Usina de Letras
Usina de Letras
16 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->A universidade de papel -- 27/06/2009 - 14:10 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Escrevo este texto em situação curiosa. Estou participando de um evento acadêmico, um colóquio, para ser mais específico. Neste momento, encontro-me no auditório de uma universidade e ouço, eu e mais umas duzentas pessoas, um professor pós-doutorando falando sobre os aspectos literários do evangelho e sobre os evangelhos literários não oficiais. Talvez esse professor servisse para me demover da intenção de manifestar meu espanto com certa - e já conhecida - postura da academia e dos acadêmicos. Afinal, o tal palestrante faz de sua apresentação algo original, arejado, até divertido. Tudo que a universidade brasileira não é. Até uma empatia com a assistência o excêntrico doutor conseguiu estabelecer. A exceção por ele representada, no entanto, não serve para consertar a regra geral, a qual deu origem à expressão do título: o que temos no Brasil é uma Universidade de Papel.

Qual a principal função da universidade? Formar mão-de-obra mais bem preparada parece ser uma resposta rápida e adequada. Transmitir conhecimentos construídos por outras gerações é outra possibilidade importante. Contribuir para o crescimento social é meio etéreo, mas vá lá. Quando entramos na seara da formação de cidadãos e da interação entre áreas de conhecimento, ficamos tão abstratos que prefiro dedicar outro texto para esse assunto. A universidade deve ser tudo isso, mas nunca será uma verdadeira “força viva” enquanto não construir um ambiente voltado para a inovação, palavrinha que está em todos os comerciais das faculdades particulares e nos artigos de reitores das públicas. No papel, todos os acadêmicos são inovadores.

Na maioria dos cursos de graduação, maioria mesmo, o que se vê é um sistema que privilegia a assimilação acrítica de conteúdos e práticas vistas como essenciais para o desempenho de cada profissão no mercado. Aprenda, repita e seja aprovado. Num ambiente assim, pensar de maneira menos ortodoxa deixa professores de cabelo em pé: “não inventa, não! Tá querendo me dar trabalho”. Assim, os jovens, bem jovens, entendem que a vida deles vai ser mais fácil se fizerem do jeito que sempre foi feito. É uma pena. Jovens precisam mudar as coisas, dar uma balançada no status. Não. Universitários querem emprego e precisam seguir as regras que copiaram nos cadernos e leram nos quilos de fotocópias de livros de edição esgotada. Aliás, se xerocar livros for proibido de verdade, ninguém mais fará faculdade. Hoje é contra lei, mas só quem fez ou faz faculdade sabe quantos quilos de fotocópias são exigidas por semestre.

A pós-graduação lato-sensu reproduz o esqueminha da graduação e privilegia a formação de profissionais para um mercado que não precisa de tantos pós-graduados, mas carece muito de competentes. É: ser especialista com título está longe de significar ser competente. Para ser competente é necessário saber lidar com o novo, o inesperado. E o novo e inesperado não estão previsto em manuais ou em fontes bibliográficas raras.

Ah... A bibliografia. Palavra cara para mestrandos, doutorandos, pós-doutorandos e Cia. Não há nada que se possa fazer nos cursos de pós-graduação strictu-sensu que não dependa do aval de algum teórico, preferencialmente morto há anos. As referências bibliográficas de dissertações e teses são tão valorizadas que provocam um fenômeno lamentável: os trabalhos científicos são cada vez mais uma costura das vozes de outros pesquisadores e cada vez menos a visão inspirada e original do proponente da pesquisa. Pesquisador brasileiro não pesquisa, ecoa o trabalho de outros. E ganha “A” com louvor.

Volto para o auditório da universidade. A palestra do professor chegou ao ponto crítico. A empatia acaba de ser quebrada. Por que esses acadêmicos pensam que ler artigos em público, páginas e mais páginas, para uma platéia desatenta é um favor à humanidade? Se fosse para conhecer um artigo escrito, preferiria recebê-lo em meu e-mail para que pudesse lê-lo com calma, compará-lo com outros artigos parecidos e, quem sabe, incluí-lo na lista de referências bibliográficos da minha dissertação. Numa universidade que não reconhece seu papel de fonte de inovação, que valoriza apenas o que está no papel desde sempre, talvez essa referência valha um “A” com louvor. Que pena. O palestrante insiste em ler mais algumas páginas de seu artigo. Tem um senhor roncando na cadeira ao meu lado. Um som que combina com a universidade brasileira...



*Publicitário e professor de língua portuguesa. Acredita em autodidatas dedicados.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui