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cronicas-->ANJOS NÃO TÊM COSTAS -- 18/06/2002 - 20:17 (Veneza de Almeida Babicsak) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Risos, gargalhadas...e eu ali, compartilhando aqueles momentos. Momentos? Ele, o palestrante, com voz firme, enfocando e rotulando o Educador com muita ironia, falando para vários professores, todos atentos e descontraídos:
- ...Você professor! quando se ausenta, por acaso os alunos ficam na porta do diretor indagando: - Eu quero o professor! Por que ele não veio? ou então, depois de terminar duas aulas seguidas, os alunos exclamam: - Ah prófe! Bem que poderia ser três aulas em vez de duas, né?... Mais risos.

Aqueles risos e murmúrios começaram a me conduzir justamente ao mundo irreal de que tanto ele discursava: minha sala de aula, meus alunos. E o discurso continuava:
- ...Ao ouvir o sinal de entrada, você, professor, corre para dar a aula e ao chegar, para abrir a porta de sua sala, os alunos te empurram, entram e sentam depressa para aproveitar o máximo do tempo, cada segundo, nem conversam, desesperados para começar as tarefas do dia, com medo de não dar tempo!, - "Ufa, que sufoco!".

Ah! Sala de informática, será que é sobre isto que ele vai falar agora. Quase não o ouço, o som dos risos atrapalham. Não consigo ver graça.
- ... No momento em que toca o sinal de saída, seus alunos não saem da sala de jeito nenhum, querendo ficar lá mais um pouco e você, desesperado, querendo sair, para dar aula em outra escola e eles dizem com aqueles rostinhos de anjos: - "Que pena prófe!, a aula acabou!" e você fica triste por ter que ir embora.

Agora já é demais, ele está olhando para mim. Será que está falando de meus alunos! Que pretensão! Muita coincidência. Deve ser porque não estou rindo. Rir, dá vontade de rir sim. Como é que todos conseguem alienar-se e achar que estes fatos ditos tão ironicamente por este palestrante, são totalmente impossíveis de acontecer um dia. Um poema. Ele está declamando! Versos ou anedotas?... Versos, poemas, poesias, isto me faz lembrar das Poesias sem Fronteiras, um mundo real, tão real, que alunos daqui do Brasil conseguem conversar com o mundo através de um computador, uma conexão, uma Internet e aquele barulhinho do mouse clic, clic, clic...

Ah! Esse barulhinho do "clic" não sai de minha mente, agora, mesclando com esses risos e gargalhadas... Será que ele já fez alguma palestra para professores sobre o uso da tecnologia na escola? Internet? Uso de computadores na sala de aula? Palestra! Nossa! Este mês tenho que estar participando do terceiro Workshop do Programa Enlaces: "Tecnologia integrada ao currículo ". Lembro do primeiro que participei, em maio de 2001, uma semana longe da família, nosso mestre, R.W. "Buddy" Burniske, as coordenadoras do Programa Enlaces, Thereza "Kika" Brino, Valeria Lima e Elisa Almeida", trabalhando como loucos, direcionando as atividades, dando as coordenadas e orientando os professores participantes quanto ao desenvolvimento de projetos e nada de risos, muito trabalho, afinal tudo isto será para eles, nossos alunos, a criação e desenvolvimento de projetos telecolaborativos.

Iniciar um projeto, me faz voltar no início do ano. Novo horário. Segundas-feiras, aquele choque: três aulas seguidas com uma turma do 3º ano "B" do ensino médio e os professores comentando: - "Coitada da professora! Três horas com a mesma turma, num mesmo dia". Fiquei preocupada, era uma sala totalmente indisciplinada. Logo em seguida, iniciei "aquele" projeto, Poesia sem Fronteiras do Programa Enlaces com esta turma, utilizando a poesia como elo entre alunos do Brasil e do mundo através da Internet. Para minha surpresa, depois de algumas aulas, muitas pesquisas em sites, envio de e-mails, e ao chegar na porta da sala de informática, todos já estavam lá me esperando, entravam rápidos e ouvia os comentários: - "Ainda bem que hoje temos três aulas, né prófe! Dá para aproveitar bem o tempo", sentavam-se em grupos em frente aos computadores e como os via somente de costas, pensava: - "Anjos não têm costas!", antes, ao vê-los, pensava: - "Lá vem aqueles bagunceiros, terei que ficar três horas com eles, que desespero!".

Foi assim que tudo mudou. Para conversar com eles, somente dizendo: "Desliguem seus monitores". Na hora em que sentava em frente ao computador para dar alguma explicação, todos ficavam ao meu redor, quase ficando sem ar, me imaginando aquela galinha carijó com os pintinhos em sua volta, aonde eu ia, eles estavam atrás, perguntando e questionando, querendo novidades, sentindo necessidade de aprender, conhecer seus colegas parceiros do projeto, que estavam tão distantes, do outro lado do mundo, mas tão próximos!

Antes do projeto, quando "lia" algum poema, meus alunos não davam atenção, ficavam tão distantes, e agora ao "digitar" algum poema, ficam tão próximos, todos lêem "SIMULTANEAMENTE", produzem textos, analisam e comentam os poemas "by disquete" e eu não preciso levar para casa aquelas pilhas de provas e sim, em cada aula, coloco estes textos na tela da televisão e com os próprios alunos faço as devidas correções e avaliações.

No término das aulas, eles até reclamavam: - "Bem que amanhã poderíamos ter novamente sua aula?". Só que amanhã, eu não terei aulas com esta turma. E, se por algum motivo, ausentava-me das aulas, eles queriam saber o porquê, e retrucavam: - "Não dá prá senhora trocar as aulas".

Distantes... Próximos... Antítese ou paradoxo? Eu aqui, o palestrante lá, tão próximos, tão distantes. Alunos... Mundo...proximidade. Mudanças! Transformação! Modernidade! O que estou fazendo aqui nesta palestra?

Sei que não posso consertar o mundo, mas alguma coisa está acontecendo para que ele mude e eu estou participando desta mudança através do Projeto Poesia sem Fronteiras, fazendo com que os alunos ao entrar na sala de informática, percebam o prazer em aprender, compartilhando seus conhecimentos. A alegria que eles sentem ao se conectarem com o mundo, torna a aprendizagem mais prazerosa.

No término do período, me olho e sinto minhas mãos suaves, cheirosas e meus cabelos soltos e o avental então? Até esqueci de colocá-lo. Para quê? Sou igual aos alunos na sala de informática, eles me ensinam e estou aprendendo a cada dia.

Término! Ah! A palestra acabou...


Veneza de Almeida Babicsak
venezababi@bol.com.br


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