de 1970, ganhei notoriedade na região, resolvendo casos complicadíssimos, como o sumiço das calças boca-de-sino do então vereador Dito Guedes, e muitos outros. Sou assim, rápido, mordaz, astuto. Alguém aí me paga uma coxinha?
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