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cronicas-->A Linguagem do Tempo -- 18/06/2002 - 20:42 (Daniel Amaral Tavares) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Desleixos do tempo... assim eu ouvi alguém concluir seu pensamento sobre a sua vida atribulada, excitante sim, mas sem muitas lembranças construtivas a serem guardadas com um pouco mais de carinho do que saudosismo. Desde que me conheço por gente (se é que entendo o significado disso), as pessoas - incluindo a mim - reclamam... ora para desabafar e ora outra para ter sobre o que falar. Mas, esta pessoa estava mesmo crente de que a sua atual situação havia sido provocada pelo tempo. Com um pouco mais de quarenta anos e um diploma de garantia, ela havia se aventurado a fazer as escolhas mais atraentes e menos pecaminosas, com aquela hesitação de quem tem o caminho certo guardado debaixo da cama, mas tem medo de conferir porque foi ensinada a temer bicho-papão.

Enquanto jogava seu olhar melancólico, bucolicamente cinza sobre o dia azul e com sol de rachar, tentei entender o que acontecia (mania que tenho... não consigo evitar) com aquela pessoa. Estava ela sentada na varanda do seu apartamento de U$ 350.000,00, bebendo o seu vinho preferido, folheando um exemplar da Vogue e me entretendo com algumas reclamações banais. Pensei logo no meu apartamento alugado (mas que eu adoro!), com uns 10 cómodos a menos do que aquele e no suco de laranja que acompanharia o meu jantar. E eu daria uma olhada no jornal local, para saber se finalmente haviam tapado o tal buraco da avenida principal. Não tínhamos mesmo muita coisa em comum, talvez por isso este convite me pareceu tão estranho. Depois de longos e tortuosos 10 anos de ligações não atendidas e cartas devolvidas, ela havia aparecido do nada, armada com aquele olhar de Greta Garbo e reclamando com toda classe dos infortúnios causados pelo tempo. Mas, não havia muito o que ser reconhecido nela... tudo feito de acordo com o gosto do freguês... boca, nariz, queixo, seios...

Em meio a um comentário mal-acabado sobre a sua vida, fui logo tentando me desvencilhar daquela história. O tempo pode até passar para todos nós, mas não se pode culpar aquilo do qual não soubemos tirar o melhor. Não há nada que faça valer o conforto e a perfeição que nela se estampavam... não quando casados com uma tristeza tão infinita quanto o tempo de um que vai se emendando com o do outro depois da morte.

Voltei logo para casa e corri para o quarto. Olhei bem para o espelho, procurando o tempo sobre o qual ela tanto falou. Tirando o fato de que as minhas cicatrizes eram mais escandalosas do que as dela, o resto estava valendo. Mesmo com as pernas tortas, peso a mais e essas coisinhas que acompanham os descuidados, ainda tinha a mim e, bem ou mal, era o que realmente era meu.

Eu esperava do tempo uma resposta sobre como as coisas andavam com a minha amiga, mas descobri que ela havia feito dele algo menos feliz, lhe dedicando os adjetivos mordazes que cabiam a ela e codificando aquilo que aquele que olha debaixo da cama logo entende: não há tempo ruim que resista à certeza de que a felicidade só é entendida depois que ela passa. É preciso vivê-la antes de explorá-la... este sim é um descuido do tempo. E eu nem precisei pagar para ver ou para construir uma resposta que pudesse ser aceita.

É a linguagem do tempo... experiência em conviver consigo mesmo dá em menos culpa e mais lealdade com as coisas do coração.
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