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Contos-->Morte Imortal - Conto I -- 18/08/2002 - 00:14 (Raquel Murakami) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O que é a morte? O que sabemos dela? Ela passa a ser um fato incondicional para todos quando nascem, mas a verdade é que ninguém pode controla-la. Tentamos estar acima dela, com lendas, histórias, mas na verdade somos escravos dela. Quando um homem morre, seu corpo perde as funções e começa a se deteriorar. As pessoas próximas a ele choram, pois sabem que não mais o verão nessa vida A verdade é que eles têm medo de nunca mais poderem encontra-lo novamente.
Para onde vai o nosso espírito quando morremos? Para o inferno? Para o céu? Ou iremos para Hades para sermos julgados pelos três juízes? Ou então desapareceremos como poeira, desfazendo-se em milhares de invisíveis partículas? Talvez fiquemos vagando no mesmo mundo, junto com os vivos. Mas todas essas idéias não passam de suposições das pessoas que tem medo.
Não sabendo o que há depois da vida, as pessoas encaram a morte com muitas faces. A face do medo, do espanto, da dor, da resignação, da coragem, da religião, da raiva. Mas todas essas faces estão encaminhadas ao mesmo destino, independente de suas reações. Nenhuma dessas pessoas volta para o mundo dos vivos, então não sabemos como elas voltariam, caso acontecesse. O que seria viver a morte?
Para destruir a nossa curiosidade, passo agora a uma narração que irá contar a vida após a morte (sim, é uma das histórias que não passam de meras suposições). Pois alguém cruzará a linha entre a vida e a morte e passará a nos mostrar o que há na terra onde a morte não existe.


Reno abre os olhos como se tivesse acordado de um pesadelo. De fato tinha. Acordara de um pesadelo que se passava junto com os bandidos da favela. Mas agora parecia tudo tão diferente... Que paisagem mais árida! Ele estava todo sujo e nu em meio à areia que parecia pertencer a um enorme deserto. Estava claro e quente, mas o Sol não era detectável em lugar nenhum. O céu, embora luminoso, era cinza. Era como se tudo fosse coberto por uma enorme camada de fumaça ou tristeza. E para que não pudesse dizer que o local era a pura monotonia, havia escorpiões, cobras e insetos por toda a parte.
Espantado, Reno tenta se levantar, em vão. Sente vertigem, uma dor invade sua cabeça na nuca e ele volta a sentar-se. Apesar da confusão, sabia qual era a razão da dor. Havia levado um tiro na nuca de um dos seqüestradores. Coloca a mão sobre o local do ferimento, mas não encontra absolutamente nenhum rasgo. Olha para a mão à procura de sangue e nada...
“Mas... E o tiro?”
Seus pensamentos rodavam com as lembranças, o som tão claro em seus ouvidos. Tinha recebido aquele tiro com certeza!
“Ora, quem diria! É difícil encontrar um cara tão forte quanto você!”
Reno olha em direção à voz e logo seus olhos são tomados pela expressão de horror. Era uma jaula de metal em que mal cabia uma pessoa de pé. Uma figura humanóide mexia-se sem parar, enquanto era vestido de milhares de escorpiões sobre o corpo, deferindo picadas. Parecia como se os escorpiões estivessem tentando come-lo, porém, sem conseguir. O braço do desconhecido move-se e livra o rosto de alguns escorpiões, revelando uma face coberta de sangue e de ferimentos envolta de olhos castanhos escuros, nariz torto e dentes amarelos.
“Não fique assustado, meu chapa! Isso é só um castigo de leve. Andei roubando um pouco da carne, sabe. Deveria experimentar um pouco dos dinos, ia adorar!”
Sem acreditar, Reno esquece a dor em sua nuca e se levanta, caminhando alguns passos em direção ao homem coberto pelas horrendas criaturas, mas ainda mantendo uma respeitável distância.
“Você... Precisa sair daí, senão vai morrer!”
“Morrer?” O homem lança um olhar insano e gargalha ruidosamente. “Morrer?!! Hahahahahaha!!!! Que morte, cara?! Somos deuses! Estamos livres dessa maldição de morte! Por que eu perdi tanto tempo no mundo dos vivos, com medo de morrer?! Agora, que sou um deus?! Amigo, você ainda tem muito a aprender!”
