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cronicas-->Beijos no Ar -- 18/06/2002 - 20:38 (Daniel Amaral Tavares) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
De perto ela não parecia grande coisa, ou não ostentava tanta beleza, se lhe parecer mais sutil. Mas ele, nem aí. Babava por ela incondicionalmente, podia a moça estar do avesso.

Mas era o avesso do avesso. Educada, culta e simpaticíssima, conquistava uma legião de fãs, masculinos e femininos, por onde passava. A risada, contagiante. Os cabelos soltos e brilhantes exalavam um doce perfume de nozes e o charme com que gesticulava regendo cada palavra a tornava mais e mais especial. Um tipo comum, jeitinho moleque, com sardinhas espalhadas por toda a cara e covinhas deliciosas que se mostravam e se escondiam.

Embriagado pela presença daquela deusa, ele mal raciocinava. Os amigos já não o suportavam, os familiares estranhavam a distància daqueles olhos e tentavam adivinhar por onde andava o pensamento daquele menino. Ninguém imaginava que aquilo tudo fosse paixão. Mas era, arrebatadora, invasora, em chamas. Pensar nela era viajar por entre formas e prazeres, ainda que platonicamente, já que o alvo nem se dava conta do desejo do rapaz.

Se conheceram na faculdade. Ela popular, irreverente, falante, cobiçada. Ele um mero figurante, desses que todo mundo gosta mas que ninguém sente a falta. Não era feio. Nem bonito. Também um tipo comum, mas um comum comum demais.

Foi numa festa da faculdade que ele planejou se declarar. Ensaiou gestos e falas, sempre reproduzindo também as falas dela. Finalmente revelaria aquela paixão reprimida há anos.

Era noite de sexta-feira. Lua brilhante iluminando o céu e os namorados. E a festa rolando, rolando e nada. Cada vez que criava coragem e se aproximava, um novo obstáculo atrapalhava seu intento e ele recuava. Ou uma amiga a tirava pra dançar, ou um inconveniente a abordava. A noite se arrastou até a hora em que ele a viu só, num canto qualquer, como se à espera de algo. Dele talvez. Tragou um gole quente de whisky e caminhou determinado até ela. De cara ela se abriu em sorrisos e ele arrepiou até o couro cabeludo. Ela perguntou se ele estava bem, se estava gostando da festa, coisa e tal. Ele jogou a velha e batida " melhor agora" e, apesar da frase infeliz, eles continuaram a conversa.

Meia hora e nada. Uma hora e nada, nada do sujeito falar. O peito apertado do amor sufocado mal o deixava respirar. Completamente embriagado (e o whisky não tem nada a ver com isso), ele se alimentava da total presença dela até a magia se desfazer quando ela anunciou que iria embora.

Ele, completamente perdido, só teve a reação de acompanhá-la até a porta. Ela sorriu e beijou-lhe a face. Agradeceu a companhia e disse que há muito não se sentia tão bem. Ele, em silêncio.

Ela desceu as escadas como se flutuasse. Ainda olhou pra trás e jogou um beijo pra ele. Ele pegou o beijo no ar e devolveu. Ela correu para a rua pra pegar o beijo dele e foi nesse instante que o mundo parou. O barulho da freada rasgou o silêncio.

Ele ficou paralisado por alguns infinitos minutos enquanto corriam pessoas pra reavivar o corpo estendido no chão. Gritos nervosos e chorosos inundavam o ar . Ele não deu um passo sequer. Continuou jogando seus beijos pra menina inerte no asfalto.

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