Na seqüência de artigos escritos pouco antes e durante a funesta, para nós brasileiros, Copa do Mundo da Alemanha, aí vai mais um. O objetivo desses textos é chamar a atenção para o perigo da soberba no nosso comportamento. Principalmente após mais uma conquista da Copa das Confederações na África do Sul, e depois do salto alto mostrado pela ex-favorita Espanha no mesmo torneio. Em 2006, fizemos a mesma coisa.
O dilema de Parreira
Carlos Claudinei Talli
O técnico Parreira não pára de alardear aos quatro cantos que não está nervoso. E a moderna psicologia nos mostra que quando você nega uma coisa ostensivamente, é porque essa coisa deve ser verdadeira.
Psicologia à parte, eu acredito que o nosso treinador está vivendo uma crise de identidade.
Em 1994, colocando em prática a sua tendência natural de armar uma feroz retranca, conseguiu, Deus sabe como, conquistar o tetracampeonato para o Brasil. Mesmo que não concordemos com a tática empregada naquele mundial, temos de reconhecer que foi uma conquista formidável, pois não ganhávamos uma Copa do Mundo há 24 anos. Até mesmo o tal complexo de vira-latas do Nelson Rodrigues já estava teimando em nos azucrinar novamente.
Pois bem, apesar de ter levado o Brasil ao tetracampeonato mundial, salta aos olhos que o nosso competente Parreira considera que não recebeu o reconhecimento devido. Muito pelo contrário, muitos aficionados, entre os quais eu me incluo, teimam, até hoje, em relembrar as grandes exibições da orquestra sinfônica de Mestre Telê Santana, que encantou o mundo em 1982, sem nem ter chegado à final. Mas esses mal reconhecidos torcedores não querem nem saber, pois continuam apregoando, também aos quatro cantos, que a seleção de Telê deixou muito mais saudades.
E é aí que parece estar o nó da questão. Agora, com um plantel tecnicamente festejado pelo mundo todo como um dos melhores que o Brasil conseguiu formar, o nosso vitorioso treinador não está encontrando o clima ideal para estabelecer uma retranca despudorada como aquela do mundial dos USA. Por isso, até mesmo nas eliminatórias ele foi forçado a escalar o tal quadrado mágico, com características totalmente ofensivas.
E o caldo entornou ainda mais para o nosso laureado treinador quando com um quadrado ainda mais mágico, pois tinha também a presença do nosso endiabrado Robinho, a nossa seleção aplicou aquele vareio de bola na Argentina, na Copa das Confederações. Aliás, aquela partida, na nossa opinião, foi a única em que o Brasil se apresentou como um legítimo pentacampeão mundial, desde a conquista da Copa do Mundo na Ásia.
Por tudo isso, Parreira está num dilema cruel. Armar uma retranca, como fez em 94, obedecendo aos seus instintos primitivos, e desagradar a quase todos, ou jogar pra frente, contrariando a sua tendência natural, seguindo inclusive as pegadas de Telê Santana em 82, tentando finalmente cair nas graças da torcida brasileira com um futebol alegre e bonito de se ver?
E nós, do alto dos nossos parcos conhecimentos futebolísticos, estamos torcendo para que a 2ª hipótese prevaleça. Para aqueles torcedores brasileiros que não esquecem os títulos especiais conquistados em 58 e em 70, com seleções que ganharam e encantaram, e mesmo a brilhante seleção de 82, ganhar o título mundial é importantíssimo, mas jogar um futebol plasticamente bonito é ainda mais.
Afinal, quem mandou nos terem acostumado tão mal. Quem já comeu o manjar dos deuses, não se contenta com uma simples vitória. Ela tem que vir acompanhada do futebol-arte. Senão...
Para que consigamos esse nobre objetivo, ganhar e encantar, aí vai mais uma vez a nossa sugestão: Dida; Cicinho, Luisão, Juan e Gilberto – eu preferia o Júnior -; Edmilson, Zé Roberto e Juninho Pernambucano; Robinho, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho – como no Barcelona -.
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