Usina de Letras
Usina de Letras
64 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62245 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10372)

Erótico (13571)

Frases (50643)

Humor (20033)

Infantil (5441)

Infanto Juvenil (4770)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140812)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6199)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->MEMÓRIA -- 12/08/2002 - 10:46 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Entrei no meu carro velho roído pelos anos e maus tratos e retirando aquela multa marota fincada no pára-brisa, tentei dar a partida. O motor de arranque recebendo a súbita carga de energia, proveniente do acumulador, estremeceu nas bases e girou aquela engenhoca consumidora de gasolina adulterada.
Quando depositei meus quadrís naquele assento rude pude perceber a largura da minha bunda. Um peso enorme. Não era á-tôa que depois de sentado era bastante difícil levantar-me. Não que fosse preguiçoso. Isso não! Até porque sempre me revoltei quando me diziam que era dominado por dois pecados mortais: a gula e a preguiça. Isso não tinha cabimento.
Mas naquela manhã eu tinha como objetivo chegar até uma linda cidade vizinha onde prestaria o vestibular para o curso de sociologia. Desviando-me dos barbeiros caipiras conseguí chegar até a estrada que me levaria, quem sabe, a ter outro futuro. No caminho liguei o rádio. Com o fundo suave o locutor dizia com voz grave e amena: "Que direito tem você inveja, de me calar a boca? Desculpe-me inveja, se o dom que nos habita humilha-te. Na verdade inveja, você não pode aceitar que um louco como eu, internado que fui, por você e sua irmã ira, possa causar tanto frisson nas pessoas de bom gosto e o desalento danoso em você..."
Sim! Alí estava um sujeito consciente do que falava. Eu sempre fui fã desse pessoal que trabalha no rádio. Recordei-me de "O Anjo" e "Jerônimo o herói do sertão", que ouvia no valvulado de minha mãe. Tempos bons aqueles.
Enquanto matutava tais considerações o "furioso" comia asfalto encurtando a distância que me separava dos novos conhecimentos.
Cheguei lá bem cedinho. A névoa úmida encobria a vegetação do jardim central. Achei que deveria tomar um cafezinho antes de me dirigir para a faculdade.
Encostei a máquina no meio fio e ao descer fechando inviolavelmente a porta, notei um velhinho todo emplumado que descansava àquela hora no banco da praça. Um súbito desejo de fazer travessura e provocar turbulência apossou-se do meu ego e detonei: "Ê vô, esfriando a bunda já cedo aí no banco?". Ví que seu rosto avermelhou-se. Enfiei o queixo no peito e encolhí os ombros, ao mesmo tempo em que um fluxo incontido de riso chacoalhava-me o esqueleto. Entrei no boteco tomado pela gordura e juntei-me aos que naquela manhã sorviam o café.
Informei-me com aquela gente a melhor forma para chegar ao meu destino. Paguei minha conta e cheguei até o local dos exames.
Já acomodado junto aos demais me preparei para as longas horas de tensão. Canetas azul e preta, lápis e borracha. Tudo estava conforme o determinado.
As provas foram iniciadas e depois de quarenta e cinco minutos de intensa concentração, ouví passos cadenciados no corredor. Aquele som evocou em mim uma tropa em marcha. Na verdade era um batalhão em marcha. O ruído vinha num crescendo até que todos da sala olharam para a porta. Nela apareceu um oficial da polícia militar. Ele olhou para todos, pediu licença para o líder dos que aplicavam a prova e perguntou quem era o proprietário do Karman Guia vermelho placas 2933. Quando me identifiquei, pediu que o acompanhasse. Um gelo terrível tremeu-me os joelhos. Todos olhavam para mim. Pálido eu não podia imaginar o que pudesse ter feito de tão grave. No corredor o oficial disse: "O senhor está convidado a nos acompanhar". A visão daquele grupamento militar demoveu em mim qualter tentativa de protesto ou conversação. Na delegacia de polícia descí do camburão. O "furioso" chegava logo depois guinchado vergonhosamente.
Tomei um chá de banco suficientemente longo para fazer-me perder as provas todas.
Sentado,sozinho, naquele banco frio, desanimado e curioso para saber qual teria sido o meu delito, olhei pela janela tosca do prédio. No carro preto com placas oficiais, que deixava o local, o velhinho motejado por mim momentos antes, ocupava o assento traseiro reservado às autoridades. Nesse instante aprendí, para todo o sempre, que nunca se deve mexer com quem está quieto.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui