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Contos-->O TREM -- 20/08/2002 - 11:42 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Corria o ano de 1851. Eu tinha dezenove anos e trabalhava na casa grande do coronel Luís Bento. Não havia conhecido meu pai e nem minha mãe. Fôramos separados logo depois que nascí. Se você não sabe, naquele tempo nós não tínhamos família. Não podíamos nos agrupar assim como fazemos hoje. O coronel Luís andava sempre pela senzala com o chicote nas mãos. Ele escolhia dentre as muitas de suas escravas e como posso dizer, descarregava no seu lombo, todo ódio que o tomava sempre que vinha da corte.
Ele era alto, branco, barrigudo e bundudo. Tinha cabelos cinza. Seu poder era incontestável. Mas quando fazia um desmando qualquer, e era pego, flagrado, simplesmente distorcia os fatos e usava toda violência que lhe competia para manter sua posição. Ele não era fácil. Sentia uma espécie de prazer mórbido quando separava os filhos das suas mães. Viera de uma família cujos ancestrais tinha parentesco com os traficantes de escravos. Eu ainda era pequena, entretanto, me lembro muito bem: numa ocasião, o coronel, com aquela sua bota de cano alto, preta, e de chibata na mão direita, gritava ao negrinho perdido no emaranhado das ordens que espagia. Nos corredores seus passos ecoavam. Todos se retesavam quando se aproximava. Ele possuía cerca de trezentos negros. Tinha seis ou sete feitores. Era orgulhoso e portentoso. Sua mãe gostava de executar partituras antigas e dela herdara o gosto pela música clássica. Seu entusiasmo era Beethoven. Mas não gostava do concerto para piano n. 5. Tinha pudicícia exarcerbada e seu moralismo obedecia à rabugem com o qual era composto.
Considerava-se um gênio. Supunha que podia manipular as forças sob suas ordens assim como os maestros comandam os músicos sob sua batuta. Mas ansioso, achava que os tempos de cada um não eram importantes. Por isso abolia fases dos procedimentos e almejava fabricar pinga sem antes moer a cana.
Fazia parte da elite que dominava a nação. Tinha um profundo senso de pertencer a uma das classes mais privilegiadas de todas as que compunham o tecido social.
Não gostava das críticas por acha-las imerecidas. Achava que fazia tudo conforme determinavam os costumes e as ordenações.
Naquele tempo rumores davam conta de que a Inglaterra tentava impedir o fluxo de negros para o Brasil. O coronel andava agitado. Havia também um pessoal amalucado que vivia falando em libertação. Mas afinal, e toda aquela fortuna que ele havia investido na escravaria? E todos os impostos que pagara à corte, para ter o que tinha? Quem os devolveria?
Numa ocasião ouvi-o gritando com um dos seus capatazes. Ele dizia: "Esse imperador que tome as rédeas! E que mande prender os jornalistas! Que mande fechar os jornais libertários! Paguei 97$000 réis pelo negro mais barato. Tudo o que tenho devo ao trabalho, pertinência e vigor. Que se cuide esse banana. Esboroaremos o império se nos tirarem a força das obras".
O coronel estava certo. Igual ao avanço dos trens , os fatos sucederam-se no espaço. Trinta e sete anos depois houve a exoneração dos pretos e a substituição da monarquia. Mas antes que isso ocorresse, continuou espancando impiedosamente aquelas pessoas, sem poder adivinhar que toda a fortuna que juntou com maldade e arrogância, nos seus engenhos e usinas de açúcar, traria conseqüências funestas para as gerações futuras. Na memória do povo sofrido o coronel ainda estava com o açoite inclemente nas mãos.


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