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Contos-->Quando O Inverno Acabar -- 19/08/2002 - 11:13 (Iracema Zanetti) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Operação Tartaruga
Iracema Zanetti

Parte I

Dezembro, véspera do dia de Natal, calor insuportável!
Aeroporto da Pampulha,Belo Horizonte!
Uma moça, muito bonita, esperava embarcar no vôo das doze horas
e quinze minutos, com destino a São Paulo, Aeroporto de Congonhas.
Onde seu marido e os quatro filhos estariam a sua espera.
Ao entrar na sala de embarque despediu-se dos sobrinhos.
Como tudo parecia correr normalmente, os rapazes voltaram para casa.
A sala de embarque lotada, sem ar refrigerado, nem mesmo um
ventiladorzinho de teto, para refrescar um pouco!
As portas de acesso às pistas de pouso, por ordem dos dirigentes
do Aeroporto das companhias aéreas foram abertas devido ao imenso calor.
Policiais e funcionários, postados frente a elas, mantinham a ordem, a segurança e pediam calma a todos.
Duas horas já se haviam passado.
De repente, os alto falantes anunciaram que os vôos
estavam suspensos por tempo indeterminado.
A moça, contrariada, saiu da sala à procura de um telefone.
A fila estava imensa, ela esperou sua vez pacientemente.
Ligou para a casa da irmã, um dos sobrinhos atendeu.
Pediu-lhe, caso o marido ligasse, para avisá-lo
que não havia previsão de hora para seu embarque,
devido à "Greve Branca" com a alcunha de "Operação Tartaruga,"
isto é: lenta, irritante e sem explicação do motivo, aos passageiros.
O sobrinho prontificou-se ir ao aeroporto fazer-lhe companhia
até a normalização dos vôos.
A tia agradeceu dizendo não ser necessário, se precisasse tornaria a ligar,
despediu-se e desligou.
Comprou uma revista, procurou um lugar vago para sentar, afim de folheá-la.
Não encontrando, guardou a revista na bolsa e dirigiu-se à lanchonete,
horrorizando-se com o tamanho das filas dos caixas.
A lanchonete em pé de guerra!
Todo mundo reclamando querendo ser atendido.
Um senhor, em estado visível de nervos, disse ao balconista que o ignorava:
Agora é minha vez!
Pára de fingir que não está me vendo.
Não se atreva a atender mais ninguém na minha frente, seu imbecil!
O balconista cansado e irritado pelo movimento intenso da lanchonete,
vermelho de raiva respondeu: __Olha aqui velho, não é por respeito
que não vou dar-lhe o troco, é para não perder o emprego.
Falou e saiu dali indo para a outra ponta do balcão.
O garçom mais próximo presenciou a cena sentindo o tempo quente,
aproximou-se do senhor dizendo: __ Cavalheiro... tem pressa não...
está todo mundo nervoso, mas hoje, ninguém perde o avião.
Deu tartaruga na cabeça, aqui na Pampulha.
A moça desistiu de esperar, saiu da fila e entrou numa loja de chocolates.
Comprou logo uma caixa de bombons, comia-os compulsivamente, ignorando os olhos e os sorrisinhos nada inocentes. Das pessoas que lhe observavam.
Já era noite! Cansada, dirigiu-se à toalete. Lavou o rosto, retocou a maquiagem,
acendeu um cigarro soltando rápidas baforadas.
Estava aparentemente tranqüila, de nada reclamava,
parecia estar em profunda meditação.
Os alto-falantes anunciaram seu vôo, para embarque imediato.
Nessas alturas, a meditação o diabo levou, deixando-lhe somente
uma loucura sem limites.
Jogou o cigarro ao chão apagando-o com a ponta do sapato.
A bolsa, mal fechada, caiu ao chão esparramando todos seus pertences.
Num piscar de olhos, já estava tudo recolhido e guardado,
menos o lápis de pintar os olhos o qual ela não havia visto cair.
Saiu dali tão atabalhoadamente e, sem ver pisou no lápis
que seguiu rolando sob seus pés.
Não sei dizer se ela escorregou, ou rolou com o movimento do lápis.
Só sei que não deu pra segurar, acabou estirada ao chão do toalete.
Ajudaram-lhe a levantar-se.
Manteve-se de joelhos, fez um sinal da cruz dizendo: __ Graças a Deus vou embora!
Adeus linda Pampulha, apesar de sua beleza... eu aqui não volto mais.

