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Artigos-->UM PASTOR DEMÉRITO E SUAS ACÓLITAS -- 30/06/2009 - 11:46 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UM PASTOR DEMÉRITO E SUAS ACÓLITAS

“Quanto mais o homem confere realidade a Deus, menos a

conserva em si mesmo”. Karl Marx (1818-1883)



Um domingo de junho, 28. O convite me fora feito para saborear uma galinha ao molho pardo (cabidela). A anfitriã é estudante de História e sabe-se que o faz com muito sacrifício. A casa é simples, modesta e se localiza num subúrbio do município de Camaragibe, região oeste de Pernambuco. Comuniquei por telefone que chegaria entre 11 e meio-dia. E assim foi feito. Ela, a anfitriã, assustou-se um pouco, pois não está a par de meus hábitos de pontualidade. Conforme prometido, levei um cabernet sauvignon, ignorado porque deve ser raro beber-se um bom vinho tinto, escoltado por um prato bem popular. Com os cumprimentos de praxe, sentei-me no terraço, rodeado por uma entrada de uísque, um Joãozinho andarilho, apelido dado ao Johnny Walker. Mas também fui acolhido por crianças adoráveis, simpáticas e de espírito cheio de curiosidade. Ao brincar com as crianças, ouvia os reclamos da senhora mãe a se desculpar por isso e aquilo ao que retruquei não dar importância. O tempo passou e, lá pela uma hora depois, chega um cidadão, pai da moça, de quem já ouvira menção por se tratar de um “pastor” protestante, da corrente batista. Ele, meio iracundo, entrou, me cumprimentou e tomando assento à minha esquerda, deu-se conta de que estava diante de um anticlerical, agnóstico por convicção intelectual. Na companhia da anfitriã, estava uma outra irmã, seguidora da crença, a raspar um coco para o mungunzá das “irmãs”, no templo próximo às suas casas, posto que tais filhas são vizinhas de pais evangélicos. O homem, ao saber de minha preferência pelo naturalismo, indagou, pasme-se, onde eu estava antes de o mundo ser mundo. Meio desnorteado e perplexo, diante da bisonhice, respondi-lhe agressivamente que para questões estúpidas, respostas idem. A partir daí, foi um festival de “opiniões” oriundas da escritura dita sagrada, a ponto de o homem, ao defender o texto de sua preferência, afirmar que este é tão importante que não é “livro” mas bíblia, o que dá no mesmo.

A soberba do homem levava-o a me cobrar onde estava o capítulo que diz ter o mundo iniciado, segundo o criacionismo, no ano 4004. Ele não ouvira falar sequer de que foi um bispo católico, Usher, o inventor dessa elucubração obsessiva. Depois de algumas altercações e nenhum sentido técnico na condução do “debate”, culpo-me também por ter tido aceitado a provocação. Não haveria decididamente nenhuma forma racional de aceitar aquelas insinuações infantis, fruto de total ignorância de um texto escrito ainda na idade do bronze. Depois de ser chamado de “coitado”, agredi o homem tachando-o de autoritário – como sua bíblia sagrada – pois estava ali para ralhar com a filha anfitriã que chegara de viagem sem comunicar ao pai. Belo exemplo de educação doméstica! E, para o gran finale, o demérito senhor pastor, reservou-me esta, depois de ter sido anunciada sua estupidez pelo conviva: “ perdoe-me”. Apertou-me a mão, se levantando, ao ouvir que eu também lhe pedia perdão. Ele se foi, depois de nada restar de substancial, quer extraído ou não, de sua bíblia primitiva e insípida, diante de um prato de cabidela regado a um domingo insosso de ideologia cristã.





WALTER DA SILVA

Camaragibe, 30.06.2009 (all rights reserved)

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