Saltei da cama preocupada:
Primeiro, por ter perdido o início do jogo - o sono da madrugada venceu a minha ansiedade - e segundo, por ter sonhado que o adversário marcara um gol. Fui logo analisando que se fosse a nosso favor, a cidade estaria em fogos. Enxuguei o suor da testa apesar do frio. Caminhei em direção à TV e me recuei antes de ligá-la. Preferi recorrer a Deus antes de ver o placar.
O silêncio continuou até que a casa acordou e todas as televisões foram sendo ligadas. Ninguém falava nada, só olhava para os marcadores indicando vitória para a Inglaterra.
Um vizinho gritou pela janela avisando que o amigo Tião, fanático torcedor brasileiro, sofrera um enfarto e havia falecido, enquanto jogava sinuca, Ã espera do jogo. O coração falhou, ou melhor, já vinha falhando.
Surgiu o medo: " Será que ele veio me avisar que estávamos perdendo?"
Tristeza maior quando o repórter anunciou que o escritor Roberto Drummond havia falecido.
A esperança encontra coragem novamente na qualidade e na garra de nossos jogadores. Ronaldinho Gaúcho criou a jogada que passou a bola para Rivaldo empatar com categoria. Rivaldo era o mesmo Rivaldo, goleador nas horas necessárias. O céu estrelado se misturou com as estrelas dos fogos.
Contraste de novo: choro de uns, alegria de outros. Copa dos contrastes, já disse numa outra crónica.
Mas eu continuava melancólica; qualquer deslize estaríamos fora da copa. O jogo continuou tenso com cada seleção analisando suas jogadas com cautela. Por um instante pensei que as minhas preces não chegavam ao destino certo, eu andava pra lá e pra cá numa casa que triplicava de tamanho. Esperava a resposta divina e ela veio para calar a boca do mundo que falava o Brasil incapaz. Numa cobrança de falta, Ronaldinho Gaúcho cobriu o goleiro, num gol fantástico, confirmando nossa seleção para a semifinal. A expulsão deste foi mais para uma confirmação da desacreditada arbitragem nessa copa. Por muito mais deixaram sem marcar faltas. Quem mais perdeu gols foram os juizes. Precisavam levantar o moral e a vítima foi o Brasil. Pensaram que seria derrotado com dez em campo. Equilíbrio total junto com a vitória brasileira.
Alguém me disse, no início da copa do mundo:
"Você não vai escrever mais que três Cronicas sobre essa copa porque o Brasil cai logo."
Ele continua vivo na copa e, eu continuo escrevendo.
Cada jogo uma história nova na busca do penta.
Pirapora, 21 de junho de 2002-06-22
Juraci de Oliveira Chaves
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