Vimos esses dias na capa de ZH fotos de todos os jovens assassinados no último mês (era isso?) Foram reunidas para causar mais impacto? São para tapar o vácuo de notícia das férias?
A notícia tem um lado autoritário. A informação nos persegue, queremos fugir disso. Temos um amoreódio: precisamos de ficção para viver, recorremos aos telejornais, mas com isso nossa vida é marcada a todo momento pela desgraça alheia, pelo tumulto do mundo, vivemos a vida de todos. Ainda que os nazi governem a Áustria, ainda que a Lilian Wite Fibe com cabelo novo e sorriso velho dizendo que o transplantedegenesnãodeucerto, ainda assim há a padaria da esquina - mística deliciazinha, com o cheirinho e tudo - e há a alegria de dar uma volta na esquina num dia de sol e pessoas sorrindo e caminhando pelo parque com inocência: elas ainda não ligaram a televisão. Como no período barroco, onde o imaginário era construído pela Igreja com o terror do Inferno no dia a dia, vivemos superexcitados, confundindo a ficção da informação (porque condensada, pausterizada num formato que causa impacto, re-criada) com a realidade do mundo (a mídia tem sua lógica interna, e tudo que não é produtivo é lixo).
Primeiro, a mídia é viciosa - só é notícia o que tem formato de notícia e se não tem formato de notícia não pode ser notícia. Quer dizer o mundo lhe escapa, ou submerge na forma. Mas além disso nosso tempo é regulado pela mídia, assim como os tribais se regulavam pelo céu, etc., nosso espaço é construído pela monotonia do RBS notícias. Haverá vida lá fora? Haverá tempo lá fora?
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