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Contos-->o estado e a revolução -- 18/08/2002 - 14:19 (Paulo Belushi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
o estado

Lá estava o militante revolucionário dando o seu depoimento. À sua frente, o senhor delegado da polícia federal. Atrás dele, um agente do serviço de inteligência.
— Afinal de contas, perguntava o delegado, você organizou ou não uma ação contra o estado?
— Não sei do que você está falando?
O delegado sorriu cínico. Deu uma tragada em seu cigarro forte e cheio de alcatrão, e comentou:
— Então o menino não sabe do que estou falando?
— Sinceramente, senhor delegado, não sei.
O agente se aproximou, olhou bem dentro dos olhos do militante, e depositou sobre a mesa um envelope cheio de papéis. Quando o militante olhou para a mesa, gelou.
— Ah, agora você começa a saber, não é? provocava o delegado, enquanto sustentava na cara aquele mesmo sorriso cínico.
— São documentos de debate de minha organização.
— O que dizem estes documentos?
— Dizem respeito às nossas opiniões. Este país tem liberdade de opinião, não tem?
O delegado olha para o agente. Este se aproxima novamente, e novamente olha dentro dos olhos do militante, e desta vez lhe dirige a palavra:
— Desde que estas opiniões não signifiquem o fim do estado. E é isto que está escrito nestes papéis.
— Absolutamente! Nestes papéis existe a defesa de uma reformulação do estado. Não de sua dissolução.
— É a mesma coisa!
— Definitivamente não é!
O delegado toca os ombros do agente, que se afasta, nervoso. Tranqüilo e sem perder o sorriso cínico que o acompanha desde o começo, segue o interrogatório:
— Estes documentos defendem a derrubada do governo...
— Defendem que este governo ao tem condições de administrar decentemente o país.
— Pois então! Se não tem condições, tem que acabar, não é certo?
— Não necessariamente. Haverão novas eleições em breve.
— Mas desde já vocês incitam o povo a desconfiar do governo. Ou seja, por vocês este governo acaba agora.
O militante fica quieto. O delegado dá uma nova tragada em seu cigarro, e espalha pela sala o forte odor de alcatrão. Depois, andando de um lado a outro, lê atentamente as propostas de reformulação que a organização fazia em relação ao estado. Por fim:
— O que eu falei não está correto?
— Sim senhor. Está.
— Agora, ao fim e ao cabo destas reformulações, o que teríamos é um novo estado no lugar do velho, não é?
— Sim senhor, é isto mesmo.
— Mas se o novo estado ocupa o lugar do velho, o que acontece a este?
— Acaba...
— E o velho estado é o que nós temos! Você acaba de confessar que quer acabar com o estado! E ainda começa seu depoimento declarando que não, não sabe do que estamos falando... Estamos falando de uma ação organizada para acabar com o governo e com o estado. Exatamente o que você acaba de confessar!
O militante chora. O agente se aproxima, pega o telefone e chama a segurança:
— Tirem este homem daqui!

a revolução

Lá estava o militante revolucionário dando o seu depoimento. À sua frente, o senhor dirigente da comissão de moral. Atrás dele, um camarada de partido.
— Afinal de contas, perguntava o dirigente, você organizou ou não uma ação contra o partido?
— Não sei do que você está falando?
O dirigente sorriu cínico. Deu uma tragada em seu cigarro forte e cheio de alcatrão, e comentou:
— Então o menino não sabe do que estou falando?
— Sinceramente, companheiro, não sei.
O camarada se aproximou, olhou bem dentro dos olhos do militante, e depositou sobre a mesa um envelope cheio de papéis. Quando o militante olhou para a mesa, gelou.
— Ah, agora você começa a saber, não é? provocava o dirigente, enquanto sustentava na cara aquele mesmo sorriso cínico.
— São documentos de debate de minha tendência.
— O que dizem estes documentos?
— Dizem respeito às nossas opiniões. Este partido tem liberdade de discussão, não tem?
O dirigente olha para o camarada. Este se aproxima novamente, e novamente olha dentro dos olhos do militante, e desta vez lhe dirige a palavra:
— Desde que estas opiniões não signifiquem o fim do partido revolucionário. E é isto que está escrito nestes papéis.
— Absolutamente! Nestes papéis existe a defesa de uma reformulação do partido. Não de sua dissolução.
— É a mesma coisa!
— Definitivamente não é!
O dirigente toca os ombros do camarada, que se afasta, nervoso. Tranqüilo e sem perder o sorriso cínico que o acompanha desde o começo, segue o interrogatório:
— Estes documentos defendem a derrubada da direção...
— Defendem que esta direção ao tem condições de administrar decentemente o partido.
— Pois então! Se não tem condições, tem que acabar, não é certo?
— Não necessariamente. Haverão novas eleições em breve.
— Mas desde já vocês incitam a base a desconfiar da direção. Ou seja, por vocês esta direção acaba agora.
O militante fica quieto. O dirigente dá uma nova tragada em seu cigarro, e espalha pela sala o forte odor de alcatrão. Depois, andando de um lado a outro, lê atentamente as propostas de reformulação que a tendência fazia em relação ao partido. Por fim:
— O que eu falei não está correto?
— Sim, companheiro. Está.
— Agora, ao fim e ao cabo destas reformulações, o que teríamos é um novo partido no lugar do velho, não é?
— Sim, companheiro, é isto mesmo.
— Mas se o novo partido ocupa o lugar do velho, o que acontece a este?
— Acaba...
— E o velho partido é o que nós temos! Você acaba de confessar que quer acabar com o partido! E ainda começa seu depoimento declarando que não, não sabe do que estamos falando... Estamos falando de uma ação organizada para acabar com a direção e com o partido revolucionário. Exatamente o que você acaba de confessar!
O militante chora. O camarada se aproxima, pega o telefone e chama a segurança:
— Tirem este homem daqui!
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