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Discursos-->Fé versus ciência -- 22/12/2001 - 16:13 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vamos desmistificar esse negócio de dizer que ter fé é ser piegas, é acreditar em bicho-papão e em coelhinho da Páscoa.

O sujeito que tem fé - falando de fé verdadeira - deve ter um neurônio a mais do que os cientistas - tão esforçados. Falando neles, os cientistas, são meros coadjuvantes, mão-de-obra que cuida do trabalho braçal. O "back office", como dizem os comedores de hambúrgeres.

Ter fé - excluindo-se aqui as beatas, viúvas desesperadas, solteironas aflitas e chefetes de expedientes públicos - é ver além da imaginação. Supõe talvez um raciocínio um tanto quanto mais lógico, que vai avançando os passos sem precisar de equações. Equações são coisas do pessoal com cabeça mais endurecida, ou seja, os tais cientistas e similares das mais diversas profissões.

Quando o sujeito fervoroso percebe que há apenas um elemento no Universo, diz isso baseado num longo pensamento, numa análise detalhada, lógica, e extremamente simples. Ele chega a essa conclusão e basta; passa para o próximo estágio da análise.

Já o aflito cientista, preocupa-se em delinear as órbitas elípticas dos elétrons de cada elemento já descoberto pelos colegas contemporâneos e póstumos. Passa anos escrevendo montes de consoantes e umas poucas vogais, tentando chegar ao xis da questão. Décadas após, lá a equação de algum deles chega a alguma conclusão.

Nesse meio tempo, o fervoroso já deixou isso de lado e está analisando os processos de engenharia que produzem corpos programados para apresentar determinados sintomas em determinada época de suas vidas. Segura o queixo com o polegar e o indicador e divaga: - Como é que eles projetam um corpo que deverá ter um câncer de próstata aos exatos 56 anos terrestres, com desvio-padrão de mais ou menos 10%, dependendo do humor do camarada?

O afoito cientista, lá, labutando nos teoremas, elevando ao cubo, extraindo a raiz quadrada, e pondo tudo no papel. O coitado precisa de cinqüenta Pentiums 4, com clock de 400 GHz para fazer os cálculos em três dias, se tiver a sorte de não apanhar um vírus ou uma virose. Ao fervoroso basta o cérebro com que lhe equiparam, tendo a imaginação como coadjuvante desse passeio interplanetário.

O científico colega passa horas na montanha russa, a ver se rearranja os neurônios do quebra-cabeça que montou no cérebro.

Enquanto isso, o fervoroso está curtindo as paisagens de mundos onde há cores que aqui não conhecemos, sons que nos são desconhecidos. Fica a imaginar o que Bach faria, ou provavelmente está fazendo, com aquelas incríveis escalas harmônicas. "Tocata e fuga" vai ficar ainda melhor? Que êxtase!

Lá no laboratório, o careca cientista, já de cabelos brancos e duas ou três úlceras, continua brincando de encher tubos de ensaio com liquidozinhos coloridos. O infeliz tem que cheirar terríveis odores. Já experimentou tudo que é sal na boca. Já queimou a mão com pencas de ácidos. E continua firme na sua equaçãozinha: xis mais ípsilon ao quadrado, noves fora nada! E lá vai um maço de anotações para o lixo novamente.

O fervoroso já anda lá pelas mais longínquas constelações, imaginando planetas iluminados por vários sóis, de diferentes cores, levando à superfície uma mescla inusitada de tons, inimagináveis pelos mais hippies caleidoscópios que por aqui já pareceram..

O cientista limpa no tufo de estopa as mãos sujas de graxa, aparafusando chips em um robozinho - que mais parece um brinquedo de criança - que ele pretende fazer rodar na superfície de... Marte! Aquela bolota que fica aqui ao lado.

O fervoroso já está esfregando as mãos, numa satisfação incomensurável, a imaginar o que pretende fazer quando habitar um planeta lá pelas órbitas de Orion, ou de qualquer outra estrela bem distante deste sisteminha meia-boca que é o Solar.

O cientista, que agora jaz num leito hospitalar, com recursos de medicina nuclear a tentar prolongar-lhe a vida por dois ou três segundos, inunda a cabeça com equações mal-resolvidas, tal qual seu casamento, cujo divórcio foi fruto da troca dos lençóis por longas noites a decifrar palavras-cruzadas.

O fervoroso abraça a esposa, dirigem juntos o olhar a um espaço que está além do mais distante quasar descoberto pelo colega em plena decrepitude. Olham-se nos olhos, e prometem juras eternas quando chegarem àquele ninho tão distante...



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