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Artigos-->Operação Historiográfica em Michel de Certeau -- 25/08/2009 - 04:27 (Maria de Lurdes Mattos Dantas Barbosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A OPERAÇÃO HISTORIOGRÁFICA





Para Certau, a história é a arte de encenação que compreende a relação entre o lugar do discurso, os procedimentos de análise e a construção de um texto. Portanto, a “combinação de um lugar social, de práticas científicas e de uma escrita”.

A particularidade do lugar de onde fala, e do domínio em que realiza uma investigação, é de fato, um lugar peculiar onde somente o historiador que o conhece de forma mais aprofundada, mais intrínseca, tem o conhecimento e autoridade sobre o mesmo. Não se pode destruir de forma alguma, a sua “marca”, ou seja, a sua presença, as suas impressões ali impregnadas. Certau defende o modelo subjetivo, pelo qual toda interpretação depende de um sistema de referencia. E o lugar de onde se fala, está no centro das discursões. Uma prática ligada a métodos que na verdade, protege um determinado grupo (classe, letrada...). O saber está ligado ao lugar e a ele deve submeter-se, às suas imposições, à lei do grupo. É assim de fato, impossível analisar o discurso histórico fora da instituição da qual ele se organiza.

O autor, em debate com alguns elementos da Nova História, deixa evidente a necessidade de reflexão sobre a produção dos fatos, alertando que a metodologia histórica investiu mais na classificação, no tratamento das fontes, e no inventário do que na construção do discurso.

A crise, que se agravou de forma substancial, quando as ciências sociais foram de certa forma se distanciando da realidade da teoria quanto à prática. Nesse sentido, o autor faz uma pergunta importante: “Quando a história se torna para o prático, o próprio objeto de sua reflexão, pode-o inverter o processo de compreensão que refere um produto a um lugar?” E responde de forma categórica que, em caso afirmativo, seria ele, o historiador um fujão; pois acabaria por ceder a um pretexto ideológico. Sendo a história formada por um dado conjunto de pensamentos sistematizados, cujas referencias se remetem a lugares, quer seja econômico, social, cultural etc, a dicotomia entre o que faz e o que diria do que faz, só serviria de verdade à ideologia vigente e
ou reinante.Assim a história seria protegida da prática efetiva. E uma prática sem teoria, na visão do autor, acabaria fatalmente, num determinado dia no “dogmatismo de valores eternos ou na apologia de um intemporal”.

O autor cita alguns autores, como Michel Foucault, Paul Veyne e Serge Moscovici, como atestadores de um despertar epistemológico, que naturalmente, na tentativa de organizar o produto do trabalho a um lugar, um discurso a uma prática, e esta conseqüentemente a uma escrita, se caracterizou de fato, um discurso sobre a ciência. O historiador pode assim, obter respostas para as suas indagações, pelo fato de passar a conhecer para que realmente serve o seu produto, para onde vai e principalmente o porquê dele. O silêncio, também era desejado por ela.

No entanto, a epistemologia, sem referência, possibilitaria a teoria do conhecimento, somente uma mediação sobre algo vazio, sobre o vácuo, por assim dizer; seria trabalhar com o mito, e não com a história em si. O historiador, nesse caso específico, teria o papel de desmistificar o mito, ou seja, de desfazer-lo e ao mesmo tempo, de percebê-lo como sendo um produto do senso-comum, das idéias que proliferam. Sobre os mitos gerados pela história é que são articuladas as identidades presentes. O silêncio participa da linguagem, e neste desvio a escritura histórica se edifica. No entanto, o esquecimento do silêncio se faz necessário para que a história assuma sua função contemporânea.

Portanto, a operação histórica, se refere a um tripé essencial que estabelece relações entre as práticas científicas e a escrita; isto tudo combinado a um lugar social. Este último, sempre submetido de certa forma a particularidades.

A multiplicidade de filosofias individuais em nome de uma história total, na ótica de Certeau, nada mais é do que um fragmentado quadro demonstrativo que possibilita a análise de que a relatividade histórica está calçada na fragmentação, caracterizando assim, o não-dito. E o fato, de que os enunciados, na linguagem de análise, são previamente e
ou anteriormente escolhidos, sem ao menos passarem pela simples observação, reforça o pensamento do autor no que se refere especificamente a facilidade de falsificações.

A pesquisa histórica é movimentada pela localização sócio-cultural de quem a realiza, portanto é praticamente impossível examinar um discurso sob a ótica independente da instituição. Os filósofos divergiam entre si, mas ainda assim, através de suas poderosas instituições, formava um grupo isolável, particular da sociedade. Foi R. Aron, que acabou substituindo o privilégio silencioso de um lugar, por um outro, poderoso e discutível de um produto.E foi a instituição do saber (relação de um sujeito com o objeto), que marcou a origem das ciências modernas. Portanto, a relação intrínseca entre uma instituição social e a definição do saber, proporcionou a especialização de instituições políticas, eclesiásticas etc. O que ocasionou a redistribuição do espaço social, também chamado de fundação de “corpos”.

