O vermelho e o amarelo, um contraste em campo.
Outro contraste: "Diabos Vermelhos" contra calções azuis da paz. Nessa antítese, um jogo de vida ou morte entre duas seleções com destino à s quartas-de-final.
Nas arquibancadas, milhares de torcedores anseiam pela vitória. Somente ela interessa a todos. Ninguém quer voltar pra casa trazendo na bagagem a derrota, a desilusão, a desesperança. Já temos tudo isso aqui e em abundància.
O jogo começa e percebo logo que a seleção brasileira tem dificuldade em avançar e ainda por cima perde a bola com facilidade para o adversário. Por todos os lados, há blocos vermelhinhos na construção de jogadas, ziguezagueando a bloquear o vóo canarinho. Parece pesada, a bola para nós. Não acontecem faltas para o Roberto Carlos cobrar e balançar aquela rede geométrica. Até as faltas estão escassas. Tudo está escasso. A bola não alcança Ronaldo e este não alcança o espaço entre as traves. Precisamos de gol. Nos alimentamos de gol, respiramos gols e ele nos falta. Asfixia mata. Um pouco de alívio quando percebo que o juiz troca o gol marcado, por uma falta a nosso favor. Bendito juiz, alegria para nós e tristeza para eles.
A pressão diabólica aumenta em campo, o sufoco continua e ficamos sem poder avançar. A cada momento, a respiração nos falta até que num determinado segundo, o oxigênio chega através dos pés do Rivaldo que com um jeito especial, num giro milagroso, libera o grito da galera asfixiada.
Não sei se perceberam mas, os erres continuam a roer as redes adversárias. Que roem até o penta chegar. Contagem regressiva, só faltam três e não são pedreiras, são rochedos.
Rochedos a serem dinamitados com jogadas rápidas e certeiras. Certeiras em todo o quadrante do campo, principalmente na defesa onde os zagueiros observam o goleiro Marcos, no fogo cruzado com os "Capetas Vermelhos". São mesmo ferrenhos e como jogam, os belgas! Atacam como nunca até que recebem uma ducha fria. O Ronaldo aproveita bem o lance enviado por Kléberson confirmando a equipe para a próxima etapa.
Que venham os ingleses, que possamos registrar outra vitória sobre eles em copas do mundo.
E continua a contagem regressiva.
Pirapora, MG 17 de junho de 2002
Juraci de Oliveira Chaves
