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Poesias-->Palmares -- 18/10/2002 - 01:43 (Rodolfo Galvão de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PALMARES







(A PRIMEIRA NAÇÃO BRASILEIRA)















































































Quero ser feliz, mas para isto é preciso e é fundamental que eu seja livre e autônomo







































































RODOLFO GALVÃO DE OLIVEIRA











1º movimento





intróito











Nas costas batia o chicote

Do negro no tronco reto



Firme a madeira – carne desfacelada



Do homem feito escravo pelo homem







Portugal de D. Denis e D. Henrique



De Luís de Camões e Gil Vicente



Desde que aqui na terra chegou



Trouxe escravo e levou riqueza







Pregou sua bandeira branca de cruz vermelha



Cruz aos homens livres e verdadeiros



E o branco aos nobres e senhores







Deixou fincada no solo a bandeira



E levou as árvores do litoral



Era a tinta vermelha necessária



Para tingir o rosto de uma raça de longe trazida





























A



Ó peito ilustre lusitano

Vindo dos celtas, gregos, romanos,



Árabes, visigodos e tantos



Fez do escravo sua riqueza



E nem ao feudalismo conheceu



A não ser o feudo de Lusitânia



A Afonso-Henriques doado por presa de guerra







Ó peito ilustre lusitano



Já cem anos habita aqui



Cem anos trazendo o negro



De outras terras suas, Congo, Angola e Moçambique



Mas nem todos se curvaram



Ao seu grilhão estabelecido



Pelo Apóstolo Anchieta esquecido



Pelo Nóbrega como Anchieta no índio pondo



As cadeias da escravidão







É nem todos aceitavam e muitos fugiam



E grupos formavam para lutar







A terra do açúcar até Bahia



Enfim toda capitania



No seu interior foram os negros



Por mulatos, brancos, cafuzos e índios seguidos



Fundarem uma nova terra































B





Portugal perdeu sua soberania

Para a Espanha



A Holanda contra Espanha lutava



E no litoral veio parar







As cidades e as aldeias



Que faziam Palmares



Como Macaco, Una



Osenga, Subupira,



Amaro e Ipojucã



Quase molestadas não foram



Era outra guerra que havia







E enquanto aqui Holanda esteve



Em sua guerra contra Espanha



E depois Portugal



Houve menos luta contra Palmares







A trégua houve



mas não houve paz







A confusão em meu pensamento



É grande e por demais desconfiável



A memória é ótima quando quero



Mesmo a não querendo quase sempre







Eu sou não pelo que penso



Mas por tudo que faço



Eu sou não porque penso



Mas por amor à liberdade







Eu existo não porque sou



Mas pelo que eu sei



Eu existo não pelo que sou



Mas porque amo a liberdade







A trégua houve



Mas não houve paz







De todos os ferimentos que tive



Cicatriz alguma ficou







Não me é dado tempo nenhum



Por eu viver a vida



Cheio de garra e gana



De chegar vitorioso sempre



Mesmo que eu fique no caminho



Eu sei que continuo ainda



Que doa o quanto doer a vida



































C





Cálido o vento tido em verão

Garras nos galhos secos

Soprados por ele no inverno



Durante fogo e viração







Árvores nuas, altaneiras, esperando primavera



Que lhe cobrirá o corpo de folhas verdes



Os arbustos trêmulos ao vento



Sem flor alguma



O céu limpo limpo de nuvens passarela do sol



Secando a vida sem água alguma



Algum urubu voando à procura



Do novo cadáver que surgir no chão



Outros pássaros não existe algum



Os animais desapareceram todos



Fugindo em busca de água e sombra



Que por aqui não há quase



A terra seca, rachada, em poeira coberta



Reclama mesmo sendo que chegue saraiva



Neste inverno de vento cálido



Pelas chamas que consomem o restou de vivo







