De Feola e Lula a Mourinho e Alex Ferguson!
Carlos Claudinei Talli
Dia destes, assisti a uma excelente entrevista com o técnico português José Mourinho, ex-treinador do Porto e Chelsea e atualmente dirigindo a Inter de Milão. E a parte mais interessante foi uma afirmação sua de que para ser um bom técnico de futebol o mais importante não é saber táticas, nem ter um profundo conhecimento de futebol, mas, sim, ser um especialista em Ciências Sociais.
Essa colocação, tomada assim de sopetão, sem uma análise mais apurada, parece uma heresia futebolística. Entretanto, se pensarmos mais com a razão e deixarmos de lado a paixão que freqüentemente cerca este fantástico esporte, ela me parece sensata e cheia de sabedoria. Inclusive, nos fornece subsídios para que voltemos no tempo e entendamos o porquê de alguns técnicos, considerados não tão bons no conceito da maioria dos especialistas, terem dado tão certo.
E rapidamente me vêm à mente dois nomes: Vicente Feola e Luis Alonso Perez, o Lula. O primeiro, técnico da seleção brasileira que conquistou o 1º título mundial na Suécia, em 1958, e o 2º, do Santos de Pelé, que ganhou tudo durante mais de uma década.
E os dois passavam a imagem de que de futebol pouco entendiam. Era freqüente, nos dois casos, surgirem piadas nas rodinhas de futebol, que contavam como eles escalavam os seus times: corria à boca pequena que os dois chegavam no vestiário, separavam a camisa 10, e a davam a Pelé. As outras, eles jogavam pra cima, e quem pegasse, jogava. Na seleção, Feola tinha mais um cuidado: separava também a nº 7, para o Garrincha.
Agora, quase 50 anos depois, pegando um gancho com o técnico Mourinho, acredito que tanto Feola quanto Lula eram, sem ninguém saber, dois excelentes especialistas em Ciências Sociais. Poucos sabiam unir um grupo como eles, e torná-lo vencedor. E, também, segundo os entendidos, poucos conheciam tão pouco sobre táticas de jogo como eles. E a seleção brasileira de 58 e o Santos de Lula, na nossa modesta opinião, foram os dois melhores esquadrões de futebol de todos os tempos, em todo o mundo. Durma-se com um barulho destes!
E a explicação para fato tão inusitado, só agora alguém conseguiu formular. E esse luminar foi o técnico José Mourinho.
O excelente técnico português também disse que não gosta de lidar com ‘galácticos’, numa clara alusão ao plantel do Real Madri de alguns anos atrás. Ele prefere comandar jogadores que sejam ‘apenas’ excelentes profissionais.
Numa dessas transmissões de jogos de um campeonato europeu, um comentarista esportivo saiu com uma definição interessante sobre como joga o time comandado pelo técnico Mourinho. Aliás, essa frase há muito tempo faz parte da história do futebol brasileiro: ‘O time do Mourinho se defende como time pequeno, e ataca como time grande’. E essa é uma daquelas colocações lapidares que, como poucas, melhor define esse jogo maravilhoso chamado futebol. Nada de táticas mirabolantes, de 4-4-2, 3-5-2, 4-3-2-1 etc. Simplesmente, defender como time pequeno, e atacar como time grande!
Modernamente, eu considero José Mourinho e Alex Ferguson – inclusive, o técnico escocês do Manchester United, com o seu jeitão bonachão, não lembra um pouco tanto o Lula quanto o Feola? - os mais completos técnicos de futebol em todo o mundo. Eles aliam um profundo conhecimento de Ciências Sociais - como o Feola e o Lula -, com uma admirável noção de planejamento tático.
Mas, pasmem, a grande ‘novidade’ que esses dois excelentes treinadores geralmente conseguem implantar em seus times, e que se torna o grande diferencial, é exatamente o velho ‘defender como time pequeno, e atacar como time grande’. Apenas isso, ‘meu caro Watson’. Agora, conseguir isso, aí já são outros quinhentos...
Mas, eu pergunto: o futebol é ou não é simples?
Em contrapartida, os motes que a maioria dos outros ‘treineiros’ utilizam para vender os seus respectivos peixes são: ‘vamos plantar dificuldades para colher facilidades!’ ou ‘se podemos complicar, porque simplificar’?
E o futebol dos times desses `treineiros` se torna esse jogo chato e burro que a quase todos causa enjôo... |
