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Artigos-->Dr. T: o mal médico -1 -- 20/09/2009 - 20:19 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O nome dele é Dr. T. E não é o Richard Gere. É o Dr. T, médico da rede pública nas horas em que não está em seu consultório particular no alto da cidade. Se você tiver o azar de depender dos médicos dos postinhos, do P.S. Central ou de qualquer uma das unidades que atendem através do SUS, vai perceber que ele tem um sotaque típico de alguém que nasceu em país hispanoamericano. E é dono de uma antipatia que nada tem a ver com a sua origem, mas está relacionada à falta de vocação para exercer a profissão de médico em sua integridade.

Quando não se é feliz com a vida profissional e não se tem coragem de assumir a inépcia ou o fastio, resta a amargura, dirigida a si mesmo, e a falta de respeito, que atinge o próximo. Pessoas como o Dr. T vivem querendo culpar os outros pelas próprias frustrações. Os outros, no caso do Dr. T são os pacientes que ele é “obrigado” a atender para completar sua renda mensal ou, quem sabe?, apenas para se manter próximo da máfia dos interesses políticos escusos que a saúde pública pode ser. Não sei qual é a exata motivação que mantém o Dr. T como médico, neurologista, do SUS. Sei que ele é um exemplar desses homens de roupa branca e alma nem tanto que reservam os seus fins de tarde para “fazer um favor” ao povo. Alma caridosa!

Você conhece o Dr. T ou conhece alguém que o conhece. Ele começa a atender pelo SUS lá pelas 17 horas, que é horário oficial da consulta. Atender mesmo? 18h30m, coisa normal entre os médicos, que são a única classe de profissionais que tem o direito de atrasar sistematicamente para atender seus clientes. Se você foi persistente, resistente, esperou os noventa minutos de praxe, foi chamado pelo Dr. T com seu típico sotaque castelhano e entrou numa saletinha, você e um acompanhante, para descobrir a causa de certos tremores no braço direito. Você tem, suponha, mais de sessenta anos e foi encaminhado por outro médico de um postinho qualquer para o especialista no assunto: o neuro. Pois bem, Dr. T, o neuro, com a sua peculiar boa-vontade pergunta: “O que foi?”. Essa será a única frase ouvida, na voz do Dr. T, na saleta, pelos próximos quatro minutos dos cinco e meio que a consulta demorará.

Dr. T vai pedir para que você levante o braço direito. Você não vai entender bem. Culpa do sotaque. Essa dificuldade de comunicação deixará Dr. T mais impaciente ainda. Onde já se viu você não entender o que ele diz? Quem mandou você não nascer além da fronteiras lusoamericanas? Ele repetirá a pergunta com irritação. Você fará o que ele pede. Seu braço não vai tremer e você vai dizer, por conta própria, que o membro só treme em repouso. Silêncio A atendente vai entrar na sala, no momento em que Dr. T estará examinando seu braço direito com as mãos, a forçar sem muito cuidado as articulações. A mocinha, muito educada, colocará mais uma ficha sobre a mesa, provavelmente mais um paciente a ser atendido, e Dr. T vai direcionar um olhar de insatisfação para elas, a moça e a nova ficha.

De volta ao seu lugar atrás da mesa, Dr. T fará quatro perguntas, o total de sua anamnese, de olhos voltados para a ficha na qual anota as repostas: Pergunta 1: “Treme mais quando o senhor fica nervoso e quando senhor dorme?” . “ Não sei. Não fico muito nervoso... E moro sozinho.”.Pergunta 2: “O senhor é diabético?”. “Não (Hesitação). Não que eu saiba...”. Suspiro desolado de Dr. T. Pergunta 3: “O senhor tem problema de pressão?”. “Sou hipertenso. Tomo alguns remédios...”. Pergunta 4: “Quais?”. “Tenho aqui as receitas.”

Enquanto, você, com um pouco de lentidão devido aos tremores, pega as receitas, no bolso da calça, Dr. T suspirará de novo como quem diz “vamos logo!”. Segurará as receitas e copiará os nomes dos remédios na ficha. Sacará um bloco com o timbre da Unidade de Saúde. Anotará o nome de um remédio. Baterá um carimbinho, assinará e estenderá o braço para que você pegue a receita, único gesto de doação de Dr. T até o momento. “Você vai tomar esse remédio de 12 em 12 horas. Depois vamos acompanhar para ver como evolui.”

A consulta acabaria aí. Perceba que, até aqui, Dr. T não teria dito a causa do tremor, não teria perguntado nada sobre seus hábitos, perguntas tais como: “Você trabalha com máquinas? Você dirige? Você mora sozinho?”. Digamos que seu acompanhante, talvez seu filho, pergunte: “Mas qual a causa do tremor?”. O Dr. T dirá, como quem comenta o resultado do jogo de ontem: “É... Mal de Parkinson...”. Quando seu acompanhante quiser saber mais sobre a evolução dessa doença, Dr. T irá se irritar de verdade e terminar perguntando: “O que você quer? Temos que esperar para ver como a doença vai evoluindo.”. Dr. T não sentará com você para explicar o que é a doença que ele acabou de diagnosticar, não tomará o cuidado de acalmar seu acompanhante e começará a falar num sotaque ainda mais estranho, típico de que quem usa muito a língua da indiferença e do desprezo.

Dr. T não é um personagem de ficção. É, na vida real, um dos especialistas do SUS. O que está escrito aqui realmente aconteceu, acontece e todos nós sabemos que continuará acontecendo. Na semana que vem, continuarei o desabafo. Será demonstrado que o Dr. T age contra os princípios do SUS (é... o SUS tem princípios.). Quem sabe também dê nomes completos aos bois...

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