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cronicas-->Falando de Suplícios Modernos -- 10/06/2002 - 17:15 (Abilio Terra Junior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Falando de Suplícios Modernos

Abilio Terra Junior


Um minarete longo, ao lado de uma imensa e bela mesquita branca. Passeava na Asa Norte, levando a sua filha e o seu filho, ainda pequenos, de carro, e, as vezes, parava o carro e ficava admirando aquela bela estrutura, símbolo de uma das maiores religiões do mundo. Ou levava eventuais visitantes ao Memorial JK, e, naquele ambiente meio na penumbra, que inspirava respeito, observava, admirado, a carteira de madeira onde JK estudara, as fotos da sua formatura como médico (soube, há pouco tempo, que JK era um excelente médico, e que fizera uma cirurgia muito delicada no cérebro de um colega ferido, quando esteve alistado como militar, na revolução), centenas de medalhas e comendas que recebera ao longo da sua invulgar carreira política, a sua foto imensa entre o capim do planalto, quando do início da construção da nova capital federal, e o seu mausoléu, com as palavras "O Fundador", onde repousam os seus restos mortais.
Era uma época que poderia chamar de "romàntica", em que circulava pelas largas vias de Brasília, e, tudo, para ele, parecia coberto por uma aura de magia e misticismo, como, aliás, a própria mídia gostava de divulgar, com empolgação.
Também, o Templo da LBV, próximo da sua residência, com o imenso cristal lá na sua cúpula, e com as pessoas circulando, seguindo o caminho espiralado, demarcado no piso, cada uma orando a sua prece pessoal, com convicção e solenidade.
A Igreja de D. Bosco, com os lindos vitrais, a Catedral, com o seu simbolismo, quando o visitante ou fiel penetrava por uma passagem escura, até ingressar naquele imenso espaço, radiante de luminosidade, com anjos pairando no ar, protegendo aos fiéis, absortos ante a sua imponência.
E o imenso parque, em que, muitas vezes, ia em busca de ar puro e de um local reservado, no qual pudesse se dedicar às suas meditações. A Praça das Flores, seu local preferido no parque, com seus "jardins suspensos", como costumava chamar, tantas flores variadas, as palmeiras em um charco com plantas silvestres, a grama japonesa, onde se sentava com sua esposa. As corujas, no lugar das làmpadas dos postes. Os "quem-quens", aves de rapina, com ferrões nas pontas das asas, que, nos fins de tardes, tornavam-se bravios, talvez na defesa dos seus filhotes, e, por mais de uma vez, atacaram ele, sua esposa e a sua cachorrinha, que foram obrigados a correr em disparada.
As caminhadas com a sua cachorrinha na quadra, ampla, com muitos blocos, entre os quais, aquele em ele morava com a sua família. E a banca de revistas, na entrada da quadra, do cearense, que depois morreu, sendo substituído pelo seu filho. E as árvores, a grama, os jardins, a escola-classe no meio da quadra, o espaço abundante, plano, e o grande bloco, com sua grande garagem abaixo do nível do solo. E o canto das cigarras, que vinha de todos os lados, e parecia um coro imenso, em que ele, acompanhando o ritmo subjacente, começava a se sentir, aos poucos, em um nível diferenciado de consciência. E o templo budista, ao lado da quadra onde morava, onde uma vez por ano, era realizada a "festa do Buda", em que as japonesas, tanto as jovens quanto as idosas, formavam uma imensa roda e dançavam as suas músicas, com seus gestos suaves, e onde se comiam deliciosos pratos japoneses, e se vendiam produtos típicos japoneses, e onde a sua esposa conversava com a sua colega goiana, casada com um japonês, que trabalhava com ela no mesmo colégio, situado algumas quadras acima, depois da W3, lá em cima, nas quadras 900. E os cursos de ballet e jazz que sua filha fez por um bom tempo. E as medalhas que seu filho ganhara nas competições de natação, dependuradas na parede do seu quarto.
