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Artigos-->A MARGEM ESQUERDA DO RIO -- 21/07/2009 - 11:48 (GILSON CHAGAS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Minha terra tem palmeiras,

Poesia e sabiá;

As musas que aqui gorjeiam

Também gorjeiam por lá.





Gilson Chagas*





ATENÇÃO! HÁ BOA POESIA À MARGEM ESQUERDA DO RIO



Encanta-me e me entusiasma ver personalidades sensíveis e criativas emergirem sobretudo dos contingentes populacionais de menor porte, desfraldando a bandeira do inusitado através de seus engenhos poéticos. Refiro-me aos pequenos contingentes, porque, conforme “prega” o notável Chico Anísio, nascer em metrópoles, como Rio de Janeiro ou São Paulo, por exemplo, não é um ato de sorte – muita gente nasce. “Vantagem é nascer em Maranguape”, onde poucos têm chance de integrar as estatísticas demográficas.

É fato, também, – infelizmente - que as maiores ou menores populações de agora – como sendo isto o mal deste século – trafegam na contramão dos valores mais duradouros, quase sempre, voltadas para a amealhação, a qualquer preço, de patrimônios pessoais, que lhes parecem o último refúgio. Matam e morrem em nome desta e de outras conquistas fugazes, como se elas fossem um fim em si mesmas e não uma conseqüência pacífica dos meios legítimos e genuínos, encontradiços apenas - e tão somente - nas “veredas da justiça”.

É por isso e tantas coisas que, como um misto de alegria e esperança, vejo surgirem de comunidades em processo de formação, ou, em fase de crescimento, entre elas, Vila Nova do Piauí e Santo Antônio de Lisboa, poetas e historiadores de elevado quilate, como Francisco de Assis Sousa, na primeira, e Nilvon Batista Brito, na segunda; além de outros que ali despertam e a partir de lá se manifestam. Pessoas aparentemente comuns que se apresentam a seus grupos sociais com uma proposta incomum. Isto é, oferecem à sociedade sua inspiração e arte como instrumento de mudança, rediscutindo conceitos consagrados e caminhos estabelecidos, via desvendamento de enigmas que têm mantida emperrada a marcha dos indivíduos.

Em seu livro “A Margem Esquerda do Rio”, publicado em 2007 e agora vindo ao meu conhecimento, Assis Sousa, professor em Vila Nova, se me afigura um desses espíritos auscultadores, como soem ser os poetas: habituado, desde sempre, a buscar, nos escaninhos mais remotos do intelecto, redefinições e faces novas para o que era convencional; e propondo respostas plausíveis – ou pelo menos razoáveis – para o que até então parecia indecifrável.

A poesia ora inquiridora, ora introspectiva, permeia todo o livro. É assim, para ater-me a exemplos cabíveis neste espaço, em Máscaras de Papel: “fosse simples o amar, não fugiriam ao olhar as pessoas amadas”; é assado em “por um instante”: “por um instante, eis meu universo (...) a vida vai-se cumprindo, mas tudo não passa de um ledo e sublime instante”. E, para não escapar à praxe da poesia, ela também é imaginação, único meio onde a liberdade desafia os limites: “em transe, saio de mim, caminho nas nuvens, mergulho em ti, em silêncio...”

Prezado Assis, faço-me aqui reincidente confesso, ao repetir-lhe o que, há algum tempo, sob entusiasmo, ousei propor numa apresentação a Valentim Neto, outro vate de vôo singular: “Sua poesia “reforça-me a impressão de que Deus fez os poetas e filósofos da mesma substância; colocou-os em semelhante diapasão vibratório, para captarem as propriedades mais sutis da vida e dar-lhes uma forma antes imperceptível aos mortais comuns. Uma ausculta de tal alcance, porém, constitui um processo que não se realiza sem um encontro com o eu interior. É essa imersão que, paradoxalmente, os põe em uma perspectiva privilegiada. De lá, eles cumprem sua missão de desvelar o reverso das ocorrências mais comezinhas, identificando nestas uma essência que não pode ser percebida pela superfície”.

Maria Ilza Bezerra, ao apresentar tão bem este livro a que ora me reporto, exultou assim na última linha do prefácio: “definitivamente, a poesia salva as almas inquietas”. Além de profundo e belo, o achado da poetisa está na direção verdadeira. Permitir-me-ia aduzir apenas que, se a poesia, de fato, por ser também uma catarse, salva o poeta de suas inferioridades humanas, dá-lhe, depois, o poder de transferir distinção e nobreza para as comunidades que de alguma forma representa. Assis Sousa e Vila Nova personificam esse exemplo. A ambos, resta-me, portanto, apresentar meus parabéns e votos de que este livro seja apenas o primeiro de uma longa série.



