Gota Andréia
Eis que do céu mergulha uma gota límpida de chuva.
Cai pura, a mercê das correntes,
Sua origem remota de alvas nuvens, altíssimas e distantes,
Chove junto com outras gotas.
Seu destino? Um botão a desabrochar?
Escorrer sobre o rosto liso de uma criança?
Formar uma lágrima de sobrevivência?
Vibrar numa corda de Ária Cigana?
Gota pura, pura de existência,
Gota livre, cheia de água.
Pinga como um orvalho ao amanhecer
Dorme inocente sozinha sem dor ao vento.
Eis que se junta a outra gota.
Vamos formar o mar?
Porque sou uma gota?
Serei eu, um rio de traçado definido?
Posso ser um floco de neve?
Devo ser usada ou posso só existir?
Cai a gota reta e firme predestinada,
Cai a gota dançando no ar.
Cai pura e sensível.
Dorme ao relento em noites geladas.
Vaga gota como um gato sem destino.
Ato vago de gota, uma lágrima, uma onda.
Gota que cai, tu és uma gota.
Uma gota que flutua, forte e única.
És uma lágrima delicada, um cristal de ouro.
És uma gota, uma gota Andréia.
Lorenzo (Publicada em lua de Câncer –1989)
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