2º movimento

intróito







E Portugal brigava com Holanda

Brigava em Pernambuco e Angola



Era a Europa com suas guerras



Atingindo outros continentes







Mas de Palmares essa guerra não era dele



Era de reis e déspotas esclarecidos



Que maltratavam qualquer povo nativo







O nordeste sulamericano continuou palco de luta



Agora era cruz da Igreja Romana



Lutando contra a Bíblia de Lutero







Era novamente um povo latino



Com sua religião oficial



Em luta contra os vickings











A













Já passava a segunda metade

Do século dezesseis das navegações



Quando a terra de Gil Vicente



Virou terra de herdeiros de El Cid







Família espanholas a cá vieram



No reino espanhol espalhado



Pelas Américas, Áfricas e Ásias



Antes com Portugal repartido







Vinham sonhando com povo novo



Em terras novas novo pensamento



Em vez de Incas assassinados



Ou dizimados Astecas e Maias no México







Sonham com a liberdade



Que não havia



Sonhavam, com o direito do homem



Usurpados por reis e sacerdotes







Mas chegavam à terra brasileira



Já em guerra com os holandeses



E estes atrás dos espanhóis



Desembarcaram no Pernambuco



Na terra que era dos livres







Veio Nassau e sua sabedoria



Trazendo estátuas para o Recife



Escravizando tanto ou mais



Que espanhóis e portugueses nobres







Caminho outro não havia



Senão o sertão



Que era a terra dos livres







Os portugueses chamavam



De quilombos



Terra de bandidos



Foras da lei e foragidos







E eram bandidos fora da lei



Matavam feitor



E senhor de engenho



Daquela estrutura colonial



Que roubavam e sugavam



O sangue virgem do Novo Mundo conquistado



















B







Fizeram sua República

No tempo do Rei de Espanha



No tempo do Rei de Holanda



No tempo do Rei de Portugal







Era nessa terra boa linda gostosa



Mesmo sendo árida e caatinga



A horta era de todos



O mel era de todos



E todo mundo tinha casa



Todo mundo escolhia o seu comandante



Que não tinha marca de Calvino



De Lutero de Loyola



Não tinha a marca da cruz



Apesar de cristã



Eram cristãos não submissos



A poder algum temporal



De qualquer religião ou seita



















C









E nessa terra morou Calabar

Maldito na boca da aristocracia portuguesa



Herói naquela República



Onde morava







Se Portugal e Holanda



Agora sem Espanha



Lutavam



A guerra não era de Palmares



Não era de Domingos Fernandez Calabar



Que reis matassem reis, se é que se matam



Que nobres matassem nobres



Mas a sua terra Palmares



Era a terra livre



Que lutava contra todos



Porque buscava justiça



Mas não lutava ao lado



De Espanha alguma



Portugal algum



Ou Holanda que fosse







E para isso Calabar



Taxado de traidor



Mas Jesus o foi



Marcado de infiel



Joana D’Arc o foi



E como esses em Porto Calvo



Esquartejado foi



Mas Palmares ficou



E ficou ainda mais forte



Para continuar a luta



E sobreviver









































3º movimento

intróito





Naquelas cidades

Havia paz



No terreiro crianças brincando



No eito homens e mulheres



Eram cidades felizes







Havia Canto trabalho



Do homem negro



Do homem branco



Do homem índio



E disso tudo



Havia o canto e o trabalho



Do homem mestiço



Mas o branco o negro



O índio e o mestiço



Eram homens livres







Se machucadura houvesse



A guassatonga curava



O peito doente



Com angico-resina ficava sadio



A medicina era vegetal



Não tinha que furar veia



Para fazer cura







O menino doente



De verme na barriga



Um pouco de quina na carqueja



Misturados na Ipecacuanha



Expulsos eram







B





a



Se da inércia que embriaga

Em festins de gala refulgente



