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Artigos-->Prefiro um ganancioso -- 27/06/2009 - 14:11 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Que o homem tem a tendência de querer sempre mais, todos sabemos. A insatisfação talvez seja o maior combustível para o progresso da humanidade. Uma combinação de inconformismo e necessidade tirou o ser humano das cavernas, o que se acredita ter sido uma boa coisa - mesmo considerando que aquele sistema de moradia era bem mais barato. Achar que a vida pode melhorar empurra-nos para frente.

Muitos vão dizer que essa vontade de mudar tudo é que está por trás dos males do mundo, em forma de ganância desmedida. E é verdade. Querer mais é, com frequência, confundido com querer tudo e querer tudo só para si. Não preciso perder tempo dando exemplos dos problemas que o homem fáustico provocou quando se esqueceu de que quanto mais acumulava, mais deveria oferecer de volta ao mundo, mantendo o equilíbrio.

O extremo da ganância está no mesmo eixo em que a miséria, do outro lado, mantém-se sempre igual. Não me refiro à miséria que se impinge a certos grupos sociais quando a ganância contamina alguns poderosos. Sobre essa, também, pouco é preciso escrever. Vire as páginas deste jornal e encontrará essa miséria registrada em diversas formas: fome, violência, abandono, analfabetismo. Essa é a miséria que nos choca e se choca conosco, pois vem de fora e parece não nos dizer respeito. Há, no entanto, uma miséria mais cruel, mãe de todas as outras, a qual não damos a menor bola: é a nossa miséria interior, aquela que impede que um homem mude a única coisa possível de transformar nesta vida que somos nós mesmos. É essa miséria que produz uma frase que me irrita sobremaneira: “Ah, tanto faz!” e suas filhotas “Tá bom assim!” e “Não tô nem vendo!”.

Certo: ser ganancioso é destrutivo, piora o mundo e tal e qual. Mas o homem que se mantém onde está por medo, preguiça ou pena de si mesmo é pior para a sociedade. Ao se impedir de tentar melhorar, o miserável, no sentido que aqui é usado, não cria em volta de si o movimento que, naturalmente, levaria outros homens a se mexer também. Já o fáustico, mesmo se agir para o próprio benefício, tirará muitos da letargia e, ao fim, o saldo será positivo.

Filosofia barata esta minha? Até é mesmo. Barata, mas não inválida. Pense. Se dependêssemos do miserável, estaríamos morando nas cavernas. Não pagaríamos IPTU, é certo, mas também não teríamos nada do que conhecemos: da privada nos banheiros ao Moisés de Michelangelo. Foi preciso alguma ganância, algum incômodo, para que alguém deixasse de ser miserável consigo mesmo e se permitisse mudar para melhor. Pensando nisso, afirmo: prefiro os gananciosos aos que, protegidos por várias desculpas possíveis e até aceitáveis, ficam onde estão durante toda a vida.

Este é mais um texto corneteiro e mal-humorado. Também e uma sinalização de preocupação com a moçada e a rapaziada que estão saindo da infância agora. As frases que citei acima são ditas por eles o tempo todo. Eles não estão incomodados, não estão insatisfeitos, não têm sonhos e quando são provocados sobre essa sua miséria fundamental respondem: “Tantufaz! Tô nem vendo! Tá bom assim!” . Quando um país jovem como o Brasil tem uma juventude que não contesta, que aceita tudo, que não sonha, o futuro que se projeta é...miserável.

Fiel à minha própria teoria, devo torcer para que, seguindo o roteiro finalizado por Goethe, um novo Fausto surja entre esses “pobres moços”. Sofrer com alguns estragos provocados por uma ação um pouco mais brusca de nossa juventude é melhor que ver nossos erros serem vistos por eles como acertos. Nesse caso, não “tantufaz”.



*Publicitário e professor de língua portuguesa. Dá um conselho: desconfie de conselhos.
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