NILVON BRITO DÁ A SANTO ANTÔNIO “HISTÓRIAS DO RODEADOR”.



No mesmo contexto sociocultural, um pouco abaixo no mapa do estado, a vez é de Nilvon Batista Brito transcender os limites de seu reduto - Santo Antônio de Lisboa – que, aliás, também guarda o umbigo “deste locutor que vos fala”. Com o livro Histórias do Rodeador, recentemente editado pela Usina de Letras, Nilvon acaba de juntar-se a destacados nomes da terra, como Beto Brito, Valentim Neto, Edilberto di Carvalho, Jailson Klein, Elves França, Erismá Moura e outros que aqui fora palmilham caminhos da arte e das letras.

Nilvon Brito, embora estreante em livro, é veterano em atividades culturais de variadas ordens. Colabora, por exemplo, com o jornalismo eletrônico, mantendo, há longo tempo, um blog-referência em portais da região. Isso tudo, no entanto, configura apenas uma face de sua intelectualidade versátil. Pois integrou, desde tenra juventude, - ora como cabeça, ora como braço direito – todas as cruzadas ecológicas ou de contestação que nesses anos – aproximadamente duas décadas – eclodiram nos domínios de Santo Antônio.

Remonto, à guisa de exemplo, ao princípio dos anos 90, quando ele e Dalva Cipriano - ideóloga e vanguardista de causas coletivas, porta-voz de inquietações silenciosas de sua (nossa) gente - auxiliados por outros jovens da comunidade, promoviam eventos e vigílias de protesto contra a degradação do rio que banha o município. As areias brancas que revestem e engalanam o leito do Riachão - cenário de piqueniques e poemas – já sofria, à época, ações sistemáticas de pirataria explícita; isto é, um processo de extração predatória, cujo único “propósito” eram os trinta dinheiros da ganância. A areia, de resto, ainda arregala o olho grande dos predadores da hora, enquanto permanecem fechados os da fiscalização.



Agora Nilvon vem em livro contar as Histórias do Rodeador. Da gênese de nossos ancestrais, passando pela emancipação do município, lavra os registros oficiais da administração pública, e as composições político-administrativas que se sucederam desde o desmembramento aos dias atuais. Esclareça-se, a quem interessar possa, que Rodeador é o antigo nome da fazenda em cujo Alto se ergueu a povoação de Santo Antônio, que mais tarde viraria cidade, sem desfazer-se do elo com a denominação de origem.



Os relatos do livro baseiam-se, aqui, na tradição oral; ali, em manuscritos legados por patriarcas da terra; alhures, em obra inédita de Dalva Cipriano (personagem citada em linhas precedentes) e até em algumas já publicadas noutras partes do estado. Estas certamente contendo fragmentos e registros que dizem respeito – ainda que de passagem - à fazenda ou ao município. Trata-se, pois, de uma caminhada exploratória, em que o autor aplicou vários tipos de pesquisa, inclusive bibliográfica e documental.

O ponto de vista narrativo na primeira pessoa do singular – mormente o tom intimista em impressões ou memórias pessoais - sugere uma opção do autor em conferir caráter informal às histórias, isentando-as – deliberadamente, talvez, - da responsabilidade e status de História como ciência ou ramo do conhecimento. Entretanto, qualquer que seja o móvel da sua elaboração, o fato é que a pesquisa está codificada. E, como tal, assume o papel de fonte primária ou secundária, para estudiosos, presentes ou futuros, empenhados em conhecer – ou, quem sabe, documentar - o histórico da terra, inclusive seus primórdios e a gênese dos habitantes.



Felicito-o, pois, caro amigo Nilvon, por mais essa de suas brilhantes iniciativas culturais. Foi bom que essa peça inaugural da bibliografia sobre nossa terra brotasse de uma mente bem dotada com a sua. Minhas desculpas se melhores subsídios aqui não destino aos leitores de sua obra, pois, analogamente ao que afirmara o poeta Jorge Luís Borges, depois de tantos anos praticando o ofício de escrever, só posso oferecer dúvidas. Permita-me, contudo, presumir, baseado em ilações próprias e empíricas: o primeiro livro é um compromisso que o autor assume com a continuidade e o aprimoramento da vocação revelada. E, quando se trata de uma estréia promissora como a sua, o livro certamente é o primeiro marco de um caminho sem volta.







• Gilson Chagas é Escritor e Professor da Universidade de Brasília-DF.















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