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Poesias-->Tempo -- 25/10/2002 - 04:17 (Ana Paula Sardinha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Tudo parecia perfeito em minha vida, eu possuía tudo o que um ser almejaria possuir: dinheiro, um marido perfeito – um amante perfeito – sucesso profissional... Eu estava feliz, entretanto, não era feliz. Momentos felizes, de uma felicidade ilusória...

Julgava-me esperta, uma mulher de sorte, astuta, jogava para vencer e vencia sempre no jogo da vida – uma vida ilusória... Aos trinta e dois anos cria que já havia vivido muito, uma vida agitada, badalada e invejada. Cria também que ainda haveria muito tempo para viver, tempo para que depois de realizar a todos os atos profanos que me davam prazer, pudesse viver uma vida regrada. Sabia que sempre teria o homem que me amava ao meu lado, que faria tudo por mim, e que seria capaz de perdoar-me por tudo, se um dia viesse a tomar conhecimento de meus atos. Achava que ainda haveria tempo de arrepender-me, tempo, um tempo sem fim.

...era uma linda manhã, o sol brilhava suavemente nas primeiras horas do dia, estava na casa da praia junto a Jeorgine, enquanto meu comportado marido permanecia em seu escritório, sempre tão dedicado ao trabalho honrado, aos estudos filosóficos e científicos... Jeorgine era um homem alto e atlético, tudo o que possuía na vida era um corpo escultural e lindos olhos sedutores, quando estava ao seu lado sentia um algo que não sei definir, uma energia, uma vibração que tomava conta de todo meu ser.

Após uma abrasadora noite de amor, despertei em sus braços, a janela do quarto estava aberta, o sol atrevido adentrava na intimidade do aposento, iluminando delicadamente nossos corpos nus, desvencilhei-me habilmente de seus fortes braços e sentei-me mansamente sobre a cama para poder admira-lo , adora-lo. Fiquei ali, parada, estática, como se fizesse uma prece ao homem que considerava o meu deus!

De repente despertei como se de um transe, percebi que perdera a noção do tempo que ficara ali, e julguei-me tão feliz, a mulher de maior sorte sobre a face da Terra. Ele era minha doença, meu vício, uma paixão desenfreada que meu consciente jamais pôde compreender.

Maurício, meu marido a cinco anos, era totalmente o oposto de toda essa paixão, de toda essa loucura. Um homem maduro, meigo, intelectual, sério, dedicado a família... Ele era a segurança, o homem que supria a todos os meus caprichos.

Fui banhar-me para depois caminhar um pouco sobre a praia, vesti um longo e esvoaçante vestido branco, fui caminhar descalça pela areia, um vento soprava de leve, sentia-me como se fosse voar, aquela sensação de que não havia nada mais no mundo além de mim, de que nada mais importava, deixava com que o vento batesse em minha face e levasse consigo toda a história, todo o mundo, todas as pessoas, o passado, o futuro, e que deixasse comigo apenas o presente, o presente deste único instante, desta única verdade, dessa verdade, que na realidade, não existia.

Depois veio o almoço, novamente o amor e mais tarde, ao anoitecer, arrumamo-nos para ir ao cassino, gente importante, dinheiro rolando no ar, bebida, luxúria... há, como eu gostava dessa vida, esse era o meu mundo, era tudo o que me fazia viver. Entretanto, eu tinha uma consciência, uma maldita consciência que fazia-me discernir o bem do mal. Como eu amaldiçoava essa tal consciência, como queria desfazer-me dela!, mas ela me perseguia, perseguia-me onde quer que fosse, onde quer que tentasse esconder-me, refugiar-me, e esse era o meu tormento. Gostava de viver como vivia, assim era feliz – então por que essa sensação de que fazia algo errado? O por que dessa voz insistente , dizendo-me, alertando-me sempre sobre o que deveria ou não fazer? Amaldiçoava aos céus e a Terra por tal poder de raciocínio!...Como fazer para esquecer?, para poder ser o que gostava de ser, livre de qualquer culpa? A bebida, a bebida era uma boa saída, deixar a atmosfera do ambiente te levar, a música, as vozes, a roleta girando e girando...

