(professor de História da Arte Latino-Americana na Universidad de Madrid, jornalista do Correo Madrileño, onde assina coluna sobre a arte brasileira. No Brasil, assina coluna na revistares.hpg.com.br/)
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Tradução: Paulo Vieira
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"Mas é carnaval
não me diga mais quem é você
amanhã tudo volta ao normal"
Chico Buarque
Está aberta a temporada do silicone. No desenrolar do ano, especialmente no pós-carnaval, as modelos brasileiras saem à caça de novos enchimentos que possam lhe garantir o status de destaque de carro alegórico numa escola de samba.
O cirurgião plástico Arnesto Calazans recomenda que o ideal é que as plásticas sejam feitas até dezembro, para que dê tempo de as modelos se acostumarem (e aprenderem a sambar) com o peso e os movimentos gelatinosos do silicone. O cirurgião me disse ainda que é melhor não se submeter à cirurgia plástica no período do inverno.
E o carnaval de avenida de São Paulo e do Rio de Janeiro não é mais aquele que cantava Chico Buarque; aquele que transformava a faxineira em rainha por um dia (ou por quatro noites). Não que isso seja de todo bom, pois, ainda que ela seja reconhecida por quatro dias, não podemos nos esquecer que faltarão outros tantos dias para ratificar sua felicidade; não só de festas, mas de justiça social. Mas digo no sentido estrito do carnaval, haja vista que ele tem sido povoado pelas modelos que já freqüentam tanto o imaginário e os domingos de televisão do povo brasileiro.
Modelos tão artificiais, que às vezes penso se não eram coisas da computação gráfica que a Rede Globo resolveu pôr no carnaval dos últimos anos. Fiquei imaginando o carnaval da Globo em nossa Praça de Espanha, e a estátua de Cervantes sambando no ritmo da computação gráfica, com os dedos indicadores no tempo da batucada.