Dia de jogo. E como não tem graça ir ao estádio sozinho, fui buscar um amigo no hospital em que ele trabalhava. De lá, enquanto esperava no carro, resolvi ligar pro escritório de meu amigo Célio pra ver se ele queria ir também.
- Aló!
- Aló! Bom dia! É Fernando?
- Não. Um minuto que eu vou chamar.
- Não!... - Nem tive tempo de explicar. Foram chamar Fernando.
- Aló! Aqui é Fernando!
- Oi Fernando, aqui é Abu.
- Oi Abu, tudo bom? O que manda?
- Nada não, Fernando. Na verdade eu não queria falar com você.
- E por que mandou me chamar?
- Eu não mandei. O cara que atendeu é que é apressado.
- Mas claro que tem que ser apressado. Isso aqui é uma empresa de informática, a gente corre contra o tempo.
- Eu sei, Fernando, mas o que eu estou tentando explicar é que ele nem esperou que eu dissesse com quem eu queria falar.
- Mas você não disse? Tanto é que ele me chamou.
- Eu apenas perguntei se era você. Não disse que queria falar com você.
- E como é que você pergunta se sou eu, se não quer falar comigo? Tá viajando?
- Não. Foi apenas uma questão de educação. Perguntei se era você porque achei a voz parecida com a sua, queria cumprimentá-lo, dizer qualquer coisa, antes de pedir pra chamar Célio.
- Você queria me cumprimentar? Então queria falar comigo. Não estou entendendo.
- Fernando, preste atenção: eu pensei em cumprimentar você porque pensei que fosse você. Aliás, eu cumprimentaria quem quer que fosse. Só perguntei se era você porque pensei que fosse.
- Olha Abu, não é por nada não, mas eu não posso perder muito tempo. Finalmente: você quer falar comigo ou não?
- Não. Quero falar com Célio.
- E por que não disse logo?
- Eu estava tentando. Mas deixa pra lá, Fernando. Não quero mais falar não. Depois eu ligo.
- Você está bem?
- Estou, sim. Depois eu ligo.
- Tudo bem. Até mais, então.
Dez minutos depois eu ligo novamente pro escritório de Célio.
- Aló!
- Aló! Aqui é Abu. Por favor, você poderia chamar Célio?
- Oi Abu! Célio acabou de sair daqui. Foi pra sua casa.
- Pra minha casa?
- É. Fernando disse a ele que você não estava bem, não estava dizendo coisa com coisa, e ele ficou preocupado.
- Que confusão! Eu não estou em casa, estou aqui no hospital São Benedito!
- Meu Deus! Então é pior do que a gente pensava! Espera aí que eu tó indo!
E desligou antes que eu pudesse explicar. Resultado: perdi o jogo. Não deu pra ir ao estádio porque fiquei esperando todo mundo no hospital, só pra desfazer a confusão. Ah, povo complicado...
