“Filhas de Jerusalém, pelas cervas e gazelas do campo, eu conjuro vocês: não despertem, não acordem o amor, até que ele o queira!”
(Ct 3, 5)
Ela revirava de um lado para o outro. Seios túrgidos, sexo umedecido, seu estado de tensão e preocupação impedia que o sonos se aproximasse a se apoderasse de seu ser. Pensava nele, urgia encontrá-lo a qualquer momento. Não sabia o que pensava ou queria. Não podia imaginar se era o objeto de desejo daquele homem, o amado de sua alma. Espalhada pela cama solitária, tentava se acalmar, sem muito sucesso.
Levantou-se, calçou chinelos de pelúcia. De camisola decidiu sair pelas ruas, tentando encontrar o amado de sua alma. A Lua Cheia e túrgida como um seio excitado iluminava a noite, as praças, as ruas, os bares, os bordéis, por onde ela passava. Nenhum sinal de seu amado. Pelas casas, a hora avançada, roncos de sono ecoavam.
Decidiu perguntar aos ébrios, aos traficantes, às meretrizes, aos vadios e aos boêmios onde estaria o amado de sua alma. Depois se dirigiu aos insones, aos poetas, às artistas, a um grupo de atores que saia de um teatro vazio. Por fim, caminhou rumo a uma viatura policial, parada em frente a uma padaria vinte e quatro horas, onde ele estaria.
Desiludida e sem esperanças, resolveu vagar pelas veredas da cidade, pensando no amado de sua alma. E assim fazendo, encontrou-o, em meios às trevas da noite e à luz do sódio. Nada disse. Agarrou-o, abraçou-o, beijou-o. Levou-o consigo até sua casa, ofereceu sua cama, onde durante todo resto da madrugada fizeram o amor que tanto desejavam.
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