E a amplidão dos espaços planos, para todas as direções em que se olhasse. E o vazio, o grande vazio, que chegava a doer, de tão vazio. E a busca, a constante busca, nas ordens esotéricas (Amorc, Rosacruz Áurea, Grande Loja Maçónica, Nova Acrópole, Raja Yoga), na psicoterapia, na PNL, nos cursos (Menhenufis e Zornay, Xamanismo), nos workshops (Unipaz, Xamanismo/Carminha Levy/Foster Perry), nas religiões (Seicho No Ie), no Budismo, no Gnosticismo, nos livros, nos filmes, na escrita, nas mulheres.
E os planos de escrever o seu livro, com o apoio dado pela jornalista, que era mãe de uma das alunas da sua esposa. E os ataques de tosse e de falta de ar nas madrugadas frias, quando, as vezes, a umidade do ar chegava aos 10%. E os remédios naturais, os florais, os fitoterápicos, as massagens.
E, depois, tudo o que sofrera em sua trajetória profissional. Acreditara que já despertara a atenção, e, consequentemente, o ódio de muitos, quando, logo ao chegar, recebera as chaves do seu apartamento funcional e já fora colocado em uma posição de relativo destaque profissional.
Lembrava-se, também, de que, ele próprio, provocara, de uma forma ingênua e imatura, uma maior exacerbação desse ressentimento e rancor contra ele, quando "falara mais que a boca", comentando, abertamente, aspectos puramente pessoais e privados a respeito de certos comportamentos de colegas, de que, simplesmente, ouvira falar.
Em consequência, surgiram calúnias sobrecarregadas de malícia, maldades e até mesmo malefícios, dirigidas contra a sua pessoa, acusando-o de comportamentos, até mesmo imorais, que só existiam nas mentes deturpadas dos seus acusadores. Mas, nada podia fazer em sua defesa, pois, tudo o que dizia e fazia, se voltava, imediatamente, contra ele, adotando uma direção inversa. Só quem passa por tal tipo de situação entende o significado dessas palavras.
Daí, tornou-se um homem estigmatizado, marcado, marginalizado, sendo tratado por todos, chefes e colegas, como se não passasse de um réu, um criminoso, um delinquente. Nada pior do que uma experiência dolorosa, pungente, e perversa, como essa. As marcas profundas ficam indelevelmente marcadas a ferro e fogo na alma, no coração, na mente, na personalidade, na psique. A pessoa torna-se doente, no corpo e na alma.
E, naquela época, não havia ainda a lei que protege contra o assédio moral, que, hoje em dia, já permite que cidadãos, em situações semelhantes, recorram à essa lei, para se proteger dos seus algozes.
Depois, só com muita terapia pode-se conseguir algum tipo de alívio para tanta desesperança, angústia e depressão.
Mas, quando se analisa tal situação acuradamente, percebe-se que as sementes foram plantadas bem antes de que tudo sucedesse.
Na verdade, tudo começou quando o primeiro crime foi cometido, mesmo que de uma forma hipotética ou metafórica: quando Caim matou Abel. Quanto simbolismo contido nesse crime, que não precisa der repetido, pois todos o conhecem.
A oferenda, que foi aceita, tornou-se o motivo para que o ódio, a inveja, o ciúme, levados ao seu ápice, culminassem com um assassinato frio e cruel, que, nesse caso, ocorreu a nível físico, mas que, inúmeras vezes, ocorre a nível psíquico, moral, anímico. E, nem por isso, é menos cruel, doloroso e insano.
E, segundo os dados estatísticos divulgados recentemente, milhões de pessoas são submetidas a tais situações extremamente constrangedoras, vexatórias, desmoralizantes, aniquiladoras, destruidoras, e provocadoras de doenças graves, tanto a nível psíquico quanto físico.
Que Deus, e os Guias Espirituais, tragam conforto à essas almas que sofrem os tormentos do inferno em vida, comparáveis aos piores suplícios descritos por Dante no seu "Inferno", da trilogia que compõe a sua obra prima "A Divina Comédia".
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