Era tarde da noite, eu e Jeorginne estávamos completamente bêbedos, estávamos alegres, riamos muito, riamos de nós mesmos, era como se não me agüentasse dentro de mim mesma, como se meu corpo fosse pequeno demais para mim, como se quisesse sair, ir aos horizontes proibidos, aos quais não podia alcançar, queria ir além, além não sei de quê. Eu era a soberana, eu era tudo e tudo girava em torno de mim.

Jeorginne dirigia o carro, não sabíamos para onde estávamos indo, pegamos uma estrada já vazia aquela hora da madrugada. De repente um clarão, um clarão que ao chegar mais perto foi tomando forma, era um caminhão que vinha em alta velocidade ao nosso encontro. Ambos tentamos desviar, mas não havia tempo. Do clarão ao choque, apenas cinco segundos, pude entender claramente o que acontecia, cinco segundos que me foram suficientes para que toda minha vida passasse por entre meus olhos, toda a iniqüidade que cometia, toda a luz e conhecimento que tinha da verdade e o como a desprezei e ignorei. Não havia mais tempo, tempo para sorrir, tempo para o prazer, tempo para o arrependimento, tempo, não havia mais tempo, eu era tão jovem e não havia mais tempo!

Eu morreria, morreria e não haveria mais vida, sabia o que me esperava e pasma, não podia crer!, tempo, pensei que estivesse tão longe o seu fim, mas estava ali, tão perto de mim, mesmo a minha frente. Não havia mais tempo – Fim!!!

Do susto a dor, da dor a escuridão, da consciência da escuridão, o nada, o vácuo, o vazio. Depois uma luz, como se acordasse de um sonho, confusa, sem saber onde estava, sem noção do tempo, o tempo...Preparei-me para acender um cigarro, estava louca por um cigarro... mas eu não podia, não tinha um corpo, foi ai que lembrei-me claramente do ocorrido, eu estava morta, não possuía mais um corpo, mas havia um espírito e uma consciência – a maldita consciência continuava me perseguindo, quantos se suicidavam

Para livrar-se dela, mas ela continuava sempre ali, como uma sombra, como um tormento sem fim. O corpo havia ido, mas o desejo continuava, e naquele momento desejava fumar, beber um gole de álcool, eu desejava, desejava muito, queria apagar a consciência, esquecer-me dela, da realidade, queria fugir e não tinha pra onde, agora não havia mais solução, e não podia esquecer, a realidade estava a minha frente, estava ali e ali permaneceria eternamente!

O pior de tudo é que já não havia mais a esperança, a esperança do tempo, do tempo do arrependimento. A história de minha vida estava fechada, o tempo de minha provação já havia passado, fui eu mesma quem escreveu a história desse livro, seu início, meio e fim. Um meio confuso e libertino, um fim trágico, assim como eu mesma escolhi. Palavras não podem descrever o que sinto, troquei a felicidade eterna por momentos vãos, confundi esses momentos com felicidade e só hoje reconheço a diferença entre estar e ser feliz. O tormento aqui é terrível e indescritível, não há fogo abrasador, não há dor física, mas há algo muito pior que tudo isso, uma dor mais profunda que tudo, uma dor que jamais imaginei existir, a dor da desesperança, a dor da realidade, a dor de saber que jamais alcançarei a verdadeira felicidade, porque de livre escolha e conscientemente a neguei, e a troquei por algo bem menor!

Fiz eu mesma a opção, estou recebendo as conseqüências, aguardando a decisão final e torcendo, ainda, para que não seja tão terrível quanto a que imagino merecer.

ANA PAULA SARDINHA (Paolla)











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