Sai o vício pelos outros antros



Cambaleia e tomba o corpo cansado







Corroeram-se das civilizações passadas



O poderio e glória resplandecente



Arrasando a esperança e o poderio



Que se transformaram em sofrimento







Que sobrou de Roma em sua grandeza



De seus patrícios e neros ordenando



Bacantes noites jogadas no esquecimento



Destruindo a sabedoria e a inspiração







E deste exemplo o presente não percebe



O seu caminho de calvário esturrecido



Que se fora do caráter aproveitado



Não se gastaria a noite em jogatinas







Do jogo de azar que já existe



Curtem-se drogas inventadas



Para salvarem doentes irremediáveis



Mas da intenção foram invertidas











Dos sadios os torna debilitados



De mente poluída e afogada



Em sonhos vãos não aproveitados



Por homens criminosos que o incentivam







b







e quem amanhece em hora cedo



com seu almoço saindo para produzir



Muito recebe por sua obrigação



E tem recurso para seu filho doente







Horas passadas com suor no rosto



Ardendo os olhos à luz do sol



Perde seu físico em luta diária



Este não morre nunca – é herói







Quantas horas passadas em oração



De martelos e enxadas sacudidos



Esperando forte o fim do dia



Hora em que completa a sua prece







E o seu altar em sagrada família



Da mesa posta sem haver banquetes



Há de existir a santa ceia toda tarde



Porque à noite é preciso descansar







Mas mesmo destes homens grandes



Perdidos pelo tempo e pelo espaço



Sobrevivem-se sacerdotes tantos



Saboreando o vinho da caridade







Que mesmo valendo a eternidade



Prometendo a paz eterna pelo infinito



Vai aos poucos com vagar roubando



Tudo que pode confortar um lar







Mas não importa nada



Expulsaremos todos eles para sempre



E em nossa terra continuaremos



Pela vida toda trabalhando





4º movimento

intróito







medo não tenho e fugir não faço



tremendo as pernas, sorriso



no imenso e livre passo



que o olhar eterno aliso







trago da rua – caio na tempestade



dos ventos fortes do pensamento



pregando o direito da igualdade



e fim a todo e qualquer tormento







o tremer das pernas diz canseira



no tempero do prato posto à mesa



matando a fome a minha maneira



mantendo a luz de vida acesa







O suor do braço não diz quentura



Diz do trabalho cansado e feito



Trazendo no verde descanso e ventura



Corrigindo no ser qualquer defeito







A fronte altiva canta os louros



Na vitória enorme conquistada



Em lugar qualquer dos judeus ou mouros



No deserto e na floresta maltratada







O cabelo esbranquiçou o rio em curva



Na morte dos peixes tida no veneno



Que tristeza minha mente turva



Por qualquer sangue correndo ameno















A



Ora, Ganga Zumba



Escolhido foi, chefe



Na guerra que tinha



Contra burguês e nobre







Ganga Zumba e sua tropa



Destroçava o inimigo



A morte de Calabar



Não foi em vão







Era soldado de armadura



Derrotados por semi-nus



Soldados que expulsaram holandeses



Eram derrotados por Ganga Zumba







Os escravocratas da insurreição



Mais tarde chamada Pernambucana



Começaram a querer escravos



Que eram homens livres em Palmares







Mas o comandante dos livres



Os venceu nas batalhas



E foi proposta a paz



Pelos vencedores dos holandeses







Ganga Zumba vai com seus homens



Conversar sobre a paz



Não quis ouvir Zumbi dizer



Que ele partia para sucumbir



Sem nunca ter tido paz



Mas Ganga Zumba não houviu



Partiu



E depois escravo em Cucaú morreu











B







Na idade das civilizações

Por tanto tempo já vividas



Não equivale a nada – é eternidade



E nestra fração nunca houve paz







A paz não é somente a ausência



Da guerra bruta que surge fétida