Um lugar científico foi constituído, após o endurecimento das universidades ao se fecharem, num momento bastante crítico. E, a relativa retirada dos assuntos religiosos e públicos, possibilitou a instauração de uma instituição de saber indissociável.

Segundo as pesquisa de Habernas, uma “repolitização das ciências humanas se impõe: não se poderia dar conta dela, ou permitir-lhe o progresso sem uma teoria crítica de sua situação atual na sociedade”. Concordo plenamente com o autor, pois na verdade é de total leviandade toda e qualquer mudança, que não seja antes discutida, avaliada, principalmente no papel que exerce de positivo na sociedade.

Uma mudança de sociedade, no entanto, permite ao historiador, conforme o texto, um distanciamento com relação aquilo que se torna globalmente um passado.

De acordo ainda com o seu pensamento, o historiador ao trabalhar nas margens, a vagar nas sombras, distante do paraíso de uma história global, transita no lado oposto das racionalizações adquiridas, caminha por desvios, cercados por regiões exploradas, como: o mundo esquecido dos camponeses, a loucura, a feitiçaria, etc. Transita, portanto, pelas zonas silenciosas.

Apesar de a história ter sido fragmentada numa pluralidade de histórias, havia evolução e o conhecimento histórico restabelecia o mesmo pela relação comum. Atualmente, (para o autor), o conhecimento histórico é julgado melhor por sua capacidade de medir exatamente os desvios, não só quantitativos, mas também qualitativos. A operação histórica tem efeito duplo; por um lado, historiza o atual e por outro lado, a imagem do passado mantém o valor de primeiro representar aquilo que falta.

A operação que faz passar da prática da investigação à escrita, causa estranheza ao autor, devido naturalmente ao processo de investigação, por exemplo, poder ser interminável, enquanto que um texto, obrigatoriamente tem que possuir um final estruturado. E ainda sob o olhar de suas observações, conclui que a escrita história ainda hoje permanece controlada pelas práticas, sendo ela própria uma prática social. Confere ao leitor, portanto, um lugar pré-estabelecido, distribuindo o espaço. Mas ao mesmo tempo, tem o regulamento ambivalente “de fazer história”. E, como disse Jean-Pierre Faye, de impor violências de um poder e de fornecer escapatórias.

A escrita dispensa na cronologia de todo o relato, a um não dito que é o seu apostolado. “A lei sempre tira partido daquilo que escreve”. A cronologia tem o papel de indicar um segundo aspecto do serviço que o tempo presta a história; ela na verdade, contradiz a possibilidade do recorte em períodos, e a historiografia trabalha para encontrar um presente que é o fim de um percurso longo, na história cronológica.

Onde se estabelece o lugar do morto e o lugar do leitor? Segundo o texto, marcar um passado é dar um lugar a morte, mas ao mesmo tempo, é também redistribuir o espaço das possibilidades, ditar de forma negativa aquilo que está por fazer e por conseqüência, utilizar a narratividade que enterra os mortos, como um caminho de estabelecer um lugar próprio para os vivos. “O que é que o historiador fabrica quando se torna escritor? Seu próprio discurso deve revelá-lo”.

O texto, em se é muito complexo, com citações de vários autores e um tanto repetitivo. No entanto, foi importante estuda-lo, pois fortificou ainda mais a minha crença, na complexidade de opiniões entre os autores historiadores e que cada um possui diferenciados pontos de vista, por vezes, sobre vários assuntos; que divergem entre se, deixando evidente que não existe verdade absoluta e que a interferência do homem na natureza e em tudo que ele se propõe a fazer, causa transformações. No caso especifico de Certeau, a sua projeção aconteceu fora dos muros eclesiásticos, devido a revolução estudantil de 1968, que ao contrário de muitos intelectuais, Certeau simpatizou com as reivindicações dos estudantes, com as suas inconformações. Ele assim percebeu elementos para um novo paradigma e quis romper com a dicotomia, teoria
prática e com a percepção despolitizada dos sábios.

A dialética do corpo social com a história possibilita a compreensão com a prática historiográfica contemporânea, que não visa mais uma história total e
ou global, mas trabalha nas zonas silenciosas, nas margens... Liga ao mesmo tempo, o real à morte, pois o presente e pretérito estão interligados, no momento em que, mesmo no presente, o historiador através de objetos, artefatos diversos, história oral, etc, convive com o passado. Portanto, a força histórica deve ser buscada através da realidade, organizado pela epistemologia. Contudo, a história como disciplina, ou ciência, deve ter sempre um poder crítico, assim como também possuir finalidade de cunho social.





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