Parte II

Levantou-se e saiu correndo, apesar do tombo recente!
Dirigiu-se à sala de embarque, pedindo licença daqui, dali,
até conseguir chegar em frente à sala.
Não tinha como aproximar-se da porta, as pessoas ali aglomeradas
fechavam completamente o acesso à entrada.
Aí, começou o rebú! Ela forçando a barra, empurrava todo mundo dizendo:
Gente, com licença... com licença... saiam da frente, deixem-me passar,
por favor, vou acabar perdendo o vôo.
Uma das moças, de um grupo de jovens, quase esmagada por ela,
reagiu diante daquele ataque dizendo: __ Calma moça!
O que você fazia fora da sala de embarque?
Quem não quer perder o avião não deve ausentar-se dela.
Nós queremos entrar, nem mais há quantas horas e,
não conseguimos e, você que estava lá dentro saiu?
Por quê? Vá procurar sua turma, você pensa que é dona do mundo?
E pare de me empurrar!!!
Com os nervos à flor da pele a moça respondeu: __Sua cretina...
sabe com quem está falando?
__Não sei, e não quero saber, mas sua pouca educação demonstra quem é você.
__Você não quer saber quem sou, não é?
Mesmo assim vou falar: Sou uma cidadã brasileira e exijo respeito.
A outra moça em tom ríspido retrucou:
__Escuta aqui, se está pensando que é a única cidadã brasileira
dentro deste aeroporto está muito enganada.
Ao que a outra, em fúria retrucou:__ Olha, eu não queria falar,
para não parecer esnobe mas você me obrigou: Sou do Poder Judiciário
e vou tomar sérias providências contra você.
A outra riu... escarnecendo-lhe...
__Ahahah... coitada, perdeu de vez o juízo!!!
De repente, as duas enfrentaram-se, só não foi adiante
porque os segurança acudiram a tempo.
Resolvida a situação, foi posta dentro da sala de embarque.
Quanto mais sua raiva aumentava , mais aumentava sua força.
Abrindo passagem com certa fúria, atravessou a sala de embarque
e saiu porta afora... em direção ao avião pousado na pista.
Sapatos muito altos impediam-na de correr como ela desejava.
Não hesitou! Tirou-os quase sem parar de correr, aos tropeções.
continuo a louca corrida.
Livre dos saltos voou até o avião, subiu as escadas de dois em dois degraus
até atingir à porta, onde deparou-se com o comandante e a tripulação.
Assustada, ofegante, rosto banhado em suor gelado,
vermelha de ansiedade e calor, cabelo em desalinho,
parecia ter acabado de escapar de um assalto à mão armada.
O comandante, ao vê-la naquele estado, meio assustado,
mas enérgico, recuou alguns passos, para que ela entrasse.
Sem muita polidez, foi logo perguntando: __Quem deu ordem à senhora
de invadir a pista e tentar subir na aeronave?
Ela olhou bem pra cara dele e respondeu: __Ora... quem deu ordem!?
Anunciaram embarque imediato do meu vôo, uaiii...
queria que eu ficasse parada esperando?
De mais a mais porque tanta pergunta?
Comprei uma passagem, paguei em espécie, isso me dá o direito
de estar e embarcar neste avião.
O comandante com um pouco mais de paciência lhe disse:
__Então, a senhora, agora, por favor, desça e aguarde na sala de espera.
Só saia de lá quando for dada ordem de embarque.
E de preferência, espere as portas serem abertas, e obrigado!
Até ali ela não havia reparado estar o avião sem passageiros.
Pasma, olhou e não acreditou! Chorosa disse ao comandante:
__Não... vocês estão brincando comigo... este não é o meu vôo!
O meu avião já partiu, não é verdade?
As lágrimas rolavam grossas de seus olhos tristes.
O comandante comovido, pediu a comissária de bordo para lhe oferecer
um copo d água.
Ela recusou dizendo: __Obrigada... não quero nada...
só quero ir embora. Embora...!!! Só isso!
O comandante pediu-lhe a passagem, examinou-a e confirmou:
__ Fique calma, está no avião certo, este é o seu vôo.
Fez um sinal à comissária, ela o entendeu.
Carinhosa, pediu que ela a seguisse para acomodar-se em sua poltrona.
O comandante dirigiu-se à cabine, recebendo ordem da torre
de comando, liberando o vôo.
Os outros passageiros vinham da sala de embarque,
para a aeronave, educadamente, sem correria, sem ataques.
Calmos, conversavam e sorriam, deixando o nervosismo pra trás!
À medida que entravam no avião, iam batendo palmas
à moça aprontadora, saudando-lhe, alegremente!
Viram em seu ato de rebeldia, um sinal de protesto,
defendendo seus direitos,
O passageiro que ocupou a poltrona a seu lado, pelo sotaque,
percebia-se ser gaúcho e por sinal... muito bem apessoado,
um homem bonito, elegante, alegre.
Muito calmo ajeitou o sofisticado equipamento de pescaria encostando a vara de pescar à poltrona, por não caber no bagageiro.
De repente... olhou para a moça reconhecendo-lhe!
Em tom de brincadeira perguntou:__ Guria... estás aqui?
Quando te vi naquela carreira quis te pescar, mas a vara não te alcançou!!!
Olharam-se e terminaram rindo, ele com ar sedutor cantava baixinho a música de Belchior: "Quem Tem Medo de Avião."
Voaram, batendo altos papos!
O marido que se cuide!

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