Nem a falta da violência chula



Em cabarés do norte e do sul







A paz não é somente o marasmo



Dos elementos quedos esperando tempestade



É algo mais belo e mais sublime



Talvez seja o próprio Deus







Não cheirar perfumes amenos



Em colo suave de mulher bonita



Não é o filho calado e neurótico



Preso aos quatro cantos da sala







Não é verter sorrisos falsos



De homens e mulheres histéricos



Não é a fome do sexo refulgente



Nem a timidez do sofrido







Não é a voz muda cheia de medo



Esperando não perder o ordenado



Não é o andar lento do vitorioso



Nem o choro amaro do vencido







Não é soluços de amor malditos



Ou minutos acres de solidão profunda



Não é o aperto de mãos inimigas



Nem o perdão de uma alma fraca







Não é a história da fadas contada



Nas ruas pela molecada pária



Não é o silêncio do cárcere imundo



Nem a coerção da fé religiosa







A paz não é o que se aprende nas escolas



Por acordos de países beligerantes



Nem o matraqueado de matronas



Desejando o marido da vizinha







A paz não é a conquista do paraíso



Nem a fresca aragem marinha



Não é o rio que corre lento



Entre cascatas de pedra e aço







A paz não é a música dolente



Nem a busca do artista, grande



Não é o esmorecimento na luta



Nem o cansaço de fim de jornada







A paz não é aperitivos pelos bares



Nem serestas de violões enamorados



Não é pomba de se fala tanto



Nem a patativa a cantar no campo







A paz é aquilo que sentimos



Quando da justiça nós buscamos



O seu gládio salvador de almas



Atravessando toda a eternidade







A paz é aquilo que sentimos



De bom em nosso peito pulsando



Sabendo que buscamos o progresso



Numa luta para a evolução constante







A paz é aquilo que sentimos



Ao arcar com compromisso cumprido



É a brisa do sol bater suave



Na face de quem pratica o belo







A paz é o amor em sua totalidade



Desprezando o físico e outra coisa



É a ternura em sermos amigos



Da planta do animal do homem







A paz enfim é possuirmos



A consciência tranqüila e serena



De sabermos haver cumprido



Os nossos deveres todos assumidos



























































































































5º movimento

intróito











Zumbi chegar



Maria sabe esperar



E à tarde ou à noite espera



Um dia ele chegou



De perna sangrando



Do tiro que levou











Zumbi guerreiro

Homem talhado para paz e para guerra



Zumbi terno com sua Maria



E os filhos três seus











Mas a faca vermelha



O chumbo tirou



A guassatonga



A ferida cicatrizou



O rubim inflamar não deixou







E ele continuava a luta



Guerreando pela paz e pela liberdade



E um da para sua Maria cantou:







“É o tempo que passou de lado



e nós sozinhos fomos ficando



sem sol sem lua sem terra



sem nada mas com alegria



de sempre em frente ir



cabisalto sorrindo



para o amor que eu tenho



sempre a me esperar







E não me curvo



Continuo a luta



Não quero fronteiras



Sou do universo inteiro



Sou do continente



Como sou do oceano



Venho de planícies



Passo por florestas



Conquisto desertos



Sempre vencendo







Marias das Santas



Carreguem seus amores



Que foram caídos



Em duras batalhas







Marias das Santas



Rezem à noite baixinho



Pedindo para os homens



Justiça na terra



No oeste no oriente



E força na luta



Na guerra que fazem



Para terem seus filhos



Em terras seguras



E cheias de paz







Marias das Santas



Não há mantimentos?



Invadam as vendas



Com armas na mão



Levem arroz



Não esqueçam o feijão



E misturas gostosas







Marias das Santas



É assim que se faz



Roubar para comer



Nunca foi assaltar”





