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Cronicas-->O Bendito Poodle -- 22/06/2002 - 01:09 (Eric Arelli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Bendito Poodle
14/02/02


O dia já se revelava longo e cansativo antes mesmo de começar. A monstruosa personificação do tédio bailava perante meus olhos; o verdadeiro significado de pensar peripatéticamente era enfim relevado. E esse preço tão alto eu deveria pagar simplesmente por ficar durante todos os segundos do dia aqui, enjaulado, em minha casa, que por sinal nunca esteve tão grande.
Como todo cidadão que beira a maioridade, contudo, fui descartando as atividades que podia exercer sozinho, no meu recinto. E, é claro, a primeira foi o sono. Imaginei que podia excluir grande parte do tempo dormindo. Até que meus sonhos se realizaram, e quando me vi novamente acordado, já era quase noite. E como é de vícios que se constrói um homem, um dos meus grandes tomaram conta de mim. Precisava sentir uma coca-cola tocando meus lábios, invadindo minha boca e espancando minha garganta. É claro que a único certeza que eu tinha no momento é que nenhum pingo de coca existia em minha casa, e que apenas andando vários (que p/ mim eram incontáveis) quilómetros eu conseguiria ter em minhas mãos uma garrafa de tal líquido.
A preguiça e o sedentarismo se mostraram ainda maiores que o vício, e a minha idéia de caminhar fracassou instantaneamente. Meu pai jamais me levaria de carro até a padaria, a não ser que eu fizesse um imenso (e humilhante) favor para ele: caminhar em frente a rua mais agitada do bairro, onde existe maior concentração de jovens que adoram zombar e rir da desgraça dos outros, com um poodle homossexual recém operado de vasectomia (com aquela belíssima fraldinha pós-operação), enquanto o infeliz animal se sentia aconchegante para fazer suas deploráveis necessidades.
Foi movido a tamanha desgraça que pude ter meu tão esperado momento de paz. Após sentir meu rosto quente e avermelhado por vinte e cinco minutos devido à imensa vergonha, pude chegar em casa, abrir a geladeira e encontrar uma garrafa de dois litros da tão desejada Coca-cola. Em supremo frenesi, peguei o primeiro copo que vislumbrei em minha frente, coloquei-o em posição estratégica para adicionar o líquido, e fui enfim tirando a sacola plástica que envolvia a garrafa. Já podia sentir o cheiro e, principalmente, o gosto da vitória tomando conta de todo meu ser. O copo urgia pelo líquido, e meu corpo não sentia nada além de expectativa. Com a retirada do plástico, vislumbro com vigor o rótulo da garrafa: Coca-cola LIGHT. Sim, LIGHT!
Meus olhos se paralizaram no tão odiado LIGHT, pois para mim a ingestão da coca diética não significava nada menos do que suicídio. O cheiro pútrido do adoçante presente na Coca Light invadia minhas narinas. Tudo que me restava era gritar e lamentar. Envolvido em toda essa fúria, peguei firmemente a garrafa com uma das mãos, e isolei-a no chão de granito da cozinha. Com sua queda, o liquido espalhou-se por todo o assoalho, com toda aquela espuma e aquele odor insuportável. Em seguida a isso, subitamente, escuto o ganido do poodle estéril vindo da sala, juntamente com seus humildes passinhos apressados. Ao ver tudo aquilo derramado ao chão, o animal virou-se, agachou-se, e com sua asquerosa língua sorveu rapidamente aquele líquido preto. Eu havia dado então a diversão e a bebida ao cão. Maldito inventor da ironia!
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