Rua deserta
Horas mortas.
Meus passos fecham-se num circulo vicioso.
O cigarro queima-me os lábios...
O corpo não responde.
-Vai, diz-me, vai! Caminha! Avante!
Caminho. Sigo. Mas os passos se sobrepõem.
O círculo prevalece.
O corpo, agora, simples mancha de sangue
em mar de neve... é um cordeiro!
-Vai, diz-me, vai! Caminha! Avante!
Caminho e, da estrada, uma gargalhada
vem, e se acumula em minha alucinação.
Medo... tenho medo do beijo da boca da noite!
Sinto em teu calor, suave, algo fatal escondido.
Teus dentes!...
Nesse negrume a mancha de sangue,
em mar de hospício,
teme o branco de tua boca.
Branco que se precipita pelo buraco da lua...
Meu corpo não responde...
-Vai, diz-me. vai! Caminha! Avante!
Enlouqueço!
Amanhã... depois, o dia menos esperado
hás de te surpreender,
maldita voz de comando!
Hei de negar-me.
Hei de acabar com essa cega obediência.
Hoje sou incapaz... hoje não sou.
A alucinação provocada por teu corpo
mantem-me sob domínio... fascina-me!
-Vai, diz-me, vai! Caminha...
Não posso!
Como vou encontrar a reta solidificada,
se nesta desgraçada rua deserta
meu raciocínio foge pelo buraco de tua boca?
Cala-te!
Deixa-me!
Deixa-me continuar assim,
neste mesmo círculo da vida
até chegar um dia
em que encontre a saída
desta rua deserta!
Deixa-me até chegar esse dia...
Pezente.
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