E no rio que corta a cidade, minha alma o acompanha entre a gravidez da jovem e as folhas secas de outono, que se despedem sopradas pelo vento áspero e frio. Nada resta agora a não ser esperar o momento que há de chegar cedo ou tarde, não importa. Minhas artérias respiram alegres depois que a fina mão do médico as limpou dos seus entraves. Respiro cada momento junto com Netuno e todo o Universo.
Mercúrio está ao meu lado e as lindas melodias na voz de Teresa Salgueiro e Gonzaguinha só conseguem me inspirar ainda mais. Sinto-me novo e velho ao mesmo tempo, em uma incógnita que perdura sempre. As músicas me rejuvenesceram e meu peito se sente belo e translúcido perante os olhos do Tempo. Teresa Salgueiro fala do Tejo, de Alfama, Gonzaguinha do Lindo Lago do Amor, de que preciso mais? A vida é bela e maravilhosa em cada recóndito misterioso de si.
O diretor de cinema não filma mais, escondido (Os Céus de Lisboa, de Wim Wenders). É um paradoxo, como o do homem que acha que a vida tem e, ao mesmo tempo, não tem sentido. Só ele pode responder à s suas próprias indagações, em pequenos instantes em que lampejam respostas intuitivas. O grande mistério perdura e perdurará sempre e só no momento do grande salto encontrará respostas que não estejam restritas pelo tempo e o espaço.