Da Experiência do Pensar *
“Nós nunca chegamos aos pensamentos. Eles vem a nós.
É a hora conveniente para a conversação.” Martin Heidegger
O local para o bate-papo chama-se Casa Velha, nome este facilmente constatável pela decoração, num olhar desinteressado percebem-se, de imediato, objetos artisticamente envelhecidos caracterizando o local e dando-lhe aroma caseiro.
É nesta Casa que se realizam mensalmente os encontros do que foi denominado Filosofia na Rua do Porto. Projeto que tem como escopo um espaço aberto para discussões e descontrações filosóficas, longe dos muros acadêmicos e mais próximos das margens do Rio Piracicaba.
O grupo principia sua chegada. A luz do crepúsculo, irrompendo em alguma parte da folhagem mais alta, doira nossos corpos, trazendo um quê de amarelo à paragem. Dá-se início ao simpósio.
Dois participantes, previamente convidados, abordam o tema com seu olhar peculiar, destes primeiros discursos, continuamente atento a sempreocupação academicista, lançam-se as primeiras discussões, visando seu rebate ou apontando para outras perspectivas.
Ao início da conversa a lume, dum amarelo-dourado, torna-se opaca: os olhos perdem sua utilidade, cedendo lugar às idéias, torna-se necessário bispar com outra luz, quiçá racionalmente.
O projeto “Filosofia na Rua do Porto”, gestado no imo do Curso de Filosofia da UNIMEP, tem por finalidade realizar e provocar debates a fim de se discutir temas voltados ao cotidiano, quais sejam, o prazer, o outro, o erótico ou a ética; buscando uma melhor compreensão dos mesmos e suas relações com nossa existência e cotidiano.
Dentre os participantes encontramos representantes das mais variadas áreas do saber, este é o local indicado para um médico discutir o desejo, para um político falar da alteridade, ou ainda, para um passante, longe dos corredores institucionais, discutir o prazer. Este bapo-de-boteco, longe de ser um Café Filosófico com suas nuances elitistas, visa discutir-se filosofia em um local marcadamente popular, aberto a todos os interessados em debater temas concernentes à existência. Trata-se de um espaço informal, à moda epicurista, onde cada qual tem a liberdade e a oportunidade de se expressar, expondo sua cosmovisão, seu olhar e postura diante da realidade massificadora e sufocante onde os que optam em não reverenciá-la vêem-se à volta de autômatos, cabendo-lhes recolher-se na solidão. É neste espaço que cada qual pode alcançar sua autenticidade, onde encontramos outros para nos ouvir, ou ainda, nos apontar novas perspectivas. É onde sentimos a experiência do pensar fluir por todo nosso corpo. Eis sua finalidade.
Taitson Santos
* Texto publicado em "SINPRO Cultural": Caderno de Cultura dos Professores de Campinas e Região. Ano VII, nº 45, outubro de 2000.
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