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Artigos-->A TRISTE REALIDADE DE VÁRIAS MULHERES BRASILEIRAS NOS EUA. -- 12/01/2002 - 12:37 (Angela Bretas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MARCAS DO QUE SE FOI...



A triste realidade de várias mulheres brasileiras nos Estados Unidos



Por Ângela Bretas*





A lua brilhava no céu estrelado do Brasil. Aquela noite era especial, pois para Júlia o sonho de casar-se acabava de se concretizar. João era um namorado carinhoso e tinha muita ambição, entre elas a de tentar a vida nos EUA. E Júlia sonhava com este mar de rosas que seria esta aventura. Tudo estava preparado, partiriam para os EUA na semana seguinte.



Este poderia ser o início de uma bela história de amor, se oito meses depois, já nos Estados Unidos, Júlia não estivesse com os olhos roxos da agressão física que vem sofrendo diariamente dentro de seu pequeno apartamento em Pompano Beach. A sorte de Júlia é que ela conta com uma amiga que a tem auxiliado nestas horas, e que já a salvou de abusos maiores. Por vergonha, medo e falta de informações, Júlia continua vivendo este terror da violência doméstica. Ela não quer denunciar o marido por dois motivos: tem medo das consequências que uma denúncia poderia ocasionar, devido a situação ilegal deles no País, e não tem condições de se sustentar sozinha.



O caso de Júlia não é único. Centenas de brasileiras que aqui estão sofrem caladas abusos físicos e emocionais por parte dos maridos, amantes e namorados que um dia prometeram amor eterno.



A carioca Márcia é outra brasileira que sofre com a violência doméstica. Há algumas semanas, ela telefonou para esta que vos escreve com uma voz embargada e disse: "Gostaria de deixar um alerta às mulheres brasileiras que aqui se encontram e que não sabem a quem recorrer: não podemos ficar vivendo em um mundo obscuro, está na hora de procurarmos uma maneira de nos defendermos. Tem muito homem safado aqui se aproveitando das mulheres carentes que estão trabalhando e lutando. Acho que a imprensa poderia de alguma forma auxiliar, através de informações, o que poderíamos fazer para pedir socorro."



A violência emocional é tão estarrecedora quanto física. Vejam o caso de Maria, que reside em Deerfield Beach, trabalha como ‘housekeeper’ e limpa três casas diariamente para poder sobreviver. A situação é mais ou menos similar. " Eu tenho que me virar, trabalho 6 dias na semana para poder pagar as contas no final do mês. Quando chego em casa tenho que cozinhar, passar, lavar, ir ao supermercado e ainda buscar a minha filha de 1 ano, que fica o dia todo na babá. E sofro constantes ameaças de meu marido. Ele acha que eu deveria trabalhar sete dias e que os $ 700,00 dólares que ganho por semana não são o suficiente. Engraçado é que ele trabalha somente duas noites por semana como garçon e fica dormindo o dia todo. Me ameaça quando reclamo e diz que na mulher dele, quem manda é ele. Já não sei mais o que fazer, tenho medo dele, mas não possuo ninguém mais aqui neste País a não ser ele. Minha vida se tornou um inferno...não sei mais o que é sorrir com espontaneidade", disse Maria, mineira de Esplendor, que é casada há dois anos.



Já Lúcia, paulista, conheceu Roberto, de 25 anos, em uma casa noturna em Pompano Beach. Com 38 anos e sozinha aqui nos EUA, a carência de um companheiro e a necessidade de economizar fez com que ela começasse a dividir seu pequeno apartamento de um quarto em Lighthouse Point com Roberto. Nos primeiros meses, tudo correu bem, Roberto se dizia apaixonado e pagava sua parte no aluguel. Mas apenas cinco meses depois, Roberto ameaça Lúcia, já não paga mais o aluguel, se recusa a sair do apartamento e abusa física e emocionalmente dela. Diz que Lúcia é velha, que ninguém mais irá olhar para ela e que ela tirou a sorte grande por ter um homem ao lado dela. Lúcia tentou expulsá-lo do apartamento e o resultado foi ter seu braço torcido, o que a levou a procurar a sala de emergência do hospital de Pompano Beach com a desculpa de que tinha caído da escada.



Este é um tema um tanto controverso, mas ao mesmo tempo é algo que não podemos omitir. São casos assim que estão acontecendo entre a colônia brasileira que clamam por solução. Por exemplo, no Brasil, há a Delegacia da Mulher, que serve como um ponto de refúgio para aquelas que não suportam mais os abusos. Aqui há vários orgãos governamentais e filantrópicos que auxiliam estas vítimas. Mas através de uma pesquisa efetuada em Broward, Palm Beach e Miami/Dade, não há nenhum que possua psicólogos ou pessoal treinado que fale português. Além disso, as mulheres que sofrem abusos são aquelas que, geralmente, desconhecem a língua inglesa, que desconhecem as leis dos EUA, e por estes motivos se tornam mais vulneráveis.



Para uma colônia que vem crescendo a olhos vistos e que quer ser reconhecida como tal, está na hora de termos um local, um centro de apoio, que auxilie estas vítimas e que possa fornecer informações referentes aos seus direitos de acordo com a lei americana ou oferecer uma lista de locais existentes aqui no Sul da Flórida onde estas pessoas possam procurar abrigo em caso de perigo. Algumas igrejas locais possuem ‘conselheiros’ que de alguma forma amenizam o sofrimento das vítimas, mas isto só não basta.



A violência doméstica não atinge somente as mulheres, mas sim toda a sociedade, começando pelos filhos que presenciam estes abusos. Estes estão diretamente expostos à violência e podem sofrer traumas permanentes.

Em um recente discurso, a ex-primeira dama dos Estados Unidos, Hillary Clinton, abordou o tema da violência doméstica com as seguintes palavras: "A solidão é parte da vergonha, que é parte do silêncio".

Mulheres que aqui se encontram estão muito mais propensas a sofrerem tais abusos, principalmente porque há falta de informações. Aquelas que deveriam ser as paredes protetoras do lar atuam como muros do medo. A vítima não vê saída, mesmo que tenha a chave da porta...



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Nota da Jornalista- Os nomes reais foram trocados por nomes fictícios para proteger a identidade das vítimas, que temem represálias por parte de seus companheiros.

Para mais informações quanto as agências e orgãos que auxiliam vítimas da violência doméstica contatem The National Coalition Against Domestic Violence através dos telefones 1-800.799-7233 ou (850)425.2749 - (850) 681.2111 - 24hrs - inglês/espanhol.



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*Angela Bretas é escritora, jornalista, poeta e colunista dos jornais Brazilian Times (Boston) , Brazilian Sun, Brazilian Paper (Miami) e colabora como freelance para jornais diversos no Brasil e Europa - Mais informações através de seu site pessoal http://www.angelabretas.com.br -









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