Ele olha prá cima e vê o céu azul.
Nenhum pingo de chuva, pôr que?
Pensa o sertanejo fazendo uma pergunta,
Depois de plantar sem esperança de colher:
Dá paciência prá nós cá de baixo
Prá ver se podemos isso suportar,
Lastima o caboclo mas pensando em silêncio:
Deus sabe o que faz, não devo reclamar.
Vejo a mulher vivendo de esperanças
Achando que a vida é mesmo um desafio,
Porque o filho com fome, puxa seu peito
Que de nervoso chora porque está vazio.
No pé da jurema está saindo uma flor
Milagre de Deus, vejo do terreiro,
No mesmo galho o uirapuru está cantando
Um piado triste de um pássaro seresteiro.
O céu azulado no horizonte treme
Do sol que bronzeia o caboclo queimado,
Que saiu a plantar neste inferno quente
Um pouquinho de comida no chão esturricado.
Este chão quente enche o pé do caboclo
De bolhas que dói a cada passo que dá,
A enxada vai raspando o lajedo duro
Machucando os calos, nada pode plantar.
A noite responde com seu grito forte,
É a morte rondando o sertão amarelo.
Já não vejo a flor no pé da jurema
Prá enfeitar o corpo de um defunto magrelo.