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Contos-->Quem Sabia Mais -- 10/08/2002 - 17:31 (Iracema Zanetti) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Quem Sabia Mais
Iracema Zanetti

Carregada de pacotes, apressadíssima, tomou o primeiro ônibus que passou, identificando-o somente pela cor.
Não lembrou de olhar o letreiro para ver o itinerário e nem de separar o dinheiro da passagem.
Entalada na catraca, levantou os braços para suspender os pacotes e fazê-la rodar, quando o cobrador mais do que depressa e em tom grosseiro perguntou:
—O que está tentando fazer? Passar com esse mundão de pacotes, sem pagar a passagem?
—Você não está vendo que não posso passar, quanto mais abrir a bolsa, para pegar o dinheiro da passagem!
—Essa mania que o povo tem de subir no ônibus sem o dinheiro da passagem é golpe velho...
Conheço bem!
Vão passando pela roleta... o cobrador se distrai... e eles vão descendo sem pagar.
Quem toma o prejuízo? Claro, que é o tonto do cobrador!
—Não vê que estou entalada aqui nesta maldita catraca?
Espera um pouco, por favor!
Porque você não sai dessa cadeira... e vem me ajudar?
—Tá, viu dona!!! Só me faltava ficar segurando sacolinhas de compras de madames!
Olha aqui madame, o meu trabalho é cobrar as passagens... e nada mais!
—Grosseirão, depois que eu desentalar da catraca te pago.
—Que diabo é esse de catraca, que a madame tanto fala?
—Para de me chamar de madame, detesto isso.
—Ah... logo vi, de madame a senhora não tem nada.
Fazer o quê?
No Brasil é assim, a gente quer ser educado, mais não dá!
O povo não está acostumado.
—Pára de falar!
Cale a matraca!
__Afinal... é catraca, ou é matraca?
__Tonto... Não sabe mesmo o que é catraca... e nem matraca???
Pobre Brasil, por isso não sai do buraco!
—Eu não sabia, que agora, pra ser cobrador a gente tem que saber o que quer dizer catraca e matraca!
__Até parece que a madaaam... desculpa, a senhora... tá bom assim?
Que a senhora aprendeu essa palavra hoje... e quer dar uma de dona sabe tudo...
__Vou fazer um favor pra ver se você sai da ignorância!
Pra começar... matraca é... cala a boca!
Catraaaa...
A moça calou, com medo do cobrador agredi-la, pois levantou de seu lugar fechando uma das mãos, ameaçando-a lhe desferir um soco.
__Quem a senhora pensa que é, pra me mandar calar a boca?
Um passageiro que viajava logo atrás dela, esperando poder passar para a frente,
pois ia descer no próximo ponto, falou:
—Moça... fala logo para ele o que quer dizer a p... da catraca, pelo amor de Deus...
—Catraca, é o que o "Zé povinho", vulgarmente chama de roleta.
—Olha aqui... se o "Zé povinho", chama de roleta... então é roleta e estamos conversados!
Se a madamm... senhora... não é do time do Zé... por que então anda de ônibus?
—Deixa de ser atrevido! Ando na condução que quero, sem ter que te dar satisfação!
Tá entendo? Seu pé de chinelo... barato...
O cobrador , vermelho de raiva, tornou a levantar ameaçando-a, desta vez com palavras nada dignas.
As vozes estavam cada vez mais altas e calorosas...
O motorista vendo o assunto render, com medo de alguma briga, fez por bem parar o coletivo.
Foi abrindo caminho no corredor do ônibus, até chegar ao lugar da confusão e perguntou:
—O que está acontecendo aqui dentro?
Jaimão... falou ele ao cobrador... você não toma jeito não?
O passageiro que continuava atrás da moça, explicou o ocorrido.
O motorista riu e perguntou:
—Essa confusão toda, é só por causa de uma palavra? Vocês não tem o que fazer, não?
Olha moça... cada um fala como sabe e como quer, estamos num país democrático, ou não?
Passa-me os pacotes e faça rodar essa catraca, ou roleta, no fim dá tudo na mesma.
Vocês me fazem parar o veículo por uma besteira dessa? Francamente...
—A moça fez o que ele pediu.
Em seguida, livre dos pacotes, pagou a passagem ao cobrador, olhando-o com desprezo.
Seguiu o motorista até a porta da saída e perguntou:
—Moço, falta muito para chegarmos ao hospital Belo Horizonte?
—Esse ônibus não passa por lá!
—O senhor está brincando...
—Não, não estou brincando, estamos do outro lado da cidade.
—Que ônibus é este?
O motorista respondeu.
Nervosa... ela exclamou:
—Meu Deus tomei o ônibus errado...
O cobrador deu uma gargalhada e falou bem alto:
—Galera... escuta aqui... a madame sabe o que é catraca, o que é matraca...
mas não sabe ler o letreiro do ônibus, que diz pra onde ele vai!
Lá da porta... ao lado do motorista, ela gritou:
—Não é onde o ônibus vai, Zé povinho ignorante!
É itinerário...
Acabou de responder, desceu do ônibus encarando o cobrador que a olhava pela janela,
dando-lhe uma banana...
Tropeçando nos saltos, com os pacotes escorregando dos braços,
impossibilitada de devolver-lhe a banana, furiosa mostrou-lhe a língua com ódio, como se fosse uma moleca!
E lá seguiu ela chorosa, dona sabe tudo do nosso conto!

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