O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) inicia seu discurso sobre o Esclarecimento afirmando: “Esclarecimento (...) é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado”. Esta menoridade não vem a ser falta de entendimento ou ignorância de. É a falta de vontade ou de coragem que o homem tem para fazer uso do entendimento utilizando seus próprios meios de que dispõe: a razão.
Essa falta de coragem, essa preguiça, cai na passividade, fazendo com que o homem se pergunte por que procurar respostas se os livros, os pastores, os cientistas, lhe dão de “mão beijada”.
“É difícil para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza”. Quase, diz Kant, isso talvez signifique que os grilhões da menoridade sejam mais frágeis do que imaginamos. Mas novamente caímos na coragem: na coragem que o homem tem de ter para se libertar de seus grilhões e sair da caverna.
Os mitos ofereciam soluções às questões acerca da natureza e os homens não tinham a intenção de questionar tais respostas, pois questionando seriam impelidos a apresentar outra explicação tão ou mais convincente que a anterior. Novamente a questão da coragem. Como exemplo de tal atitude podemos citar os filósofos pré-socráticos, que saíram desta menoridade, indicada pelos modernos, e portanto, do jugo dos dogmas: “a superioridade do homem reside no saber”, afirmam Adorno e Horkheimer. E foi o que aqueles filósofos fizeram.
Adorno e Horkheimer asseguram que o Iluminismo (ou Esclarecimento), à medida em que avança, acaba se envolvendo com a mitologia. Essa vontade de “livrar o mundo do feitiço” acaba com a “eterna mediação universal”.
Essa dominação obteve vários rótulos no curso da História: os Mitos na antigüidade, a Razão (ou iluminismo) na modernidade e, hoje, talvez pudéssemos apontar a Ciência – ainda sob a supremacia da Razão. Pois, assim como os mitos, a Ciência propaga suas respostas, não admitindo que a contradigam. Ou melhor, para contradi-la deve-se ter em mãos provas tão contundentes quanto as dela. Decerto, não nos parece estranha a idéia de sentirmo-nos impotentes, uma vez que contra a Ciência nada podemos, pois estamos, cada dia mais, sob seu jugo e sobre suas verdades.
Taitson A. L. dos Santos
* Texto originalmente publicado em "A Tribuna Piracicabana" - 05/01/2001.