A caravana passa
Carlos Claudinei Talli
E eu que achava que finalmente teríamos um Campeonato Brasileiro da série A de boa qualidade! Com a volta de alguns jogadores repatriados, casos de Ronaldo, Adriano e Fred, neste ano, e de Ibson, Cleberson e Cleber, do Cruzeiro, no ano passado, e a manutenção das nossas revelações, pois a crise econômica internacional sugeria que o êxodo anual a que o futebol brasileiro é submetido todo ano seria muito menos intenso, desde 2005 não tínhamos uma expectativa tão grande.
Em artigo anterior eu alencara um número expressivo de revelações que, finalmente, contrariando o que acontece todo ano, tinham grandes chances de participar do Brasileirão do início ao fim. Eu lembrava o Ernanes – que mesmo em baixa tem um potencial enorme -, o Ramirez, o Tyson, o Nilmar, o Neymar e o Paulo Henrique, do Santos, o Keirrisson, o Elias, o André Santos etc.
Mas, de repente, a megalomania do presidente do Real Madri, Florentino Perez, deu uma clara indicação de que a crise internacional não influiria muito nos negócios do futebol. Ao contratar Kaká e Cristiano Ronaldo por uma quantia exorbitante, mesmo para os padrões internacionais, ele mostrou que o mercado do futebol caminha na contramão das outras atividades. Aliás, é muito difícil entender essa lógica do futebol. E, sinceramente, eu nem quero entender!
Pois bem, corroborando essa percepção induzida pelas negociações estratosféricas do presidente do Real, foi só a janela de meio de ano se abrir, e o Ramirez e o Keirrison já foram vendidos. E tudo indica que até o final de agosto, mais uma vez, para a nossa irritação, outros seguirão o mesmo caminho. Já estão falando que o excelente time do Corinthians, campeão paulista e da Copa do Brasil, o time mais bem armado do nosso futebol, corre o sério risco de se esfacelar. Tudo indica que Chicão, Elias, Douglas, Dentinho e André Santos dificilmente continuarão. Se parar por aí!
E a roda do futebol brasileiro, que todo ano tritura qualquer possibilidade de melhoria na qualidade do nosso campeonato, e só deixa migalhas para o nosso torcedor apreciar, já mostra que esse ano nada vai ser tão diferente. Tudo ‘continuará como antes, no quartel de Abrantes’! Essa imagem da moenda de cana, que extrai todo o sumo e só deixa o bagaço, é perfeita como metáfora do nosso futebol. Os europeus ficam com o sumo dos nossos craques e, depois, quando já sugaram tudo, nos devolvem os bagaços, a preços altíssimos, e nós, agradecidos, e ensandecidos, batemos palmas!
Ah! Lembrando do torcedor, como é que fica o fanático torcedor corintiano, que carregou o time nas costas neste último ano e meio, desde a desastrosa queda para a série B até o retorno às conquistas mais recentes? Em tempos de vacas magras, ele é chamado a comparecer, mas, quando elas começam a engordar, e quando o lucro fala mais alto, ninguém está nem aí com ele. Quem vai se responsabilizar pela imensa frustração que se abaterá sobre a 2ª maior torcida do Brasil?
Parece que neste nosso pobre país rico, um trabalho bem feito e bem sucedido, como esse realizado pelo técnico Mano Menezes, está sempre fadado a não ter seqüência. Pudera! Os nossos ex-grandes clubes de há muito se reduziram a meras vitrines para exposição das mercadorias dos gigolôs do futebol e das funestas parcerias tipo MSI, Trafic e outros que tais!
‘O pior cego é aquele que não quer ver’. E a mídia hegemônica não está nem aí pra torcida. Agora que o retorno do Ronaldo, o Fenômeno, já foi contabilizado, e a sua presença já não produz tanto Ibope, quem será eleito o garoto-propaganda da vez?
E enquanto os cães ladram... A caravana passa!
Em tempo: outro dia, um querido amigo, palmeirense fanático, saiu com essa: ‘Essa venda do Keirisson é um absurdo. Um jogador ficar 6 meses e ser vendido? A diretoria do Palmeiras tem que colocar uma cláusula no contrato obrigando o jogador a ficar no mínimo 2 anos no clube.’ E eu cá com os meus botões: ‘Tempo bom era aquele em que o Rivelino e o Ademir da Guia ficavam 10 a 15 anos no mesmo clube. E como esse meu querido amigo palmeirense, e todos nós, que continuamos a torcer apaixonadamente por um clube que já não existe, somos inocentes!’
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