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Contos-->SONHO DE NATAL -- 11/08/2002 - 16:35 (Vânia Ramos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


SONHO DE NATAL


Pelas frestas, escondido atrás do tronco de uma árvore secular de copa frondosa, situada num canteiro da avenida principal, Neco, um pequeno garoto sem teto, admira a riqueza e a fartura refletidas numa linda mansão de classe média-alta, decorada especialmente para a noite de natal. E, enquanto aprecia as crianças que jogam alegremente numa quadra improvisada, tenta entender a sua condição de pobreza e de carência total, as limitações que lhe são impostas pelo destino.

Passara um dia de dura realidade, buscando pelas calçadas das ruas e nos destroços jogados pelas lojas, algum brinquedo que lhe trouxesse alegria, algum objeto defeituoso que não tivesse valia para os integrantes da sociedade consumista. Aos poucos foi se desencantando e, desiludido, se distanciando do tumulto da cidade; das ruas repletas de pessoas que circulavam agitadas sem, sequer, perceber a sua presença. Embalado por uma canção natalina que falava de igualdade, amor e paz, transmitida pelo serviço de som, seguiu sem pressa, sem rumo, sem perspectivas para o seu Natal.

Inquieto, Neco se sobressaltava a cada ruído, temendo ser descoberto e expulso do portão do paraíso, pois alimentava a esperança de transpor a linha que separa os dois mundos e partilhar daquele banquete familiar. Na posição de mero espectador, vibrava com as brincadeiras das crianças e se deliciava com as guloseimas expostas, tão perto e tão fora do seu alcance. De repente, uma bola ultrapassa o muro e também a sua tela viva, seguida do porteiro que tenta recuperá-la e se depara com Neco que, assustado, faz menção de fugir.

- Que tá fazendo aí moleque? Vá embora, aqui não é lugar pra você.

- Desculpe moço, eu só tava olhando as crianças, já tô indo.

Neste intervalo, os meninos que já se encaminhavam para o portão, conseguem chegar a tempo de ouvir a frase de Neco, carregada de tristeza e ressentimento. Penalizados, pedem-lhe que fique e tome parte nas brincadeiras. Sr. Romão, no entanto, com receio quanto à reação dos patrões discorda da idéia das crianças. Nisso, atraída pelo barulho, dona Dulce, a matriarca, se aproxima para se inteirar do ocorrido enquanto Neco, encolhido qual um bichinho acuado, sentia-se insignificante diante daquelas pessoas de presença marcante e lamentava ter ficado ali mais tempo do que deveria. Dona Dulce o olha detalhadamente, faz algumas perguntas sobre sua vida e, com jeito de quem entende de psicologia infantil, o encaminha aos aposentos dos serviçais, ordenando:

- Providenciem banho e roupa para o menino, ele é meu convidado.

A criançada vibrava e agradecia à vovó pela interferência a seu favor, enquanto a maioria das pessoas presentes demonstrava insatisfação pela medida adotada, deixando o garoto ainda menos à vontade.

Um tanto sem graça, Neco ressurgiu totalmente diferente, já não parecia mais “o patinho feio”. Aos poucos foi se entrosando e, em alguns minutos, já estava participando ativamente dos divertimentos e se fartando com todas aquelas guloseimas. As crianças, animadas, não se cansavam de lhe contar suas histórias e ouvir dele as aventuras pela sobrevivência.

No final da noite, reconhecendo ter chegado a hora de se desfazer o encanto e retomar o seu caminho, contendo as lágrimas Neco se despediu dos amigos e se dirigiu a dona Dulce para agradecer-lhe pela noite especial, mas a bondosa senhora, fazendo-lhe um afago, sugeriu que repousasse na mansão aquela noite e prometeu buscar meios de amenizar o seu destino cruel. Naquele instante, uma semente de esperança foi plantada no coração daquele pequeno ser tão desprovido de sorte.

Ao despertar, na manhã seguinte, Neco lança um olhar lânguido em torno do ambiente onde se encontra, sem entender. Na cabeceira do seu leito, solícita, Madre Angélica enxuga o suor que escorre do seu rosto pálido e magro.

- Onde estou? Que aconteceu?

- No Hospital Menino Jesus, meu filho. Uma boa alma o encontrou caído, cansado, faminto, no limite máximo que um ser humano pode agüentar e o trouxe aqui para receber os nossos cuidados.

- Mas Madre!...

- O que foi meu filho?

- Nada, foi apenas um sonho. Uma noite de Natal.
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