Juan... Ou Juan?
Carlos Claudinei Talli
A maioria prefere o Juan. Eu, cá com os meus botões, sou diferente. Prefiro o Juan.
- Pô, esse cara tá ficando louco. Do que ele está falando?
O Juan que a maioria prefere é o virtuose da orquestra, aquele que só se exibe de maneira solo. Na cabeça de todos, ele é ‘o cara’. A sua especialidade é deslumbrar com o seu estonteante violino. Quando ele toca, a platéia entra em êxtase. Os demais se tornam simples coadjuvantes. Mas ele é cheio de não me toques e, por isso, nem sempre está inspirado.
Em contrapartida, o Juan da minha preferência, apesar de sua elegância discreta, e da consistência no desempenho, sempre atua em alto nível, e é a própria orquestra. Ele toca flauta, tuba, rabecão, prato, triângulo, violoncelo, clarinete, piston, piano, etc. De quebra, ainda é o maestro da sinfônica. E, apesar de tudo isso, como violinista, chega muito perto do virtuosismo do Juan da maioria.
O da maioria é um virtuose para platéias refinadas. Para lugares raros. Genial e introvertido. Avesso a grandes desafios. Sensível a qualquer crítica. Movido a elogios. Extremamente dependente do resto da orquestra.
Já o meu é pra qualquer gosto. Pra qualquer lugar. Para grandes empreitadas. De uma elegância deselegante. Efetiva. Indiferente a criticas e a elogios. Gosta de enfrentar o leão e o tigre, e também ‘raposas’, em selvas desconhecidas. Cresce nos momentos críticos. Usa e abusa da picardia. E, quando a orquestra começa a fraquejar, pega a batuta e a faz voltar ao ritmo. Quanto maior e mais ruidosa a platéia, e mais exigente, é quando ele mais gosta.
É, caros amigos, vocês já devem ter percebido que, apesar de usar essa metáfora da orquestra sinfônica, estou mesmo é falando de futebol.
E o Juan da minha preferência é um daqueles jogadores raros que há tempos convencionei chamar de ‘ jogador total’. Aquele que defende, arma e ataca com a mesma eficiência. Da mesma estirpe de um Johan Cruyf ou de um Dr. Sócrates, os dois jogadores que melhor representaram essa maneira solidária e plasticamente elegante de jogar.
E é claro que vocês já mataram a charada. Estou falando de Juan Román Riquelme, o da maioria, e de Juan Sebastián Verón, ‘La brujita’, o da minha preferência.
Na última quarta-feira, 15/07/2009, o Juan Sebastián Verón, já em final de carreira, mais uma vez, como fez em todos os clubes por onde passou, estourou a boca do balão. Quando o seu time, o Estudiantes de La Plata, perdia por 1 x 0, chamou toda a responsabilidade pra si, pegou a batuta, e deu mais um recital de futebol. E o Estudiantes se sagrou, pela quarta vez, campeão da Libertadores, com duas ‘bruxarias’ de ‘La brujita’! Apenas isso, meus caros.
A diferença que mais salta aos olhos no futebol desses dois ‘Juans’ se mostra mais cristalina fazendo-se um exercício futebolístico de imaginação: idealizemos dois times de futebol, um formado por um bom goleiro e mais dez Juan Sebastián ‘Veróns’, e outro com o mesmo goleiro e mais dez Juan Román ‘Riquelmes’. Dá pra imaginar um confronto entre os dois?
Como a nossa conversa não é uma via de duas mãos instantânea, mais uma vez vou antecipar a minha resposta.
O time com os dez ‘Veróns’ certamente seria um excelente esquadrão de futebol. Equilibrado, criativo e eficiente. Já o outro, com os dez ‘Riquelmes’, poderia no máximo disputar um torneio entre solteiros e casados, tal a sua falta de comprometimento.
Por isso, entre os dois Juans, sou Juan Sebastián Verón desde criancinha!
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