A







Um povo nasce sadio



Forte, aguerrido



Se no lar forem bem cuidadas



A terra a mãe o mato







Um povo é uma criança



Se bem cuidada e tratada



Doente não fica







Brinca livre pelos quintais



Cresce sadio entre pomares



E um dia se vê adulto







Palmares nasceu forte



De pais fortes e destemidos



Que lutavam contra feitor







Seus filhos eram sadios



Pelas caaingas correndo



Brincando com os passarinhos



Foram crescendo em campo aberto



Sadios e fortes como os grandes



Até que chegou Zumbi







O mesmo Zumbi que acarinhava



As crianças e a esposa



E matava capitão do mato







Bandeirante assassino de cruz na mão



Levando a bençao de Cristo



A homens que queria como escravos







O mesmo Zumbi que lutou



Que foi feliz e desgraçado



Pelo poder dos reis e celerados



Como eram os paulistas



Que saíam em busca de escravo



Pelo meio do sertão







B







“hoje amanheço



Sem ter dormido



Com dores no corpo



De alma sofrida



Que a arma pesada



Continua gritando



Nas mãos erradas



Que passam matando



Crianças inocentes



Sofrimento da gente



Porque todos queremos



Viver da justiça







Mas não importa



Mortos os filhos



Queremos a horta



De nossos quintais



Crescerem gigantes



Sozinhas para nós











Eu morro lutando

Meu filho chorando



Mas continuando



Iremos ao fim



Morrer é bonito



Quando por ideal



Nobreza aqui



Mandaremos embora



Capitães aqui



Mataremos à noite



E no dia seguinte



Colheremos o eito



Para durante a noite



Podermos lutar







Que vale a vida



Que temos aqui



Se o mais importante



É livre tornar



O grande Palmares



De soldado agressor



O preço que pago



Para isso atingir



É pouco é nada



Comparando somente



Onde quero chegar







Ogum meu pai



Também já morreu



Orgulho-me dele



Por seu coração



Orgulho-me dele



Por sua coragem



Dizendo que chega



De exploração



Dizendo que mata



Soldado aliado



De onde que venha



País ou região







Morro contente



Lutando à noite



Trabalho contente



Lutando de dia



Meu filho criança



Também vai lutar



Para o mundo mostrar



Grandeza do povo



Que vive unido



Na guerra que veio



Sem ele pedir







Não paro não canso



Continuando a crescer



No sangue amor



Na alma – coragem



No corpo sofrido



-dedicação-



Para vida que busco



No futuro que chega



Cheio de glórias



Fazendo história



Trazendo para a terra



Aquele que é Deus



Chamado justiça











6º movimento



intróito







Para vencer Palmares

Quinze bandos lá foram



E derrotados sendo



Fugiam através das matas







A coroa enfim contratou



Contratou o herói paulista



Conquistador de terras



Aprisionador de índios



Para fazê-los escravos



A coroa contratou



O cristão Domingos Jorge Velho







A







O quanto em suas mãos o Brasil cresceu!

De norte a sul de leste a poente



Caminhando pelo sertão a dentro



Descobrindo e alargando novas terras







Era intrépido conquistador dos matos



Nas matas virgens do sertão



Com os aborígenes filhos de Tupá



Ou herdeiros o grande Tamandaré







De São Paulo a todas as direções



Bandeiras e entradas ousadas



Dos homens rudes atrás do ouro



Pedras preciosas riquezas enfim







Mas o que representa a riqueza



O ouro levado pela coroa



As jóias confiscadas como imposto



Ou o índio ou o negro escravos







Domingos Jorge Velho preferiu caçar



Caça para alimentar o poder



Preferiu caçar índio e ser senhor



Caçar negro e ganhar recompensa







Não sei se o preço pago pelas cidades



Como Parnaíba do Piauí



Valeu pelos escravos conquistados



Na formação de tantas fazendas suas























*******





Quero sonhar pelas horas passando

A timidez do sonho liberto



No trilho sideral da liberdade



Do rastro na areia deserto







Passar as formas feitas tantas



Nas insones boca de finda noite



Que a luz do sol refletindo a lua



Em meu olhar encontra amoite







Veras flores de nectares fecundos



Nas abelhas vivas e borboletas



Alegrando ambiente em suas cores



Como perfumam tímidas violetas







Agora pelo pátio luzindo



Espelhando um corpo que passa



Esvasia o jardim com umidade



E faz crescer a planta na praça







Não sei mais se é noite ou dia



Confundo-me enquanto preso



Certeza tenho porém que apesar



Que haja tudo saio ileso























B







Correu à míngua e livre

Pela estrada satisfeito



Carregando seus sonhos



Na vigília da noite sem fim







E a idade por ele passando



Na rota da vida talhada



No suor dos braços decididos



De quem nasceu para lutar







Lamento







Ontem chorei tanto a ausência sua



Que as lágrimas me lavaram o rosto



Indo a alegria pondo o desgosto

Andando abandonado pela rua







Deserta e gélida de um mês de agosto



Sonhando possuir a mulher nua



E somente havia os raios da lua



Nada de bom havia ainda posto:







