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Discursos-->Estes olhos que a terra há de comer -- 20/12/2001 - 02:30 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FLASH! - ceguei-me por instantes. Era aquele japonês, munido de sua Pentax, que gingava erguida na mão esquerda, em porte de estandarte. Uma espécie de escumadeira, onde guardava uma estroboscópica que só piscava uma vez. Fiquei a ver bolinhas de sabão, naquele tuplec-tuplim borboleteando feito auréola sobre minha cabeça de santa paciência!

Fui beijar a noiva e, naquele semi-torpor em que me deixou o hábil oriental, acabei, desorientado, beijando os bigodes de seu rotundo sogro, que respondeu com certeiro abraço e algumas piabas nos meus omoplatas.

Tratei de sair logo da fila do "shake-hands" e me sentei de volta no banco da igreja. Enquanto a correição corria lenta, a cumprimentar os noivos, agora já marido e mulher, dei uma vista d olhos pelo ambiente.

Um pé-direito respeitável, com afrescos esguios, delineando a altíssima abóboda. Aquilo me fez recordar um velho troca-palavras: não confunda abóboda celeste com a boba da Celeste. E outro: não confunda Faculdade de Botucatu com dificuldade de botar no.... Bem, não vai ser hoje que me vou dispor a sacrilégios. Afinal, estava em sacro recinto e: - Sinto muito! - disse a mim mesmo. - Eleve seus pensamentos até os mais altos cirros que encontrar - como havia dito o gentil sacerdote em seus quinze minutos de Vieira, mal sabendo que o céu era de brigadeiro naquela noite.

- É o cúmulo! - desdenhei, regorgitando o champanhe que nos esperava no salão paroquial.

Um peralta convidado passou deslizando pelo corredor nupcial, fazendo dos sapatos velozes patins. Freou a dois passos do divino anfitrião, que o benzeu e resmungou alguns sonetos que nem ouso imaginar.

Mas o que teria sido aquele cúmulo mesmo? Falhou-me a memória. Revirei os arredores, de alto a baixo, na transversal e na mediana. Nada. Escapou-me. Decerto pouco me importava relembrar, já que tudo jazia acumulado aos meus olhos.

Persignei-me e rezei um Pai-Nosso, subterfúgio a que recorro freqüentemente quando algo está a me importunar as idéias.

Voltei a visão ao jovem casal. O noivo, em trejeitos de pavão a inchar o papo, apressava-se a espiar o relógio em mangas de alinhado costume. A ditosa consorte, tal qual suave bailarina a quebrar delicadas nozes, sorria beijos facetados, sem desmanchar os rubros lábios que, salvo engano, seriam o feitiço da iminente lua-de-mel.

Ia a maratona a passos feitos, crivada de senhores elegantes e madonas, cujos penteados assemelhavam-se a coloridos tufos de algodão-doce. E a pequena orquestra, secretamente abrigada em longínquo mezzanino, soava a toques de sublimes querubins, cevando a platéia abaixo com aparafusadas tercinas e semínimas. O aflito tenor gorjeava em prolongados soluços: - Ave, Maria! - de Gounot.

Cerrei os olhos, embriagado pela divina melodia. Permaneci assim, algo cego, até que o rompante final daquele canto deixou voltar o burburinho populesco.

Apalpei na turba um infante, que usei à guisa de alva bengala a me guiar os olhos de calabouço até o ar puro do pátio, onde pude apontar no céu as distantes Três Marias.






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