“Deus? Como pode ser um deus estando desse jeito?”
O homem volta a limpar o rosto dos escorpiões sorrindo maliciosamente:
“Simples, cara. O que os homens diferem dos deuses? Apenas a imortalidade, não? Pois agora somos deuses, cara, somos imortais! Eu posso ajuda-lo. Se me tirar aqui, poderei ensina-lo a viver como um deus.”
Reno olha por uns instantes, mas logo recua. O homem não era de confiança, não se podia saber o que ele era capaz de fazer, e Reno optou pela cautela.
“Não posso. Diz me ensinar como ser um deus, mas olhe pra você. Não quero ficar assim. Adeus.”
Dando meia volta, o recém-morto se afasta a lentos passos na direção oposta. O homem na jaula adquire uma face séria, desta vez:
“Não poderá ir a lugar nenhum, cara! Sabe-se o que terá atrás dessas dunas! Você acabou de morrer, como acha que vai se virar assim?! Se for nessa direção, irá se arrepender! Eu estou avisando e juro por minha imortalidade que é verdade! Você vê alguém mais por aqui? Apenas eu posso te ajudar, cara! Apenas eu!”
“Sinto muito. Mas se sou imortal, então terei uma eternidade pra descobrir se o que você diz é verdade.”
“Seu imbecil!! Se você for por aí será tarde demais!! Volte!!”
“Você só está interessado em minha ajuda.”
“Não é verdade, cara! Por favor!”
Reno obscurece sua mente, tentando ignorar as palavras do sujeito preso na cruel jaula. ‘Ele deve estar cumprindo um castigo merecido.’
“Ei, cara, cuidado!! Eles estão vindo! Fuja!!”
Reno olha para trás e enxerga apenas o homem preso. Certo que fosse apenas um blefe, acena para o outro, rindo:
“Está certo, já estou indo!”
“Não, cara, falo sério, preste atenção, ouça!!”
Reno pára e concentra seus ouvidos. Na direção em que caminhava, ouve um leve tropel que vai se tornando mais forte. Antes que pudesse se dar conta, uma enorme multidão de soldados corria em sua direção bradando com lanças e espadas. Em um impulso, Reno volta correndo assustado para o homem na jaula.
“Rápido, cara! Livre-me daqui e nos esconderei! Não se importe com os escorpiões! Eles não podem te matar!”
Reno enfia a mão nervosamente na tranca tentando encontrar a chave para abri-la. Sua visão era interceptada pelos escorpiões, que deferiam inúmeras picadas sobre seus dedos. Sentia seu corpo inteiro ser paralisado em dor, quando encontrou a chave do lacre. Juntando a força na imortalidade, abriu a jaula e o homem preso pulou para fora, agarrando seu braço e fugindo dos soldados que se aproximavam cada vez mais.
“Só existe uma maneira de escaparmos, cara!”
O homem correu, derrubando os últimos escorpiões que insistiam em continuar pendurados em suas roupas rasgadas. Reno e ele cruzam uma duna mais alta, ocultando-os da visão dos soldados e, imediatamente, o homem da jaula se joga em um buraco na colina, tentando se cobrir com a fina areia.
O mar de soldados logo sobem a duna e a algazarra oculta ainda mais os dois. Os soldados começam a cavar tentando encontra-lo, e o homem apenas reza para que fossem embora. Reno, confuso, compartilhava o mesmo nervosismo, apesar de não ter idéia do porquê de estar sendo caçado, e se aquele homem realmente desejava ajuda-lo. Os dois tentavam cavar discretamente mais a areia pra irem mais ao fundo, e por sorte, tal tática funcionou, pois os soltados não estavam cavando muito para procura-los, antes de desistirem e recuarem.
Logo que se viram livres, os dois se levantaram e respiraram. O homem lançou um olhar sarcástico para Reno.
“Então, não disse que estava indo?”
“Desculpe. Acho que estou te devendo uma. Mas por que aqueles homens estavam atrás de nós?”