Não sendo minha bonita paisagem



Aos sonhos levando-me tão somente



Aquela mulher com a sua imagem







Também desapareceu depressa



Prisioneira ficou minha mente



Que rápido à liberdade eu peça















































































































































































7º movimento











Quem manda em Pernambuco



Deu a ordem de partida



O paulista Velho Jorge



Nos Domingos marchou







A tropa marchou rumo ao sul



Querendo as Alagoas



Foi tiro foi espada



Foi morte e trucidamento







Morreu negro morreu branco



Também índio e mameluco



Palmares perdeu metade dos soldados



Domingos a expedição







Quiseram festejar vitória



Mas Zumbi não quis



Sabia que o paulista mau



Mais tarde voltaria







Sabia que sendo Domingos



Não teria descanso



Enquanto ali houvesse



Palmares livre e soberano







Um ano depois voltou



Troxe canhões 30 mil homens



O exército de Zumbi foi dizimado



Mas não se rendeu







E na última batalha



Em um precipício



Em sangrento combate



De um contra cem







Foram caçar os corpos macerados



Para terem prova da vitória



Encontraram Zumbi morto



E lhe cortaram a cabeça







E esse dia foi



Vinte e dois de novembro



Quando Zumbi morreu



Quando em um último gesto



Matou um soldado



Dos velhos domingos jorges















EPÍLOGO









O tempo passa cruel e santo

Abençoando e maltratando a gente



Mas logo terei nas horas de descanso



Maria minha a cuidar de mim







Cada qual faz o que merece



Dando de si o que é capaz



E a luta é a mais bela prece



Que o homem puro pode fazer







E eu me levanto soberbo e grande



Com meus poemas e minha luta



Não há governo que me cale a boca



Não há nação que me faça calar







Mas diante de uma fábrica



Sorrio e choro cantando samba



Operários do mundo sois minha pátria



Párias do universo sois meus amigos







Detesto gente que se diz intelectual



Odeio gente que vive de empregados



Quero instituto e sindicato a todos



Quero a igualdade e a justiça a meus irmãos







Não me importo com fausto e gala



Prefiro a festa de pés no chão



Prefiro o samba entre madrugadas



Que guitarras elétricas e opressão







Não pátria que se militariza



Minha pátria párias do universo



Abri os braços para a luta santa



Cruzada heróica de divino afã:







De dizer DIREITO aos algozes



Que de tribunais condenam delinqüentes



Esquecendo sempre indefinidamente



Que a sociedade que os formou







Prostituta vocês são minhas irmãs



Respeitáveis senhoras de antiga profissão



Vocês não teriam existido nunca



Se nós homens não fôssemos prostituidores







Vocês viciados em terríveis drogas



Vocês viciados horrível álcool



Não fora a insegurança do tempo



Nem ao menos Noé teria bebido







Contudo é válida a RECONSTRUÇÃO



De um novo templo e branco altar



Deitar por terra direito econômico



Surgir do lodo direito verdade







Bíblia coleção de livros hebraicos



Todos escritos em puro grego



Deixe de ser coleção opressora



Para ser pesquisa a um passado







Caiam os templos quais eles forem



Façamos dele idealista escola



Que servirão muito mais aos homens



Do que vestes sacerdotais







Babalaôs pastores pregadores e padres



Viveis de salvardes almas



Se ensinásseis ao menos não exploração



Estaríeis salvando a humanidade







Chega de cinismo religioso



O mais terrível freio de meus irmãos



Romperemos a algema de aço



E faremos dela a nossa armade luta







E essa luta inteira minha



Não me impede de amar Maria



Maria que não é de Magdala



Mas que é toda cheia de graça







Magdalena pertencerste a um Cristo justo



Mostrando a todos a pureza d’alma



Esqueço-me quem sou agora



E me identifico de coração







Com o mais humilde dos lixeiros



Com o mais forte proletariado



Esqueço-me de terras e froneiras grandes



Eu sou do universo inteiro







Abro as minha mãos – afago o destino



Destino certo de servos humildes



Humildes esses que não são covardes



Humildes esses que se tornam grandes







E que por eles se fazem nações



Pregando amor pátrio para oprimir



Sorrio então de oprimido – revoltoso



De revoltoso – justo grilhão







E assim acontinuo a luta



Iniciada ao início da exploração



Abaixo jóis e coquetéis de orgia



Acima o amor a luta o trabalho







Chega então o dia esperado



E em festa o universo inteiro



Cairão do alto flores silvestres



Nascerão do solo novos amores







Surgirão do nada fantasmas esses



Que se dirão a verdade e a justiça



De onde houver a falta do DIREITO



Seremos aí o braço forte da lei

























APÊNDICE





Sobrou o chão seco, queimado,



E de gente não há.



Há a história



Que todos dizem não há.







Sobrou o pensamento livre



De uma nação que morreu,



Mas que vive pelos terreiros



Dos deuses que se fizeram grandes.















ARARY





ANAHI









Todos iniciam uma obra com dedicatoria, eu prefiro entregá-la pronta para aqueles que mais amo. Falta aí a fotografia de Rita, que sem sua existência em minha vida, esse pequeno “Palmares” não existiria.



Anahi e Arary, meus filos queridos.



Rodolfo











































































































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