Besouros
Vi caminhando numa certa varanda de acampamento um besouro negro, de esqueleto brilhante, que mais parecia um cavaleiro solitário. Solitário e triste.
Tinha ele duas asas mas, por alguma razão de mim desconhecida, não voava mais. Rastejava com dificuldade, apesar de possuir seis pernas. E estava andando em círculos, feito criatura desorientada.
O pobre bicho, ao que parecia, não via os obstáculos à sua frente: insetos mortos, pedras, pedaços de papel, fios de cabelo... Se tinha olhos não sei. Tinha duas antenas, aparentemente inúteis.
Talvez estivesse já muito velho, cansado, abatido. Morrendo, quem sabe... Mas não desistia: continuava sua peregrinação...
Aquele besouro lembrou-me o homem sem Deus. Lembrou-me a criatura infeliz, indefesa, que sonhos e esperanças não tem mais.
Também lembrou-me The Beatles (“Os besouros”), que já foram quatro, que tanto já brilharam, tanto cantaram, voaram, correram, andaram e, por fim, se cansaram... E se separaram...
Vi claramente naquele inseto a figura de John, cuja vida foi ceifada por um outro “besouro cego” e obstinado de loucura. Também me veio à lembrança George, que recentemente pereceu velho, esgotado e doente.
Cansei-me, afinal, de observar o coleóptero e me afastei. Quando retornei, ele havia desaparecido, o que me fez lembrar os outros dois: Paul e Ringo. Como será que estão vivendo (ou sobrevivendo)?
Torno a me lembrar da pobre criatura. Já deve ter morrido. Na certa, seu tempo de vida expirou. Ou, talvez, tenha servido de alimento para um bicho maior. Quem sabe, até, foi esmagado por um ser... humano...!
Isto é para você pensar...!
Luiz Antonio Decottignies
professorbuza@hotmail.com
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