“Não eram homens.”
“Espere, está dizendo que eles eram aliens? Não espera que eu vá acreditar num absurdo desses?”
“Está bem, não acredite. Basta que você saiba que eles são perigosos.”
“Como assim?”
“Hey, cara! Foi você mesmo que disse que não queria a minha ajuda, não foi? Não devo nada a você, estamos quites. Então vá embora.”
O homem vira as costas e se afasta. Reno, desorientado, segue-o.
“Espere, por favor.”
O homem pára e dá uma risada alta:
“Você queria saber porque eu sou um deus? Veja só, aqui estamos nós no meio do deserto. Você, despido e desnorteado depende de mim para achar uma segurança na imortalidade! Hahaha, agora quem é o deus? Vamos, me diga!”
Reno sente-se um tanto quanto ofendido, mas esquece e sorri:
“Você é o deus.”
“Repita, cara, gostei!”
“Você é o deus!”
O homem solta outra gargalhada, desta vez mais alta e mais insana, antes de voltar a caminhar:
“É isso mesmo, cara. Eu sou um deus, mas você também é. Somos imortais. Não mais viveremos o medo da morte! O grande Santos vai virar esse inferno de pernas pro ar!”
“Santos? Você não parece ter cara de nenhum santo!”
“Por acaso já viu algum para confirmar?”
“Não preciso ver um para saber disso.”
“Bem, mas nem vendo você admite que existem aliens! Qual é o seu nome, infeliz?!”
“Sou Reno.”
“Reno, certo? Bem, ‘Rena’, vamos fazer uma visita ao Papai Noel, você nem imaginava que ele já tivesse morrido, hein?”
Reno cobre os olhos com uma das mãos, frustrado. Que diabos de sujeito era o Santos?! Ele ainda se perguntava se fizera mesmo um bom negócio permanecendo com aquele louco, quando uma outra questão surgiu a sua frente.
“Ei, Santos,que tipo de inferno é esse e por que você disse que eu era forte quando acordei?”
“Bem, cara, vou responder na ordem. Esse é o inferno. Você sabe qual a diferença dele com as nossas vidas vivos? Bem, são duas principais. A primeira você já conhece, é que somos imortais. A segunda é que o inferno é infinito. Apenas um espaço infinito é detentor da capacidade de arcar com todos os mortos do universo. Mas essas duas diferenças ocasionam diversas outras diferenças, cara. Umas boas, outras ruins. Uma das coisas que adoro são as carnes dos dinos. São muito saborosas!”
“Os dinossauros andam livres por aqui?”
“Oh, não, cara! Eles só servem pra nos alimentarmos. Você sabe, cara, que como os animais e as árvores não morrem mais, temos matéria prima e energia infinitas aqui! Você nem imagina as belezinhas desse mundo! Agora, você quer saber por que eu disse que você era forte?”
“Sim.”
“Bem, é porque você é, meu. Você morreu com uma pancada na nuca, não foi? Acordou sentindo a pancada aqui. Mas nela não existe nenhum ferimento exposto. Quer dizer que apesar de seu corpo ter levado um choque mortal, seu espírito não foi ferido. Você foi morto, mas não ficou abalado com sua própria morte. Agora eu pergunto: por quê, cara?”
Reno olha para a paisagem. O céu acinzentado, sem esperança, sem vida e não sentiu a mínima diferença. A única diferença é que ele agora sabia que não ia mais morrer. Apenas isso.
“Muito simples. Meu desejo foi realizado.”
“Ah, saquei! Você é do tipo que tem um objetivo de vida, não é? E qual foi seu objetivo?”
“Não, não um objetivo. Só que agora eu tenho tudo que sempre desejei.”
“A morte?”
“Não. O Nada.”
Santos fica mais uma vez sério. Que cara chato! Os dois continuam caminhando vagarosamente para mais algum lugar no infinito do inferno, sem saber o que o futuro lhes reservava, mas sem futuro. Esperando não serem caçados novamente, mas sem esperanças. Sorte, azar, que diferença faria? Aquilo sim era um verdadeiro inferno.
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